A crise política vivida nas últimas semanas no centro de Kiev, capital da Ucrânia, vem tirando o sono de muitos brasileiros que por lá estão e até mesmo o de alguns que vivem por aqui. As diversas manifestações que atingem a cidade desde novembro do ano passado, devido à não assinatura de um acordo de cooperação com a União Europeia pelo presidente deposto Viktor Yanukovich, virou motivo de tensão para o atacante Junior Moraes, revelação do Santos e autor do gol que deu ao Peixe o título paulista de 2007 contra o São Caetano, e que atualmente defende as cores do Metallurg Donetsk.
Em entrevista ao Virgula Esporte, o jogador de 26 anos relatou como está sendo o dia a dia no país, cujo campeonato nacional de futebol foi paralisado por conta do intenso clima de guerra, a preocupação de seus familiares com situação na Ucrânia, agora sob comando do governo interino, empossado em fevereiro, e revelou a existência de pedidos e propostas para deixar o futebol ucraniano.
“Eu vivo aqui em Donetsk, que está mais tranquilo, pois não tiveram protestos com mortes. Mas não sabemos o que pode acontecer daqui pra frente”, afirmou o atacante, lembrando que agora as atenções se voltaram para a Crimeia, região autônoma da Ucrânia de maioria alinhada à Rússia, que convocou um referendo sobre sua soberania, deixando mais tensão no ar sobre a situação de outras partes da ex-república soviética.
“Todos aqui estão preocupados, pois não sabemos o que pode acontecer. Os diretores do clube falaram para eu ficar bem tranquilo, que vai ficar tudo bem, mas é um clima de tensão”, disse Moraes, que tem contrato até junho de 2015 com o clube ucraniano.
Morando com sua esposa em Donetsk, cidade a 710km da capital Kiev, o atacante disse que está sempre em contato com seus familiares no Brasil e que eles pedem incessantemente pelo seu retorno ao país, temendo por sua vida.
“Minha família pediu para eu voltar ao no Brasil e não fica mais na Ucrânia, pois estão com medo”, relatou o atacante, que também defendeu as cores de Santo André e Ponte Preta em sua passagem pelo futebol brasileiro.
Propostas para deixar a Ucrânia
Há quase três anos jogando na Ucrânia, além das passagens por CSKA Sofia, da Bulgária, e Gloria, da Romênia, Moraes deixa claro que deve mesmo deixar o futebol local nos próximos meses, principalmente pela situação política do país. Questionado se o Brasil era o destino favorito, o atacante recuou e rechaçou um possível retorno em breve.
“Sempre acompanho o futebol brasileiro. Sempre que posso assisto aos jogos. Vou te falar que tenho muitas saudades do Brasil. Eu saí muito novo para a Europa. Fico pensando como seria jogar de novo em meu país. Porém, eu não tenho intenção de voltar agora, acho muito cedo. Tive algumas sondagens e outras propostas concretas, como as do Trabzonspor, da Turquia, Freiburg, da Alemanha, PAOK, da Grécia, e Guangzhou R&F, da China”, disse Moraes, que não acharia ruim uma mudança cultural geral, como a do futebol chinês.
“Eu acho que agora seria o tempo ideal para mudar, mesmo sendo pra China, pois trata-se de uma proposta muito boa para todos e a situação que a Ucrânia vive deixa todos preocupados. Os chineses estão investindo forte e se organizando bem. Acredito que para os próximos anos vai ser um campeonato muito bom com jogadores de qualidade com nível de seleção”, completou, dando a entender sua preferência.
Além de Junior Moraes, o futebol ucraniano está recheado de brasileiros, como Diego Souza, Taison, Cleiton Xavier, Luiz Adriano, Ismaily, Douglas Costa, Fred, Wellington Nem, Ilsinho, Alex Teixeira e Bernard, que durante sua apresentação à seleção brasileira deixou claro seu descontentamento e preocupação com a situação vivida no país devido aos protestos.