O futebol no Brasil é um esporte peculiar. A análise da atuação do psicólogo esportivo em outros esportes difere da análise no futebol por diversos fatores. A população que dirige, atua, organiza e administra o futebol possui ainda sérias restrições em relação à atividade psicológica nos clubes. Ainda é forte a idéia de que a presença de psicólogos possa revelar uma crise interna. Muitos fatores acabam reforçando esta idéia. O principal deles é o de que a cultura no Brasil ainda enxerga a ciência Psicologia dentro de uma esfera curativa e não preventiva.
Há, portanto, uma questão cultural que põe em risco o sucesso e o ingresso dos profissionais da Psicologia nos clubes de futebol.
Em função disso, o ingresso de psicólogos nas equipes de base é mais comum do que nas equipes profissionais, justamente pelos holofotes preconceituosos de nossa cultura e pelo receio que muitos treinadores de equipes profissionais possuem em perder a voz de comando diante da equipe, quando, na verdade, sabemos que o psicólogo é apenas mais um membro da Comissão Técnica.
A resistência que o psicólogo enfrenta no início de seu trabalho ainda é fruto da falta de informação sobre o conteúdo e os benefícios que o trabalho de psicologia do esporte pode oferecer a uma equipe desportiva, seja ela de qualquer modalidade.
No futebol, esta forma de indiferença e menosprezo frente ao psicólogo é apenas o reflexo de uma postura cultural vivida sob a legislação dos clubes empresa que prioriza muito mais o capital investido e o lucro esperado, do que o bem-estar e o melhor rendimento dentro e fora dos gramados. No entanto, é preciso frisar que uma performance ótima está diretamente relacionada com o sucesso e lucros de uma equipe/empresa.
Pelo fato do futebol ser um esporte que lida com as massas e de mobilizar estados passionais, a sociologia esportiva reconhece, pesquisa e aprofunda também os movimentos sociais que circundam o futebol.
Este campo de estudos ainda é pouco explorado pelos sociólogos devido às dificuldades de reconhecimento e valorização das pesquisas por parte dos integrantes do meio futebolístico.
O futebol, sem a menor sombra de dúvidas, é um esporte que evoluiu muito desde os primórdios de sua existência Esta linha temporal de profundas e marcantes mudanças em suas regras, práticas e personagens, representa um campo de estudos bastante significativo para os sociólogos do esporte.
O estudo crítico, distante e sistemático dos fenômenos sociais, é umas das principais características da Sociologia. Estudar sociologicamente o futebol significa realizar uma investigação crítica, distante e sistemática da natureza, do significado e das conseqüências do futebol como uma grande instituição social.
O gosto ou paixão por um determinado esporte não existe naturalmente em nosso sangue como supõe o senso comum. Ele existe na coletividade, em nosso meio social que nos transmite esse sentimento da mesma forma que a escola nos ensina a ler e a escrever. Aprendemos a nos afiliar a determinados gostos e práticas culturais.
Sendo assim, o início para uma compreensão sociológica do futebol no Brasil é encará-lo como um fato social, isto é, como algo socialmente construído, que existe fora das consciências individuais de cada um, mas que se impõe como uma força imperativa capaz de penetrar intensamente no cotidiano de nossas vidas, influenciando os nossos hábitos e costumes.
<i><b>João Ricardo Cozac</b> é psicólogo formado pela PUC-SP. Atua no esporte há 11 anos. Professor de psicologia do esporte na Universidade Mackenzie de São Paulo. Presidente da Consultoria, Estudo e Pesquisa da Psicologia do Esporte (www.ceppe.com.br). Atende atletas de diversas modalidades em consultório. Atuou em grandes equipes do cenário futebolístico brasileiro. Colunista do site Gazeta Esportiva.net .Autor do livro ‘Com a cabeça na ponta da chuteira: um ensaio sobre a Psicologia do Esporte’, pela editora Anablume, e ‘Psicologia Esportiva: reflexões e prática’, em fase final de edição.</i>
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