Pois é, amigos olímpicos… Ainda não refeito da frustração de ter gravado por mais de uma hora uma matéria para o programa Cartão Verde, que não foi ao ar ( a TV Cultura entrou em greve nesta quinta-feira (12/08) e só exibiu programas antigos em sua programação), devo me concentrar para a minha doce viagem. Sim, pois está chegando a hora do maior evento esportivo dentre todos, ou se preferirem como eu, da grande celebração da humanidade, os Jogos Olímpicos de Atenas.

Me lembro claramente a despeito de meus tenros 8 aninhos de idade, da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Moscou – 80. Num magnífico e eletrizante exercício de interação com o público que superlotava as arquibancadas do Estádio Lênin, a figura do Misha, o urso mascote dos Jogos, aparecia sorrindo e derramando lágrimas. Eram tempos de fim da Guerra Fria, boicotes e protestos. Mas foi vendo atletas como João Carlos de Oliveira, nosso eterno João do Pulo, Djan Madruga e a equipe de natação que nos deu o bronze nos 4X200 m livre e os heróis da vela, esporte que mais medalhas de ouro trouxe para o Brasil (quatro), que minha paixão pelo esporte, e, principalmente pelas Olimpíadas, se intensificou. Desde então, para descrédito de todos que me ouviam, passei a dizer que um dia iria a uma Olimpíada.

O sonho agora se concretizará. Para isso, empreendi todos os esforços ao longo dos últimos meses, mais precisamente desde os Jogos PanAmericanos de 2003. Foi lá em Santo Domingo que tive um intenso contato com competições de alto nível. Em função das limitações de infra-estrutura e controle de segurança verificadas na República Dominicana, o contato com atletas, técnicos, dirigentes, jornalistas e torcedores foi intenso. Com um crachá obtido para a cobertura de um jogo de vôlei da Liga Mundial, no Ginásio do Ibirapuera, semanas antes da competição, tive acesso a todos os lugares no Pan. O controle era tão frágil que eu entrava no Centro de Imprensa, Vila Olimpica e ginásios de uma forma tão natural a ponto de imaginar que se um terrorista tivesse o mesmo crachá que eu (com a foto do Nalbert, não exatamente parecido comigo), poderia fazer um estrago significativo. O fato é que tão interessante evento serviu de grande estímulo para minha decisão de ir para Atenas.

Os preparativos não foram nada fáceis. Ao pesquisar preços de hotéis e pacotes, a decepção era imensa. Pacotes eram vendidos por, no mínimo, 15000 Euros (sim, quinze mil). Um lugar no albergue da Juventude de Atenas, em um quarto com 15 camas e banheiro coletivo não sairia por menos de 130 Euros por dia (sim, por dia). Iniciei então uma corrente. Dezenas e dezenas de amigos e amigas de faculdade, colégio, da vida em geral, receberam um e-mail meu solicitando contatos com gregos que porventura tivessem conhecido ao longo da vida. O objetivo era arrumar um lugar onde ficar. Para grande alegria, foram muitas as respostas com contatos. Pessoas gentis, solícitas, que passavam e-mails de ex-professores de grego que tiveram na Faculdade de Letras, tios de vizinhos de amigos gregos, cunhados de primos de chefes de restaurantes gregos, etc. O meu problema inverteu-se. Passei a analisar as propostas. Acabamos, eu e meu amigo Marcelo, outro fanático por esportes, optando pelo apartamento dos tios de um amigo surfista, o Eduardo. Trata-se da casa de um senhor grego, que ao vir a trabalho por 6 meses ao Brasil, no início dos anos 70, não resistiu aos doces encantos de Dona Cida, que foi viver com ele em Atenas, e nos acolherá por duas semanas em seu apartamento no centro da capital grega.

Resolvido o problema da acomodação (pagaremos 900 euros pelo período todo), compramos o ingresso com um operador grego, uma vez que a Tamoyos, agência oficial do COB, cobrava comissões altíssimas sobre o preço normal dos ingressos. Pronto! Agora só resta acompanhar a cerimônia de abertura, mantida a sete chaves pelos organizadores, e que deve surpreender pela mistura de simplicidade com beleza, aliado ao inevitável sentimento de volta às origens dessa fantástica competição.

Como não se emocionar vendo desfilar 202 nações, muitas das quais com suas vestimentas típicas e traços marcantes identificando suas respectivas etnias? Quando, em qualquer um dos outros 48 meses que separam uma Olimpíada de outra, podemos ver alguma notícia sobre o Lesoto, a Guiné Equatorial, o Malaui, a Suazilândia, Comores, Tonga ou Vanuatu? E, que me perdoem os portugueses, mas não poderia haver nada mais simbólico para o espírito olímpico do que a fantástica vitória do Iraque sobre Portugal por 4 a 2, no futebol masculino. Os aguerridos iraquianos, tidos e havidos como provável saco de pancadas diante dos favoritíssimos portugueses, liderados pela jovem estrela do Manchester United, Cristiano Roanaldo, deram um show no estádio de Patras para delírio dos 15 torcedores iraquianos e 10 mil gregos que torciam ardorosamente pelos jovens atletas iraquianos que se superaram em campo e deram uma aula de futebol, espírito de equipe e determinação. Verdade é que as coisas ficaram mais fáceis para o selecionado iraquiano após a expulsão de Boa Morte, o número 13 português, após uma entrada violentíssima sobre o atacante Mahmoud.

No futebol feminino, a adolescente alagoana Marta fez o único gol da magra, mas foi uma importante vitória brasileira sobre as toscas e aplicadas australianas.

Vou ficando por aqui, já ansioso pela entrada das delegações de Kiribati e Ilhas Cook.

Segura bonito essa bandeira, Torben.

Abraços olímpicos,
<b>Gerson Caner</b>


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Gerson Caner direto de Atenas

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