Amigo olímpicos,

Quinta-feira representou mais um daqueles dias muito especiais, que só terminam cronologicamente.
Aquela semifinal do volei feminino, dificilmente será apagada da memória de cada um de nós que estivemos naquele Peace and Friendship Stadium. Creio que marcará para sempre a geração de Fernanda Venturini, Virna , Mari, Érica, Walewska, Sassá e Fofao. Faltam palavras para descrever a tristeza com que recebemos essa inacreditavel derrota, após termos o jogo muito mais do que nas mãos. Aliás, esta parece ser nosso grande problema, temos sempre o jogo nas mãos, mas nunca na cabeça. Após a partida, mal conseguiamos falar uns com os outros e, dessa maneira, calados, atravessamos a rua para tentar acompanhar a final do futebol no Karamasikis Stadium. Estávamos com 15 minutos do segundo tempo, os EUA venciam por 1 a 0 e, além dos cerca de 500 brazucas que estavam lá dentro desde o comeco, outros 50 como eu que nao desanimaram após o trauma do volei, tentavam convencer os guardas a liberar a entrada. O controle era rígido, havia mais de 3000 cidadãos americanos dentro do estadio, incluindo o secretario de estado Colin Powell. Quando ouvimos o gol de empate de Pretinha, só tinha certeza de uma coisa: eu iria ver esse jogo de qualquer maneira. Conversei com dezenas de policiais e voluntários e, finalmente um deles se sensibilizou com a conversa de que viajei 15.000 kms para ver o Brasil, era minha última noite, etc. e me deixou passar, sem antes pedir uma camisa do Brasil, que dei prontamente (comprei 9 delas na 25 de Marco antes de viajar). Pronto, ia comecar a prorrogacao e eu estava dentro do estádio, junto a meus novos amigos, que me receberam calorosamente. Na saída do vôlei, a única alegria que tive foi a resposta da jornalista Glenda Koslowski a minha pergunta sobre o Torben Grael. Sim, ele já assegurou o ouro em Angios Kosmas. Essa noticia levei a galera do futebol, e a vibração foi intensa, para espanto dos americanos, que nada entenderam. Pronto, estava assistindo pela primeira vez na vida uma partida de futebol feminino, e por acaso era a final olímpica. Nossas guerreiras dominavam o jogo, perdiam gols, bola na trave, penalti duvidoso não marcado, as emoções se sucediam com grande intensidade. Eu diria que no feminino as emoções são até maiores, uma vez que o componente imprevisibilidade é acentuadamente mais significativo. Uma bola aparentemente dominada na defesa pode acabar numa furada ou erro de passe, já que a técnica ainda carece de maior desenvolvimento. A saudável guerra de torcida é um capitulo à parte. Os americanos se divertem conosco, mas estão preocupados com a superioridade de nosso time. Na arquibancada encontro, entre dezenas de rostos amigos, a figura de um colega de faculdade, Ricardo Amorim, que hoje mora nos EUA e participa semanalmente do Manhattan Connection. Nos abraçamos e torcemos juntos. De quebra, participo das gravações do programa, uma vez que o cinegrafista estava filmando para levar ao ar na próxima segunda-feira. Ricardo diz que tanto o Arnaldo Jabor quanto Lucas Mendes e Caio Blinder estao acompanhando as Olimpíadas com especial interesse e que esse jogo significava muito para os americanos, uma vez que marcava a despedida de Mia Hamm, a melhor jogadora de todos os tempos e a coroação de uma geração que estimulou milhões de meninas americanas a praticar o soccer nas escolas.

Gol delas, faltando 6 minutos para acabar a prorrogação. Mais um balde de água gelada. Mas dessa vez é diferente. As meninas caíram de pé. Choraram muito, é verdade, mas tinham a sensação do dever cumprido. Sem nenhum apoio, estímulo, incentivo, cobertura da mídia, nada. Chegaram a final da Olimpíada graças a seus próprios esforços e ao mago Rene Simoes que fez um maravilhoso trabalho psicológico com essas meninas, tão humildes quanto carentes. Depois da entrega das medalhas, a apoteose. Todas vem em nossas direções. Uma por uma, Formiga, Renata, Daniela, Pretinha, a craque Marta, Andreia, Rene Simões e sua comissão técnica, todos sobem para se confraternizar conosco.

Beijo a medalha de Rosana, abraço todas. Rene nao para de agradecer a torcida por ter prestigiado as meninas nesse momento histórico. Ele grita: hoje é um dia histórico, estamos testemunhando um divisor de águas no futebol feminino de nosso país. Permanecemos um bom tempo no estádio. De tão humildes, grande parte das meninas nao possui camaras digitais. Anoto alguns emails para transmitir as fotos. Saimos do estádio rumo a praça Monastiraki, tradicional palco de concentacao de torcedores em Atenas. Prefiro chamá-lo de zoológico humano. Figuras de todos os tipos, etnias e nacionalidades bebem, cantam e conversam. Essa noite, com 31 graus de temperatura, estava especialmente agradável.

