Com exclusividade ao <b>Virgula Esporte</b>, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Tênis, Nelson Nastás falou sobre o boicote sofrido pelos tenistas no ano passado. "Ele errou. Acho que ele tomou uma posição completamente inaceitável com o boicote", disse o dirigente sobre Guga. Veja mais nesta entrevista.
<b>Virgula: O senhor ficou 10 anos a frente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT). O que mudou no tênis brasileiro neste período?</b>
<b>Nelson Nastás</b> A mudança mais importante que aconteceu foi a credibilidade da federação. Quando eu peguei a gestão, há 11 anos atrás, além de ter problemas financeiros, ela tinha problemas de estrutura. Era uma pequena sala com dois funcionários, sem crédito, confiabilidade e sem nada. Quando eu saí, deixei 14 pessoas trabalhando em período integral, em um andar na Paulista (Avenida mais conhecida da cidade de São Paulo). Enfim, acho que recuperamos a confiança e credibilidade, tanto é que tivemos uma maior quantidade de torneios. A Federação Internacional de Tênis (ITF) acreditou mais em nosso trabalho e levamos uma imagem muito positiva para o exterior. Então, acho que o principal ponto em nosso mandato.
<b>V: Você se arrependeu de alguma coisa em seu mandato?</b>
<b>NN:</b> Não me arrependi, mas reconheço que existiram alguns pontos falhos, principalmente em marketing. Eu não consegui criar um departamento mais agressivo, que trouxesse mais recursos para a Confederação, até para organizarmos nossos torneios com mais tranqüilidade.
<b>V: Ao fim do seu mandato, como ficou as finanças da CBT?</b>
<b>NN:</b> A Confederação, assim como todas as outras entidades, não tem fins lucrativos. Muito vago você falar se ela tem créditos ou débitos. Ela ficou com algumas contas à pagar, que você pode passar ao outro mandato. Nós não precisamos ir tão longe para justificar isso, é só ver as outras entidades, a prefeitura, governo do Estado e outros. Isso não significa desvio de dinheiro, como diz a atual administração. Não sei ao certo o termo que eles usam, mas dizem que roubei, que desviei dinheiro, o que não é verdade. Eu deixei contas à pagar, até porque faltaram patrocínios mais constantes, mas, em termos de confiabilidade, ficou muito crédito.
<b>V: Por que a atual gestão diz que seu mandato foi "obscuro"?</b>
<b>NN:</b> Não, nunca foi obscuro. A realidade é a seguinte: Eu tive todas as minhas contas aprovadas anualmente, como reza o estatuto. No ano de 2003, é que Santa Catarina resolveu criar uma situação embaraçosa para mim. Como todos os anos, convoquei a assembléia de prestação de contas. No dia, eles não aceitaram minha prestação de contas e conseguiram uma liminar para suspender a assembléia. Com isso, alcançaram o objetivo deles: Me deixar inadimplente. Então, não adianta eles alegarem que meu mandato é obscuro, pois minha situação, até a data desta reunião, está legalizada na Justiça.
<b>V: No ano passado, o senhor havia prometido antecipar as eleições para presidente da CBT algumas vezes. Por que houve tanta demora para que ela acontecesse?</b>
<b>NN:</b> Houve a demora, pois as próprias federações não estavam totalmente regularizadas. Na época, eu disse que sairia no meio do ano, em função dos jogadores. Quando chegou esta data, as federações não estavam prontas pelas novas leis vigentes no país. Demos um novo prazo para elas se adaptarem, pelas dívidas que tinham com a CBT e, enfim, uma série de outras coisas. Principalmente na parte de estatutos para se eleger um novo presidente, existem uma série de coisas que a maioria não tinha. Se eu tivesse feito a eleição naquele momento, bastava alguem entrar com um recurso que ganharia. Eu não queria isso! É o que está acontecendo hoje. Fizeram uma assembléia da forma que queriam, até a Federação do Tocantins, que nem filiada regularmente era, participou. Isso está na Justiça ainda, pois quem perdeu se sentiu prejudicado, entra com o um recurso e ganha.
Isso só vai acabar quando a Justiça tiver uma decisão mais definitiva, mas dentro do estatuto da CBT e da leis esportivas brasileiras. Enquanto houverem brechas, estas complicações podem se arrastarão na Justiça por anos. Tomara que isso não aconteça.
Não tenho nada contra os advogados, mas a partir que eles tomaram conta das assembléias da CBT, esqueceram-se da parte técnica, calendário e outros, são só brigas judiciais. O ano de 2004 ficou parado por causa disso.
<b>V: O senhor, como membro do Comitê da Copa Davis da Federação Internacional de Tênis (ITF), poderia nos explicar por que teve a inversão do mando de quadra, entre Antilhas Holandesas e Brasil?</b>
<b>NN:</b> As Antilhas Holandesas abriram mão do mando de jogo, já que eles alegraram não haver verba organizar as partidas. A ITF consulta o país adversário se existe interesse em sediar o confronto. Como o Brasil se interessou, o Comitê da Copa Davis vota se aceita trocar o anfitrião da partida. Nós votamos a favor, como geralmente acontece nestes casos. A Copa Davis é importante para o Brasil. É uma vitrine para popularizar o esporte, pois é um grande torneio.
