Diante de uma torcida totalmente contrária, como também de um dos adversários mais frágeis que já enfrentou em toda a sua história, a Espanha jogou em ritmo de treino no Maracanã nesta quinta-feira (20) e mesmo assim derrotou o Taiti por 10 a 0, praticamente se garantindo nas semifinais da Copa das Confederações.

Com o resultado, a atual campeã lidera o grupo B de maneira isolada, com seis pontos. Para se classificar, a Fúria precisa que a Nigéria, que tem três, não perca para o Uruguai em um confronto que acontece ainda nesta quarta, em Salvador.

O Taiti, por sua vez, está eliminado, mas já ganhou com folgas o troféu simbólico de equipe mais simpática da competição. Além disso, luta pelo prêmio fair play da Fifa, já que, mesmo tendo sofrido 16 gols em duas partidas – caiu por 6 a 1 para os nigerianos – não recebeu um cartão sequer.

A goleada espanhola foi a maior da história da Copa das Confederações, superando os 8 a 2 feito pelo Brasil em cima da Arábia Saudita em 1999, e a segunda maior do Maracanã. O recorde ainda é do Flamengo, que em 1956 bateu o São Cristóvão por 12 a 2.

Fernando Torres foi o grande artilheiro do dia, com quatro bolas na rede. Villa marcou três vezes, David Silva, duas, e Mata fechou a conta.

A torcida no Maracanã foi quase toda para o campeão da Oceania, que entrou em campo aos gritos de “o Taiti chegou”. Durante o jogo, principalmente no começo, a postura do público foi de quem torcia por um time brasileiro contra um estrangeiro em uma competição internacional, com vaias para a “visitante” Espanha e cânticos de apoio aos “donos da casa”.

Vista – com razão – como a principal adversária do Brasil no torneio, a campeã mundial e bicampeã europeia também teve que ouvir os gritos de “Espanha, pode esperar, a sua hora vai chegar”, em referência a uma possível final contra a seleção anfitriã.

Também houve espaço para fazer coro aos protestos Brasil afora. De maneira uníssona, pôde ser ouvido o lema “o povo unido jamais será vencido”, tão exclamado em manifestações atuais e de outros tempos, e o Hino Nacional.

O técnico Vicente del Bosque poupou dez jogadores que entraram em campo na partida de estreia, na qual a ‘Fúria’ venceu o Uruguai em Recife por 2 a 1. Apenas Sergio Ramos esteve em campo desde o começo.

Conforme disse ontem, Del Bosque decidiu revezar os goleiros na primeira fase do torneio, e hoje optou por Pepe Reina. O titular Iker Casillas atuou contra os uruguaios, e com isso, ao que tudo indica, Victor Valdés jogará contra a Nigéria no domingo em Fortaleza.

Assim como Del Bosque, o técnico do Taiti, Eddy Etaeta, trocou de goleiro para a partida de hoje. Titular na derrota para a Nigéria por 6 a 1, Xavier Samin deu lugar a Mikael Roche. Além disso, o treinador trocou Simon por Lemaire na lateral esquerda.

Com o presidente da Fifa, Joseph Blatter, na Turquia para o início do Mundial Sub-20, que começa neste sábado (22), a entidade foi representada no Maracanã por seu secretário-geral, Jérôme Valcke.

Mesmo com dez reservas, a Espanha precisou apenas de quatro minutos para fazer valer sua superioridade técnica. Torres entrou na área pela esquerda, aproveitou o posicionamento ruim do goleiro e tocou no canto direito.

Era muito cedo, e o gol foi pouco para desanimar o torcedor. Assim que a Fúria abriu o placar, surgiu na arquibancada os gritos de “Vamos virar, Taiti”. Contudo, foi Torres quem voltou a aparecer bem. Aos 10 minutos, o camisa 9 recebeu de Villa, acelerou pela direita e, já dentro da área, finalizou por cima do travessão.

A empolgação do público era tamanha que até a cera feita pelo goleiro Roche, ainda com menos de 15 minutos de partida, foi comemorada. A boa defesa feita por ele, saindo nos pés de Torres após cruzamento rasteiro de Azpilicueta, foi celebrada como um gol, aos 19.

Cinco minutos depois, enfim, o Taiti apareceu bem no campo de ataque. E não foi em uma jogada qualquer. Chong Hue partiu do campo de defesa, entortou a marcação e só foi parado com falta já perto da área. A cobrança de Vahirua, contudo, acertou a barreira.

Se dizem que time ruim consagra goleiro razoável, Roche ia aparecendo. Aos 29, Villa colocou Cazorla na cara do gol, mas o meia do Arsenal parou na boa intervenção do arqueiro taitiano, que ainda se livrou de levar o segundo um minuto depois, quando Torres rolou para o meio em vez de chutar e Vallar interceptou.

