Na esquina da Rua Bom Pastor com a Rua dos Patriotas, bem na separação entre o Museu Paulista e seu jardim com o Parque da Independência, fica a banca de jornal que é o maior ponto de trocas de figurinhas do Bairro do Ipiranga. Gerenciado por Wilson Durães, o local reúne todos os sábados centenas de colecionadores, que contam com a ajuda mais que bem-vinda deste jornaleiro que promove uma festa das trocas.

O Virgula Esporte foi lá e conversou com o dono do maior hotpoint ipiranguista no quesito troca de figurinhas. Já com certa experiência no currículo e 10 anos de “jornaleirice” nas costas, Wilson mostrou que é bom de papo e que talvez seja este o seu maior trunfo para ter tanto sucesso.

“O negócio é ajudar o próximo a montar o álbum”, começou o jornaleiro, muito atento ao gravador e aos clientes, que dividiam poucos metros entre seu local de trabalho, a rua e carros estacionados.

A banca em questão fica bem em frente ao Sesc Ipiranga, um local bem movimenta. Bem arborizada como toda a região, em uma parte nobre do bairro, recebe visitantes ávidos para se livrarem daqueles cromos repetidos e terem a “experiência Copa” completada.

“O pessoal vai comprando porque tem um sentido, né? Se não tiver um sentido, ninguém quer completar. Só comprar não ‘vira’ não. Tem que ter a troca para incentivar o pessoal a comprar, entendeu?”, explicou sobre sua principal estratégia de marketing.

Mas não para por aí. Wilson, na Copa de 2010, se limitava a dar pequenos brindes e tocar uma buzina quando alguém atingia a glória – ou seja, completava o álbum. Agora ele foi além.

“Comecei assim: completei o álbum na última Copa (de 2010) em uma semana. Esse ano eu não quis completar tão rápido porque, se fizesse, eu iria parar com as trocas. Agora estou indo com o meu álbum devagarzinho. Tenho umas parcerias e falei pra alguns amigos meus: vamos atrair o pessoal fazendo essas trocas e dando os brindes, que o pessoal gosta de brinde, né? Então o Museu da Pizza (pizzaria do bairro) está junto com a gente e o (supermercado) Ridel também está com a gente. A tendência é sempre melhorar”, pontuou o jornaleiro que tem duas Copas na bagagem.

“Eu quero ver se, até o final da Copa, sorteio uma camisa original do Brasil com o logo da banca, para incentivar o pessoal a torcer mais pelo Brasil”, prometeu, sem esquecer de seu ganha-pão.

No meio de nossa conversa, um garotinho interrompe pedindo as figurinhas repetidas de Wilson, mas só o ‘bolinho’ que tem da quinta centena para cima (o álbum tem mais de 600 cromos). O que faz pensar em quantas e quantas a mais o jornaleiro já não tem. A resposta é clara e fala na mesma língua da criança: “Não sei, mas a de cento e pouca até 360 está por aí”, disse, aludindo à numeração das figurinhas.

A reportagem visitou a Banca Bom Pastor bem em seu “horário de pico”, um sábado à tarde. Um dia não muito bonito, meio chuvoso e frio. Mesmo assim muita gente ia e voltava. Sempre uns com os olhos nas mãos do outro, detectando bolinhos de figurinhas. Um sinal soava na mente, apitando um montinho ainda não pesquisado. A parada era obrigatória e a gentileza de trocar repetidas por repetidas também se fazia valer. O próprio Wilson dizia em bom som que era uma por uma e que “não tem negócio de uma por cinco, cinco por uma, nada, o negócio é todo mundo se ajudar”.

Para as 16h30, Wilson anunciou em seu alto-falante que iria rolar o sorteio de duas pizzas (muçarela e calabresa), “e é só vir trocando e ajudando o próximo para participar”. Não, não precisava mesmo pagar ou comprar nada dele. Claro, ele fez brincadeiras que davam a entender que ele “pagava pensão”.

Percebeu que falamos do alto-falante, certo? O aparelho é usado para falar dos brindes, prêmios e fazer pedidos aos colecionadores caso alguém esteja precisando de apenas uma, duas, ou poucas para completar o álbum.

“Não adianta só completar e vender figurinha. Eu dei mais de cento e poucas figurinhas quando completei o meu último álbum. Pra mim não vai ter mais utilidade, mas, para o próximo, pode ter”, explicou-se.

Na conversa com o jornaleiro, mais uma surpresa interessante. Apesar de colocar a sorteio camisa da Seleção Brasileira e intrinsecamente promover a amizade entre seus compatriotas, Wilson é fã do futebol argentino. Mesmo há dez anos trabalhando ao lado do Museu do Ipiranga, às margens do rio em que Dom Pedro declarou a Independência do Brasil, este jornaleiro nomeou o filho de Pablo Riquelme, em homenagem a Juan Roman Riquelme, meia do Boca Juniors e destaque dos hermanos há alguns anos.

“O pessoal já vem porque sabe que eu faço essas trocas. A gente começa a ter amizade. Tem muitos que a gente conhece aqui, que eu vejo uma vez na troca, mas depois vai continuando, continuando, e vai vindo, compra um jornal, ou outra coisa. Se você trata bem as pessoas, já fica aquela amizade”, disse, deixando claro que sua preferência pelo futebol portenho não atrapalha e nem deve atrapalhar suas vendas.

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Jornaleiro promove ‘ajuda mútua’ para trocar figurinhas na banca mais procurada do Ipiranga