Agora, a cidade do confronto depende da escolha do capitão (que hoje é o ex-tenista Fernando Meligeni). Depende do adversário, pois escolheriamos clima e a quadra que mais desfavorecem eles, sem que nos comprometa. Aqui no Brasil temos muitas opções, já que podemos jogar a nível do mar, na montanha e outros. Temos muitos lugares.
<b>V:Antes do boicote, por que o senhor trocou o capitão da Copa Davis?</b>
<b>NN:</b> Sentia que o (Ricardo)Accioly estava perdendo o comando da equipe. Os jogadores queriam uma mudança. Como jogariamos contra o Paraguai, um adversário mais fraco, achei que era a oportunidade de trocarmos o capitão. Chamei o Jaime Oncins, pois era um amigo dos tenistas, jogou até um ano antesesta competição e é agregador. Pela escolha, não me preocupei em questionar a equipe. Se eu trouxese um gringo, tudo bem. Seria coisa de maluco. Meu erro foi não ter consultado os jogadores, mas fiquei surpreso com o boicote, pois era um amigo pessoal deles.
<b>V: Ficou magoado com o boicote?</b>
<b>NN:</b> Fiquei muito magoado. A equipe tinha todas as regalias. Na minha gestão, gastei R$ 2 milhões em premiação e só para o Guga foram R$ 500 mil. Eles tinha todo apoio possível. Acho que os outros jogadores nem devem saber bem a justificativa deste boicote. Conheço o Saretta e o Mello, por exemplo, desde a época do juvenil. Inclusive, a CBT ajudou eles com gastos para torneios e muitas outras coisas.
<b>V: O que você achou da posição do Guga, com relação ao boicote?</b>
<b>NN:</b>Acho que ele tomou uma posição completamente inaceitável. Pelas informações que eu tive, ele já não jogaria pela Copa Davis, pois tinha consulta marcada nos Estados Unidos para ver com estava seu quadril. Não sei se essa posição era dele ou de outra pessoa que o influenciou a liderar esse boicote, simplesmente por não ter sido consultado pela troca capitão da Davis. Isso não é uma postura de ídolo nacional. O Oscar (ex-jogador de basquete) tinha brigas com a Confederação Brasileira de Basquete, mas nunca deixou de servir o Brasil. Ele mesmo disse que era um crime não servir a seleção. Você já pensou se isso se generalizasse? Imagine se o time de vôlei resolver não entrar em quadra, caso o Ari Graça não saisse da presidência. Inclusive a seleção feminina de vôlei fez isso tempo atrás contra o técnico delas (na época, era o Marco Aurélio Motta). O treinador foi mantido e chamaram outras jogadoras. Não se pode levar a esse tipo de extremo.
<b>V: Como estão as investigações contra o senhor?</b>
<b>NN:</b> Até agora não fui intimado a nada. A atual administração da CBT me acusou de pagamentos de contas pessoais, mas eram despezas da Confederação. Dizeram que eu usei dinheiro da entidade para pagar meu cartão de crédito e uma TV a cabo. Realmente isso aconteceu, mas não para benefício próprio. Muitas vezes em fechamento de contas da delegação nos torneios, como a Copa Davis e a Fed Cup, usava meu cartão. Tinha que mostrar todos os comprovantes para o COB, que, se aprovado, liberava a verba e eu tinha o reembolso. Na época, isso era permitido.
A história da TV a cabo, era uma promoção que recebi, como tinha que ser uma pessoa física, assinei ela em meu nome e deixei na sede da CBT. A TV por assinatura era melhor para o pessoal de imprensa para poder trabalhar.
Apresentei tudo isso ao Tribunal de Contas da União e agora a aguardo o resultado final. Os outros processos, alguns até com relação as contas, ganhei todos. A Justiça de Sâo Paulo julgou todos como improcedentes.
<b>V: O que esperar do tênis brasileiro daqui para frente?</b>
<b>NN:</b> O tênis brasileiro está em um crescimento natural. Temos muitos torneios aqui, inclusive nas categorias de base, e isso faz com que novos tenistas apareçam. É um crescimento sem volta.
<b>V: Antes de terminarmos, o que o senhor tem a falar sobre:</b>
<b>Jorge Lacerda Rosa</b>
<b>NN:</b> Ele é o atual presidente da CBT. Acredito que ele entrou um pouco afoito na Confederação. Em pouco tempo de gestão, conseguiu desagradar o maior patrocinador do tênis brasileiro e os organizadores do melhor torneio realizado no Brasil, além de ter feito outras colocações indevidas. Ele deveria controlar sua fala. O grande erro dele é se expor muito na mídia, podem se preservar um pouco mais.
<b>Walmor Elias</b>
<b>NN:</b> Ele é o presidente antecessor ao meu mandato. Peguei a Confederação com dívidas monstruosas, sem extrutura e nenhuma credibilidade. Na CBT havia apenas dois funcionários naquela época. Ele foi um péssimo administrador.
<b>Gustavo Kuerten</b>
<b>NN:</b> Torço muito por ele, é um ídolo. Acho que errou em ter feito um boicote contra mim. Um jogador deve ter a honra de representar seu país. Nunca deveria tomar uma posição política, até por estar defendendo as cores do Brasil, não a CBT e, muito menos, minha pessoa. Tomara que jogue o tênis que ele sabe e pode render. Como tenista, é fantástico.
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