Amigos olimpicos,
Os dias em Atenas têm sido longos. Quarta à noite fui ver as nossas meninas do basquete serem derrotadas pela Rússia por 77 a 67. Nem a determinação de jogadoras como Alessandra e Érica, que conclamava insistentemente a torcida a vibrar com o time, tampouco o talento de Janeth, foram suficientes para superar o poderio das gigantes russas, que lideraram a partida desde o primeiro minuto. O complexo Heleniko, que comporta as modalidades de basquete, handebol, esgrima, softbol e badmington é menos badalado e mais distante que o Centro Olímpico de Oaka, mas não por isso menos moderno e interessante. A beira do mar Egeu, o ambiente é
agradabilíssimo e confraternizações entre torcedores dos vários países também são constantes.
Antes da chegada ao basquete, encontros fortuitos em profusão marcaram a tarde. Ninguém menos que Leandro Grilheiro caminha pelas escavações arqueológicas da Agora Antiga ao lado de parte da equipe do judô. Saudações, conversas, risadas e fotografias tornam esse encontro quase tão agradável quanto vê-lo conquistar a medalha 48 horas antes. Quinze minutos depois,
dentro do McDonalds da praça Monastiriki, encontro com o casal Vânia Ishii e Alexandre Lee, que não conseguiram trazer medalhas, mas esbanjavam simpatia e me acompanharam no delicioso Greek Mac (é isso mesmo, o tradicional sanduíche grego dentro do McDonalds, em condições sanitárias menos preocupantes do que o vendido nas tavernas). Ela, sansei, filha do
medalhista Chiaki Ishhi em Munique-72 e ele, neto de coreanos, se conheceram em uma festa de Halloween durante período de treinamentos no Rio de Janeiro há cerca de um ano e, segundo os pombinhos, o namoro só ajudou a ambos no período de preparação. Vânia estava muito chateada com a eliminação, se emocionava ao lembrar que treinou por 4 anos e lutou só 5 minutos e que, como já tinha 31 anos, não poderia contar com a presença em Pequim-08. Calma
Vânia, ainda tem muito tatame pela frente antes de pendurar o quimono.
A praça Monstiraki é um dos pontos de encontro das torcidas das dezenas de países presentes a Atenas. Não resisto e puxo conversa com os alegres iraquianos que tentam fazer embaixadas com uma bola de tênis. Querem tirar fotos com os brasileiros e demonstram intensa alegria por estarem aqui acompanhando sua seleção de futebol, grande e positiva surpresa até aqui. Idolatram Ronaldo e Roberto Carlos e viajaram para a Grécia com a ajuda do COI, que providenciou acomodação para alguns turistas de países pobres (lamentavelmente, não nos consideram um país pobre).
Em Atenas, já me sinto em casa. Sou capaz de tomar meia dúzia dos frapes de café em um único dia. São deliciosamente refrescantes e consumidos por 96% dos gregos. Já consigo me comunicar de forma rudimentar, com a utilização de algumas palavras-chave e uma quantidade grande de gestos. Os gregos estão curtindo muito as Olimpíadas em casa e, de fato, a procura por ingressos cresce a cada dia. Ainda não tenho o das finais do vôlei de praia, mas cambistas que conheci estão providenciando.
Nesta quinta (19/08), conheci 3 belíssimas ilhas gregas, no Golfo Sarônico. São elas: Poros, Hydra e Aegina. Cada qual com uma beleza diferente, mas rivalizando entre si pelo título de detentora do mar mais cristalino. No cruzeiro, dinamarqueses, costariquenhos, espanhóis, japoneses (estes eufóricos com o incrível desempenho de seus atletas que já colecionam 9 medalhas de ouro) e até alguns dos poucos americanos presentes se misturavam trocando pins e impressões sobre as Olimpíadas e os resultados.
Na chagada do navio ao porto de Pireus, pude avistar bem de perto o suntuoso transatlântico Queen Mary 2, onde estão hospedados, entre outros, George Bush Sr., Tony Blair, o time de basquete dos EUA, nosso ministro dos Esportes Agnelo Queiroz e algumas dezenas de afortunados turistas. Desnecessário mencionar que vários navios da Marinha e tanques do Exército grego protegiam o local.
Numa corrida desenfreada desde o porto, convencendo o monoglota motorista de táxi a acelerar, chegamos a natação para vermos nosso Thiago Pereira terminar em quinto na prova dos 200 medley. Com sono e exausto, ainda aguardei meu companheiro de viagem e psicopata por esportes (sim, porque eu sou apenas um fanático maníaco obsessivo, não um psicopata) Marcelo Gambarini procurar o resultado de sua Catanduvense pela série B-2, o equivalente a quinta divisão do Campeonato Paulista.
E na manha dessa sexta feira (20/08), há poucos minutos, pude esclarecer minhas dúvidas acerca da eficiencia da segurança montada ao custo de 1,3 bilhoes de euros. Com o estádio olímpico bastante cheio, consegui encontrar uma brecha e penetrei por um túnel aproveitando a distração dos seguranças que obervavam a chegada dos 100 metros femininos. Cheguei, após alguns metros, a zona mista de imprensa, onde centenas de jornalistas de todo mundo se
concentravam. Mais uma breve e discreta caminhada e pronto. Lá estou eu junto aos cinegrafistas oficiais do evento. A discrição só termina quando vejo Jadel Gregório, que acabava de fazer seus 17m20 para se classificar com a quinta melhor marca para a final. Grito seu nome, ele olha, faz sinal de positivo com o polegar, bate a mão no peito e manda um tchauzinho. A
voluntaria da organização procura a credencial no meu peito, não encontra e me convida gentilmente a sair do recinto. Nao tem problema não, estou atrasado para ir para Angios Kosmos ver as competições de vela.
Chega de bronze. Vamos, Scheidt. Você e o cara.
Abraços olímpicos,
Gerson Caner
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<a href="http://www.virgula.me/especiais/virguliadas/interna_notas.php?ID=4299" target="_blank"><b><font color="#FFFFFF">As expectativas antes do embarque para Atenas</font></b></a>
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