<br>Que o futebol brasileiro perde seus jogadores para o exterior, assim que a janela de contratações internacionais é aberta, já não é mais novidade para ninguém. O que muitos não sabem, é que as maiores revelações nacionais estão sempre indo para os mesmo destinos. E o pior, desaparecendo. Um dos países que mais visa os atletas do Brasil é a Ucrânia, que não possui tradição alguma no esporte que é paixão em terras tupiniquins.

Nesta temporada, dois jogadores que estavam atuando em território ucraniano voltaram ao Brasil, e ganharam destaque nos clubes que os contrataram: Kléber, atacante do Palmeiras, e Diogo Rincón, meia do Corinthians. O primeiro foi campeão paulista pelo Verdão, que agora, tenta sua renovação de contrato para a seqüência do ano. Já Rincón é apontado constantemente pelo técnico Mano Menezes como o ‘ponto de equilíbrio’ da equipe alvinegra, além de ser um dos artilheiros do time na Copa do Brasil. Ambos, jogavam pelo Dínamo de Kiev, o maior clube ucraniano.

O que todos se perguntam é o porquê de jogadores de tanta qualidade terem se transferido para um país de pouca, ou quase nenhuma, história no futebol. "Não seria mais conveniente eles continuarem atuando em seus clubes no Brasil, ou então, acertar sua ida para um clube dos campeonatos do grande centro europeu ?", questionam-se alguns torcedores. Kleber e Rincón eram gratas revelações de São Paulo e Internacional, respectivamente, quando foram sondados pelo Dínamo e seduzidos pelas cifras milionárias, oriundas da hegemonia do leste europeu nas áreas petrolíferas do mundo.

O jogador que opta por vestir a camisa de um clube ucraniano sabe dos riscos que está correndo. No leste europeu, muitas dificuldades de adaptação são encontradas. Além do idioma desconhecido e da culinária local, os campeonatos e copas da Ucrânia são disputados em temperaturas baixíssimas, que chegam a 20 graus negativos. O atleta também tem conhecimento de que pode estar dando adeus às chances na seleção brasileira. Apesar de os jogos na Ucrânia não serem noticiados por aqui, os jogadores brasileiros costumam fazer bonito por lá, onde são verdadeiros ídolos, sendo "esquecidos" apenas por nós.

Depois de Rincón, negociado em 2002, e Kléber, que chegou ao Dínamo dois anos depois, as vendas para a Ucrânia cresceram em larga escala. De 2002 a 2007, foram 45 transferências, a maioria de atletas desconhecidos, destaques em clubes pequenos. Nossas gratas revelações, aquelas que apareciam na Copa São Paulo de futebol júnior e nas seleções brasileiras de base, tiveram como destino o Dínamo de Kiev ou o Shakhtar Donetsk, outro grande time ucraniano.

Elano, bicampeão brasileiro pelo Santos em 2002 e 2004, estava desaparecido no Shakhtar Donetsk, até ser contratado pelo Manchester City e voltar a ser convocado pelo técnico Dunga. Ilsinho, promessa da lateral-direita de Palmeiras e São Paulo, e que também foi para o Shaktar, tem seu nome pouco comentado, tanto como referência de bom futebol, como para presença na seleção. Michael, meia do Verdão, Jadson, habilidoso meio-campista do Furacão, Brandão, um dos artilheiros de anos atrás do São Caetano…, todos preferiram aumentar o valor de suas contas bancárias em detrimento de consolidarem suas carreiras aqui e se valorizarem ainda mais.

Este é o fator determinante para que o jogador vá para a Ucrânia. Nestes últimos anos, os valores de negociação com o futebol ucraniano aumentou, também, em grande proporção. Em 2002, por exemplo, quando o Inter-RS vendeu Rincón ao Dínamo de Kiev, os cofres colorados receberam cerca de 800 mil dólares. Ano passado, na venda mais rentável da sua história de 98 anos, o Corinthians negociou o meia William por US$ 19 milhões, algo em torno de R$ 34 milhões. Lembrando que após a saída de William, o Timão entrou em colapso e os bons jogos da equipe desapareceram, culminando no rebaixamento para a Série B do Campeonato Brasileiro.

A pergunta que fica no ar é quando esta situação vai terminar, ou, pelo menos, ser modificada. Até quando nossos clubes vão sucumbir a altos valores, mesmo que isso custe um descenso no campeonato local e a desmoralização da entidade? Sempre iremos perder atletas, que se valorizados por mais tempo, poderiam dar um retorno maior ao futebol brasileiro? Nossa seleção vai ser refém dos mesmíssimos jogadores de sempre, visto que as novidades que aparecem, vão se esconder do outro lado do mundo atrás de dólares?


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Especial: Ucrânia, o túmulo de revelações brasileiras

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