Ocupação 'Copa do Povo' segue em terreno próximo da Arena Corinthians


Créditos: Gabriel Quintão

“A minha Copa do Mundo é isso aqui”, afirma Zelído Barbosa, 43 anos, um dos coordenadores do MTST, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, em conversa com o Virgula Esporte ao falar sobre o terreno particular próximo da Arena Corinthians, ocupado há um mês por mais de cinco mil pessoas. Faltando pouco menos de uma semana para o início da Mundial, em Itaquera, bairro que receberá o jogo entre Brasil e Croácia, às 17h, o representante do movimento criticou a forma como a população da Zona Leste foi tratada durante o período de preparação para o evento.

“Não vamos torcer contra a Seleção Brasileira. São coisas diferentes. Estamos apenas lutando pelos nossos direitos. Somos da região e o local é próximo de onde acontecerão os jogos da Copa. Ninguém aqui vai ver os jogos no estádio mesmo. Não é uma Copa do Povo e nem para o povo. Assistir na TV, mesmo sendo um Mundial aqui ou na Alemanha, para nós, é a mesma coisa”, afirmou Zelídio, porta-voz de um dos oito grupos de divisão do terreno, que tem mais de 150 mil m² e está com seus espaços divididos em blocos que vão de A a H, como uma espécie de controle de censo.

Sobre como está a atual situação jurídica do caso, Zelídio revelou que nada deve mudar nos próximos dias e que, inclusive, a ocupação permanecerá durante a Copa do Mundo de 2014. Um quadro diferente desse é até possível, segundo ele. Porém, quase impossível.

“Vamos ao fórum de Itaquera no dia 16, quando teremos uma resposta oficial e esperamos resolver a situação. Enquanto isso, tudo ficará como está, inclusive no dia da aberturada Copa. Só vai mudar algo se o Plano Diretor do Terreno for aprovado. A votação acontece nos dias 10 e 11 de junho. Se tivermos uma resposta positiva, muita coisa muda. Queremos, contudo, algo no papel, assinado, nada de coisa apalavrada”, finalizou um dos líderes do MTST e responsável por batizar o local de Copa do Povo*. 


Zelído Barbosa (esq.) e Leandro Nascimento cuidam de um dos setores do terreno

Espécie de braço direito de Zelídio na ocupação, Leandro Nascimento (foto acima), de 31 anos, morador do local, falou que a situação no terreno é de plena tranquilidade e que o convívio com quem vai até o espaço é de respeito mútuo.

“Temos aqui um respeito com todos. Vizinhos, policiais, governantes. Estamos apenas em busca dos nossos direitos. Aqui todo mundo se ajuda e as coisas funcionam. Sobre a Copa, até bandeira do Brasil temos aqui. Vamos torcer, lógico. Sabemos dividir as coisas. Só gostaríamos de uma Copa em um país com moradia e saúde pública descente”, enfatizou o morador, que estava em cima de um dos muros do terreno e convidou a reportagem para conhecer o local (veja nosso tour pelo terreno na galeria acima)

Sandoval Bispo, funcionário público de 51 anos e morador da Rua Malmequer do Campo, localizada ao lado do terreno particular invadido, é favorável ao movimento dos ocupantes e deixou claro que as pessoas que moram ao redor do local vivem em plena harmonia com os novos inquilinos.

“Olha, para mim eles não causam problema nenhum. Na verdade, tivemos uma reclamação no primeiro dia, mais pelo susto e pelos carros que chegaram. Agora, contudo, está tudo em paz. Eles recolhem o lixo direitinho e gente até bate um papo pelo muro”, afirmou.

Rua Malmequer do Campo passa ao lado do terreno ocupado e termina no Planetário do Pq. do Carmo

Totalmente demarcado com áreas e barracos, que são registrados com os nomes dos moradores e os números de setores, o terreno Copa do Povo funciona exatamente como todas as outras ocupações do MTST. Bandeiras vermelhas sinalizam os locais de cozinhas comunitárias e banheiro, enquanto que as casas centrais servem de moradia e as mais distantes e localizadas em barranco, apenas para demarcação de proprietários futuros.

Nomes dos moradores que ficarão com o futuro espaço serão colocados em placas nos barracos

Desempregado e com os estudos ainda a terminar, Alberto Figueiredo, de 18 anos, trabalha dentro do alojamento do MTST como uma espécie de auxiliar dos coordenadores. Com a responsabilidade de realizar trabalhos rápidos de entrega e ajustes nos calendários de avisos, o jovem culpa a alta dos preços no aluguel pela revolta de parte da população de Itaquera e região.

“O aluguel aqui em Itaquera ficou muito caro por conta da Copa. Antes pagávamos R$ 350 por um imóvel de dois cômodos. Hoje, você não consegue nada por menos de R$ 750. Está difícil pra gente, cara”, desabafou. 

Alberto Figueiredo, 18 anos, trabalha dentro do alojamento do MTST

Déficit de moradia e detalhes de votação do Plano Diretor

De acordo com informações divulgadas pela Prefeitura de São Paulo, a capital possui um alto índice de décit de moradia, precisando de 230 mil imóveis para acabar com o problema de habitação. Isso porquê 890 mil famílias vivem em assentamentos precários, como imóveis irregulares ou em áreas de risco.

O prefeito Fernando Haddad, após a invasão no terreno particular, que aconteceu no dia 2 de maio, já admitiu que pretende regularizar o local. O político disse que a área pode ser cedida aos moradores temporários caso o dono do local tenha dívidas de IPTU.

A aprovação em primeira votação aconteceu no mês passado e uma nova votação acontecerá nos próximos dias. Enquanto isso, o cenário do local será o mesmo que pode ser visto na foto abaixo.

*Copa do Povo: todo tipo de ocupação do MTST é nomeada de uma forma e, segundo Zelídio, a ideia de por Copa do Povo surgiu por conta da divulgação maior que o nome teria durante a disputa do Mundial de 2014 no país.


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‘Minha Copa é isso aqui’, diz líder de invasores de terreno próximo ao Itaquerão