<i>Paulista de Guarulhos, o meio-campo Edu arrumou as malas para a Inglaterra logo depois de conquistar o Torneio da Fifa, pelo Corinthians, em 2000. Jogando hoje no Arsenal, parece totalmente adaptado à vida na capital inglesa. Há 8 meses, ele e sua mulher curtem o filho Luigi. " O nome foi escolha minha e da minha esposa. Mas não tem nada a ver com Itália, nem com família", explica.

Operado após sofrer uma fratura no pé direito, Edu aproveita o tempo livre para descansar em seu flat na Rua Bela Cintra, região central de São Paulo, onde concedeu uma entrevista coletiva. "Estou no Brasil há uma semana. Quando venho pra cá, não saio de São Paulo", conta.

Em clima descontraído, o meia do Arsenal e da Seleção conversou com o <b>Vírgula</b> sobre Brasileirão, futebol inglês, racismo e seleção brasileira. Confira!</i>

<b>Vírgula – O que você está achando do nível do Brasileirão?</b>
<b>Edu – </b>Agora o nível cresceu. No começo, o campeonato não estava no nível que eu esperava. Eu falava: "Pô, os jogos estão lentos, os times não estão atacando". Mas, do meio do campeonato pra frente, os jogos ficaram mais fortes, disputados, bonitos de ver, empolgantes. Acho que agora o campeonato pegou o nível que realmente merecia.

<b>Vírgula – E você arrisca um palpite para o campeão?</b>
<b>Edu – </b>O Atlético-PR está embalado, mas o Santos não deixa ele fugir. Eu acho que está entre os dois, não foge disso. Porque, se um vacilar, o outro pega. Se o Atlético der um tropeço, o Santos pega. Eu já trabalhei com o Vanderlei, sei como ele é.

<b>Vírgula – Você é a favor da fórmula de "pontos corridos"?</b>
<b>Edu – </b>Eu sou, porque o melhor time durante a competição toda é que vai ganhar. No quadrangular, o primeiro joga contra o oitavo, que fez uma campanha bem pior. E em dois jogos você decide uma eliminação? Eu não acho justo. Justo é vencer quem joga durante todo o campeonato bem, não quem joga uma ou duas partidas bem. Uma eliminação pode ser decidida por um dia em que você não está se sentindo bem.

<b>Vírgula – E você não acha que perde um pouco de emoção?</b>
<b>Edu – </b>Olha, eu até dei entrevista achando que ia perder. Eu não sabia se o brasileiro acompanharia o campeonato, eu achava: Ah, se o time que está em 10º jogar contra o 12º não vai ninguém. Mas eu queimei a língua.

<b>Vírgula – Quem você acha que deveria receber o prêmio da Fifa de melhor jogador do mundo?</b>
<b>Edu – </b>Em termos de grandes jogadores, tudo depende do momento que ele vive. Seis meses atrás, quem estava se destacando era o (francês, Thierry) Henry. Se ele chutasse a bola pro alto, ela caía no gol. Só que, hoje, quem está vivendo esse momento é o (Ronaldinho) Gaúcho. Eu acho que quem merece, hoje, é ele.

<b>Vírgula – O jornal espanhol <i>Ás</i> publicou hoje uma matéria dizendo que o Figo e o Raúl (ambos do Real Madrid) são racistas. Como você sente essa questão na Europa. Há racismo no seu time?</b>
<b>Edu – </b>Isso me surpreendeu muito. Na Inglaterra não tem racismo. Pelo menos eu nunca vi. Na seleção inglesa há muitos jogadores de cor, todos muitos reconhecidos. O Ashley Cole (lateral-esquerdo, companheiro de Edu, no Arsenal) é uma estrela lá, todo mundo adora ele. No meu time é uma mistura de raça tão grande, acho que temos 15 nacionalidades diferentes. Por isso, não temos esse tipo de problema.

<b>Vírgula – Você já presenciou cenas de racismo em jogos pela Europa?</b>
<b>Edu – </b>Presenciei. Nós fomos jogar contra o PSV, na Holanda, e quase 90% do meu time era de negros. Quando a gente fazia gol, o pessoal da torcida fazia imitação de macaco. Mas nós nem ligamos, enfiamos 3 neles. No Arsenal, eu fiz uma campanha junto com o Vieira, chamada "Cartão Vermelho para o racismo". Nós fizemos uma ótima palestra e, agora, acho que as pessoas estão começando a mostrar mais a cara.

<b>Vírgula – Um latino branco, como você, sofre racismo por ser latino?</b>
<b>Edu – </b>Não, muito pelo contrário. Eles nos recebem muito bem. A receptividade que eu tive lá não é brincadeira.

<b>Vírgula – Qual é a diferença entre o futebol inglês e o brasileiro?</b>
<b>Edu – </b>A velocidade do jogo é completamente diferente, é muito mais rápido. Os juízes apitam de uma maneira extremamente diferente.

<b>Vírgula – Eles deixam mais o jogo correr…</b>
<b>Edu – </b>É, porque contato existe dentro do jogo de futebol. É impossível você jogar 90 minutos sem ter contato. Só que, no Brasil, qualquer tipo de contato é falta. Lá não. Se um estiver puxando o outro, quem tiver mais força ganha. Se o jogador cai porque teve um encontrão, é problema dele. Isso deixa o jogo mais legal, porque fica mais corrido, não pára tanto.

<b>Vírgula – Esses quatro anos na Inglaterra influenciaram a sua maneira de jogar?</b>
<b>Edu – </b>Muito. A rapidez foi muito importante. Foi muito bom aprender a ter essa reação rápida de tocar e já estar sempre esperando que alguém vá tomar a bola. Isso te dá mais velocidade. Às vezes você pode se surpreender, jogando dessa maneira.

<b>Vírgula – E as Eliminatórias da Copa do Mundo? Nós temos um elenco fantástico mas que, muitas vezes, decepciona. O público parece querer o Adriano como titular e, se a seleção der mais uma tropeçada…</b>
<b>Edu – </b>Não vai tropeçar. É uma situação muito difícil. O Adriano é um jogador que está num baita momento, mas é complicado. Na frente você tem Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká. Se você colocar o Adriano vai tirar quem? Ou o Ronaldo ou o Gaúcho. Aí depende do "patrão"…(risos) Mas, que é complicado, é.

<b>Vírgula – E você acha que a altitude atrapalhou a seleção na derrota contra o Equador?</b>
<b>Edu – </b>Eu joguei em altitude e sofri pra caramba. Nos primeiros jogos da Copa América, eu não conseguia jogar o que vinha jogando. Tinha tontura, sentia gosto de sangue na boca, dava um pique e depois não conseguia voltar. Não cheguei a desmaiar, não precisei de oxigênio nem nada, mas, em um jogo de 90 minutos, é difícil. Eu vi as entrevista dos jogadores e estou do lado dos caras.


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Edu: 'A Seleção não vai mais tropeçar'

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