Nunca a bola foi tão bem tratada. Em um encontro histórico, Pelé e Maradona trocaram passes de cabeça em uma cena épica na estréia do programa <i>La Noche del Diez</i> (em português, "A Noite do Dez", número da camisa com que jogava Dieguito), na noite desta segunda-feira.
O programa apresentado por Maradona contou com a presença de outros personagens ilustres. O ex-goleiro da seleção argentina Sergio Goycochea, a ex-tenista Gabriela Sabatini, o ex-atacante Gabriel Batistuta, atriz italiana María Grazia Cucinotta, o cantor Diego Torres e o ator Ricardo Darin. Mas nada como a presença de Pelé, último a entrar no palco.
Antes da entrada do brasileiro, foi apresentado um curto desenho animado com Maradona como "Papaléguas" e Pelé como "Coiote", um tentanto ficar com o número 10 da camisa do outro.
Tido como "Deus" na Argentina, Maradona se rendeu à majestade de Pelé e, por algumas vezes, chamou o craque brasileiro de "Rei". No maior clima de cordialidade, os dois maiores gênios do futebol pareciam amigos de longa data que há muito não se viam e que já mais haviam tido desavenças.
Sentados frente a frente em uma mesa com as bandeiras do Brasil e da Argentina pintadas ao centro, os mitos falaram sobre fama, falta de privacidade, até chegarem a assuntos mais delicados como as drogas.
"Rei, sei que é uma pergunta difícil. Se eu não largasse a droga, eu estaria morto. Agradeço a Deus e às minhas filhas pela minha recuperação. Se você quiser comentar, comente. Se não, não precisa. Eu quero te dar toda a minha solidariedade e a minha força como pai pelo episódio que você está passando", afirmou "um" Maradona magro, que nem de longe lembra o homem que quase morreu há pouco mais de um ano pelo excesso de peso e problemas cardíacos.
"Meu filho estava com pessoas com quem não devia e isso pode acontecer com qualquer um. Você é um exemplo para ele. Você está fazendo um programa para todo o mundo. Podemos, juntos, fazer muito contra as drogas. Com fé em Deus, tudo se pode", completou Pelé.
Para dar uma cutucada nos <i>hermanos</i>, Pelé perguntou sobre a "água batizada" oferecida aos brasileiros na Copa de 1990. Maradona driblou com a mesma classe que desfilou nos campos. "Eu digo o pecado, mas não o pecador. Esse episódio foi notório, assim como a superioridade do Brasil nesse jogo", escapou com risos.
No fim, Maradona e Pelé trocaram camisas de suas seleções autografadas e deram mais um caloroso abraço na noite em que os dois maiores 10 da história do futebol deixaram de lado qualquer desentendimento passado e proporcionaram um encontro de deuses.