Amigos olímpicos,

Sei que nosso país tem milhares de problemas, que todos nós fazemos parte dos 10% da população que teve acesso à educação, informação e cultura e que, talvez não por outra razão, esses 10% detenham 80% da renda nacional. Sei dos problemas de saúde, educação, transporte, infra-estrutura e violência urbana. Sei de tudo isso. Mas, ontem (25/08) também soube, como em poucas outras vezes, o que é sentir um profundo orgulho de ser brasileiro. Sem falsas pieguices, assitir ao vivo uma medalha de ouro em uma Olimpíada é uma emoção
tão única que certamente é inesquecível.

Ricardo é um gigante de 2m03 que desequilibra qualquer partida. Emanuel, considerado o melhor jogador do mundo, faz o que quer com a bola. A partida final do beach voley masculino foi fácil do início ao fim. Por isso, a imagem que fica é a da nossa torcida, capaz de contagiar até o mais frio dos islandeses presentes nos Jogos. Somos cerca de 1000 brasileiros aqui em Atenas. Pelo menos 700 deles estavam na arena de vôlei de praia, na bela
região de Faliro, contornando o mar Egeu. Com o passar dos dias e competições acabamos nos conhecendo e dividindo informações sobre resultados e ingressos, algo muito precioso em Olimpíadas.

Na medida em que o jogo estava caminhando para seu final, a emoção aumentava de forma exponencial. Os irmãos César e Daniel, de São José dos Campos. André, paraense de Santarém e que vive há quinze anos em Genebra. A galera de cariocas torcedores do fluminense (como Chico Buarque, insiste Roberta) e suas perucas enormes. O Bola , enorme e pesadíssimo bailarino negro, que têm sido o grande destaque das transmissões de TV de todo o mundo. O casal de Criciúma, os 20 amigos de meia-idade de Patos de Minas, a turma que faz MBA
em Chicago e veio de navio desde a Itália. Dezenas de rostos conhecidos, porém anônimos. Todos sentem a mesma emoção no mesmo momento. Todos se olham com carinho de cumplicidade. Todos se cumprimentam, vibram, se abraçam calorosamente.

Faltam 4, 3 ,2 pontos. A histeria coletiva começa. O policial do exército grego ao meu lado desiste de pedir para a torcida não ficar em pé nas cadeiras e, para nossa surpresa, saca do bolso sua câmara digital e pede para tirar uma foto dele ao lado das duas gêmeas mulatas de Vitória da Conquista. A família de suíços que passara parte do jogo pedindo para sentarmos pois atrapalhávamos a visão deles agora sorria extasiada pedindo para ensinar para o filho menor a letra de Poeira, de Ivete Sangalo.

Match-point. Um torcedor cipriota eufórico pergunta por quanto eu vendo minha bandeira do Brasil para ele. Falo que não tem preço, mas coloco ela sobre seus ombros e o convido a se juntar a nós, espremidos nos alambrados. Ricardo crava a última na areia. Acabou. A euforia coletiva é caótica.

Lágrimas escorrem de vários rostos enquanto Emanuel vem em nossa direção. Ricardo se junta a ele. É pra vocês, é pra vocês, gritam os novos campeões olímpicos. A comemoração é intensa. O hino nacional é cantado por todos, o que gera nova onda de lágrimas. Vejo o rosto de Paulão e Carlão, inseparáveis amigos desde a campanha do ouro em Barcelona-92 e que devem
imaginar a emoção de Ricardo e Emanuel no alto daquele pódio. Carlão parece uma criança, que não consegue parar de pular. Paulão só repete aos gritos: é ouro, velho. Emanuel, ao descer do pódio, cumprimenta um a um todos os voluntários. Ricardo os convida a subir ao pódio. Com a ausência dos voluntários nos vigiando, começamos a invadir a areia. Os policiais já
desistem de controlar o público. Um deles comenta, no tradicional grego macarrônico. You, brazilians, are completely crazy, but you are really the best.

Na volta, o trem superlotado, me distraio e a pesada porta fecha sobre meu dedo. O hospital é próximo. Uma imobilização com uma tala por cinco dias vai consertar meu dedo médio da mão esquerda que se quebrou. A unha quebrada logo será substituída por outra. É só mais um pequeno motivo para eu não esquecer essa noite de 25 de Agosto.

Abraços olímpicos,
<b>Gerson Caner</b>

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Gerson Caner direto de Atenas