Veja quanto cada atleta do UFC perde para a pesagem
Créditos: Divulgação/UFC
Se você acha que os lutadores de MMA sofrem muito com chutes na cara, joelhadas na barriga e estrangulamentos, saiba que esses atletas travam uma batalha ainda maior antes de enfrentar um adversário: a luta contra a balança nos dias pré-combate. Os atletas de Artes Marciais Mistas perdem, em média, dez quilos uma semana antes da pesagem oficial. Anderson Silva, campeão dos médios do UFC, chega a perder incríveis 16 quilos. Para isso, encaram uma dieta digna de top model. “A primeira luta é a luta do peso”, garante o meio-pesado Rafael Feijão, lutador tido como um dos atletas que tem mais facilidade para emagrecer.
Mas, quem se animar achando que então basta seguir a “dieta MMA” para perder aquela barriguinha de chope em uma semana, precisa saber que não existe nenhuma fórmula mágica seguida pelos lutadores. Acompanhados de preparador físico, nutricionista, médicos e até psicólogos, os atletas enfrentam, dias antes da luta, uma dieta espartana que, na essência, provoca a perda de muita água. E, portanto, logo após a pesagem, recuperam praticamente quase todo o peso perdido num processo de re-hidratação. O cardápio é basicamente composto de proteínas e água destilada (que pode provocar diarreia e desidratação). Especialistas alertam que esse “efeito sanfona” oferece riscos à saúde.
“O peso da balança é surreal. Ali o lutador está sem energia, sem nutriente, sem carboidrato, sem nada. Ele faz aquilo só pra bater o peso, depois você recarrega esse cara para ele voltar para a vida real dele – no peso saudável”, explica Rogério Camões, preparador físico de lutadores como Anderson Silva e Erick Silva, uma das revelações do UFC. Esse peso “surreal” é admitido pelos lutadores.
“Temos uma ingestão alta, de 7 a 8 litros de água destilada, sem mineral nenhum e nem sódio Essa água serve como um diurético. Fazemos na verdade uma hiper-hidratação para enganar o corpo”, afirmou Feijão. Mesmo sendo especialista neste processo, o próprio atleta admite que é uma luta cruel. E, às vezes, o processo mal conduzido pode debilitar o lutador como aconteceu com Anthony Johnson que desabou no primeiro round na luta contra Vitor Belfort, no UFC 142, no Rio de Janeiro. Antes do combate, o americano não teve uma dieta bem sucedida e acabou não tendo tempo para recuperar as energias, pois continuou perdendo peso mesmo após a pesagem. No fim, o atleta foi demitido do UFC.
Antes mesmo deste processo, a dieta do lutador já é controlada desde o momento em que a luta é marcada pela organização do evento. Cerca de dois meses antes do combate, o atleta já começa a controlar sua alimentação. Murilo Bustamante, que já foi campeão pelo UFC e atualmente é treinador do peso médio Rousimar ‘Toquinho’ Palhares, explica que essa é a chamada “dieta qualitativa”.
Nos dez dias que antecedem a luta, os atletas consomem cerca de 1.200 calorias diariamente, de acordo com Patrícia Oliveira, nutricionista, mestre em Atividade Física pela USP, que avaliou o cardápio básico dos lutadores (veja ao lado). No entanto, uma pessoa “normal” precisa do consumo diário de 2.000 calorias. Segundo a nutricionista esse “efeito sanfona” pode causar danos crônicos aos lutadores.
“A princípio, ele pode ter câimbras na hora da luta ou anormalidades nos níveis de sódio, potássio e/ou cálcio. Com esse efeito sanfona, você acaba debilitando o lutador pré-luta com o próprio comprometimento muscular, com perda de força. Isso não é saudável, a longo prazo, pode se tornar uma doença crônica”, completou.
Na véspera da pesagem a situação fica ainda mais crítica: “Entre 12 e 18 horas antes, a gente corta toda água e alimentação, fica sem comer e sem beber água. Mas no, dia seguinte da pesagem, chego a recuperar dez quilos”, finalizou Feijão.
Riscos
Muitas vezes essa dieta de uma semana pré-luta é restrita a proteínas e deixa de lado os carboidratos (farinhas, pão, massas, arroz etc.). Esse é o risco alertado pelos especialistas.
“A falta de carboidrato pode comprometer o rendimento na hora da luta. Eles precisam ter uma dieta equilibrada do começo ao fim, acompanhados, não só uma dieta hiperproteica com frango, clara de ovo”, alerta Patrícia Oliveira.
O que atletas, médicos e preparadores físicos são unânimes em afirmar é que este processo não deve ser seguido por nenhuma pessoa “normal” em busca de perder alguns quilinhos de maneira rápida. A dieta exige bastante do corpo do atleta. Além disso, os lutadores não fazem e nem conseguiriam fazer isso diversas vezes. A maioria passa por esse processo de duas a quatro vezes por ano.