Troquei uma camiseta fake do brasil por uma de voluntário dos Jogos, uma linda camisa polo tricolor, com um neo-zelandes que ja tinha encerrado seus trabalhos. O dedo, imobilizado, já não doi quase nada. Olhei para o alto, vi o Parthenon brilhando com suas luzes douradas, nada podia ser mais imponente. Me despeço dele, vou sentir muitas saudades de Atenas. No aeoporto, centenas de atletas se despedem uns dos outros. E hora de voltar para casa. Viajo para Roma ao lado de um chines que competiu no salto em distância. Toda tentativa de conversa resulta inócua, o rapaz nao sabe o que é good morning. Fico pensando como será em Pequim-2008. Na chegada a Roma, dentro do ônibus na pista do aeroporto de Fiumicino, encontro o nadador Diogo Yabe, que competiu nos 200 medley e a simpática e extrovertida saltadora Juliana Velloso. Já a tinha visto no Pan de Santo Domingo, quando ela ganhou medalhas, mas dessa vez sua alegria era maior. Chegou a final da plataforma e do tramapolim, superando as melhores expectativas. Eles voltam para São Paulo à noite, cansados de ficar 50 dias treinando e se concentrando. Minha conexão para Milão vai demorar. Passamos, os três, boa parte da tarde conversando. Juliana conta que na Vila Olímpica, conheceu vários ídolos e foi surpreendida por Maurice Greenne, ouro em Sidney e bronze em Atenas nos 100 m rasos, que a conhecia por ver fotos dela com as unhas pintadas de verde e amarelo. Diogo já tem competicao no próximo fim-de-semana, ele nada o Brasileiro. Juliana tambem volta a treinar na segunda-feira no Fluminense, a vida de atleta não é tão fácil como pode parecer para alguns, afirmam eles. Trocamos muitas histórias, eles da Vila e eu da vida nas ruas e ginásios em Atenas. Nos despedimos. Em Milão, na
casa de meu amigo Mario, vejo nossa vitória sobre os EUA no vôlei. Mas presencio também as incríveis vitórias italianas no vôlei e basquete (uma virada sensacional contra a favorita Lituania). Gritos ecoam dos prédios, o narrador da RAI UNO mal consegue falar. ITALIA EN LA FINALE OLIMPICA ITALIA ITALIA BRAVO RAGAZZI.

Amanhã (domingo) eles fazem a final do vôlei contra o Brasil e do basquete contra a Argentina. Vou ver a final do vôlei na praça central de Florença, num telão montado para as Olimpíadas. Vamos Bernardinho, vamos coroar nossa melhor Olimpíada de todos os tempos com um precioso ouro. Viva Rodrigo e Baloubet. Vivam nossos esforçados e talentosos atletas. Viva os Jogos Olímpicos, a grande celebração da humanidade.

Abracos Olímpicos,
Gerson Caner

<a href="javascript:void(0);" onclick="javascript:window.open(‘http://www.virgula.me/chat/novo/pop.php?id=1028’, ‘qwqwqw’,’left=10, top=10, width=640,height=400,status=no,toolbar=no,menubar=no,titlebar=no,resizable=no,scrollbars=yes’)"><b><font color="#ffffff">Confira o que rolou no chat com Gerson direto de Atenas</font></b></a>

<a href="mailto:olimpiadas@corp.virgula.me"><font face="Verdana" color=#FFFFFF>Mande um e-mail para o Gerson!</font></a>

<a href="http://www.virgula.me/especiais/virguliadas/interna_notas.php?ID=4299" target="_blank"><b><font color="#FFFFFF">As expectativas antes do embarque para Atenas</font></b></a>

<a href="http://www.virgula.me/especiais/virguliadas/interna_notas.php?ID=4370" target="_blank"><b><font color="#FFFFFF">A chegada em Atenas, sem alfândega</font></b></a>

<a href="http://www.virgula.me/especiais/virguliadas/interna_notas.php?ID=4404" target="_blank"><b><font color="#FFFFFF">Judô, tênis, natação…</font></b></a>

<a href="http://www.virgula.me/especiais/virguliadas/interna_notas.php?ID=4454" target="_blank"><b><font color="#FFFFFF">Os encontros com personalidades </font></b></a>

<a href="http://www.virgula.me/especiais/virguliadas/interna_notas.php?ID=4555" target="_blank"><b><font color="#FFFFFF">A medalha de ouro veio!</font></b></a>

<a href="http://www.virgula.me/especiais/virguliadas/interna_notas.php?ID=4591" target="_blank"><b><font color="#FFFFFF">Ainda não foi desta vez que ouvi o hino nacional</font></b></a>


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Gerson Caner: A guerra das torcidas