Logo na sequência, porém, a Espanha desencantou. Aos 31 minutos, Villa fez boa jogada na entrada da área e passou para Silva, que tocou na saída de Roche.

Nem bem a torcida lamentou o golpe, e os espanhóis marcaram 3 a 0 aos 33. Torres tocou para Silva, que, de perto da linha do meio de campo, esticou para o centroavante. O jogador do Chelsea driblou o goleiro ainda fora da área e empurrou para a meta vazia.

Teve início então uma pressão espanhola, quase sempre com jogadas pelas pontas. Aos 36, Villa foi acionado pela esquerda, dominou com estilo e encheu o pé, acertando o lado de fora da rede.

Mas aos 39 não houve como evitar o quarto, marcado pelo próprio Villa. Silva fez o desarme no meio, arrancou e serviu o camisa 7, que chutou rasteiro no canto direito.

A movimentação no placar não desanimava a torcida pró-Taiti, que comemorou novo “gol” nos acréscimos. Cazorla conseguiu o “feito” de receber cartão amarelo em um confronto tranquilo como o desta quarta e fez a alegria dos presentes.

Nem bem a bola rolou no segundo tempo, os torcedores gritaram “olé” na primeira troca de passes dos ‘Toa Aito’, mas rapidamente lamentou mais um gol sofrido. Logo aos quatro minutos, Monreal cruzou rasteiro da esquerda e Villa fez mais um.

Mesmo goleando, a Espanha dava poucos espaços para o adversário atacar, e, nas poucas vezes em que aparecia na frente, o Taiti tropeçava nos próprios pés. Aos nove minutos, Vahirua desceu pela direita e levantou para Teaonui Tehau. O atacante, que acabara de entrar, errou o domínio e desperdiçou a oportunidade.

A resposta foi dada pouco depois, aos 11, e foi a melhor possível. Azpilicueta adiantou para Navas, que chegou até o fundo e rolou para Torres assinalar um “hat-trick”.

De uma maneira bem humorada, a briga com quem estava nas arquibancadas foi ficando “pessoal”. A torcida primeiramente ensaiou mais um “vamos virar, Taiti”, mas o canto mais ouvido foi o de “pentacampeão” numa provocação ao fato de a Fúria ter apenas um título mundial, obtido há três anos.

Após boa atuação na primeira etapa, Roche falhou feio no sétimo gol espanhol, marcado aos 18 minutos. Após lançamento longo, a bola estava fácil para a defesa, mas o goleiro não a segurou e permitiu que Villa também balançasse a rede pela terceira vez.

Nem bem Roche se levantou após a falha e já levou o oitavo, que aconteceu aos 20. Mata tabelou com Silva na meia-lua, entrou na área e deixou o dele com uma finalização rasteira.

Mas se alguém achou que o goleiro taitiano se abateu após buscar a bola no fundo do gol tantas vezes, se enganou. Após fazer boa defesa em cobrança de falta de Villa, aos 24, ele se levantou, estendeu os braços para ser ovacionado.

A Espanha tirou o pé, e o futebol, que estava em segundo plano em meio a gritos de apoio no Maracanã às manifestações que tomaram conta das ruas do Brasil nos últimos dias, só voltou a ser o foco com a aplaudida entrada de Iniesta no lugar de Cazorla, aos 31.

Um minuto depois, houve mais euforia, com um pênalti perdido por Torres, que acertou o travessão e viu a bola sair. Aos 33, entretanto, o camisa 9 se redimiu e deixou sua marca mais uma vez. Ele arrancou desde o meio de campo, passou pelo goleiro novamente e bateu para o gol.

O décimo poderia ter acontecido aos 40, quando Torres rolou da direita para Villa, mas a zaga cortou de carrinho. Porém, aos 43, Villa girou dentro da área e arrematou no canto direito de Roche, fechando a conta. Nada que impedisse que a festa acabasse com as equipes deixando o gramado ao som de gritos de “Taiti, Taiti” e de uma bela ovação ao campeão da Oceania.

Ficha técnica:

Espanha: Reina; Azpilicueta, Albiol, Sergio Ramos (Navas) e Monreal; Javi Martínez, Cazorla (Iniesta), Silva e Mata (Fàbegas); Torres e Villa. Técnico: Vicente del Bosque.

Taiti: Roche; Caroine, Ludivion, Vallar e Lemaire (Vero); Jonathan Tehau, Bourebare (Lorenzo Tehau), Chong Hue, Aitamai e Vahirua; Alvin Tehau (Teaonui Tehau). Técnico: Eddy Etaeta.

Árbitro: Djamel Haimoudi (Argélia), auxiliado pelo compatriota Abdelhak Etchiali e por Redouane Achik (Marrocos).

Cartão amarelo: Cazorla (Espanha).

Gols: Torres (4x), Silva (2x) e Villa (3x) e Mata (Espanha).

Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.


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Espanha cumpre expectativas e enche as duas mãos contra o Taiti: 10 a 0

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