<i><b>Por João Ricardo Cozac</i></b>

Que pena. A tão sonhada medalha olímpica escapou das mãos de Daiane dos Santos. A atleta, visivelmente insegura, amargou apenas um quinto lugar. Campeã mundial em Anaheim, Daiane era uma das esperanças de medalha brasileira em Atenas. O técnico da ginasta, o ucraniano Oleg Ostapenko, acha que a cirurgia à qual a atleta submeteu-se há cerca de dois meses comprometeu o seu rendimento. Além da parte física, Ostapenko atribuiu o insucesso da atleta aos fatores psicológicos e emocionais decorrentes da cirurgia. Daiane, por sua vez, afirmou que errou. Ela tem crédito suficiente com o povo brasileiro. A menina tem carisma e é extremamente esforçada. Será, sem dúvida, uma potência difícil de ser batida nas próximas Olimpíadas.
A medicina esportiva é uma ciência em pleno desenvolvimento. Atualmente, vários médicos buscam especializações na área do esporte, como alternativa diante de um mercado estagnado. A demanda principal é o trabalho com atletas lesionados. A ciência moderna já oferece aparelhagem e técnicas bastante eficazes no tratamento das lesões. Entretanto, pouco é discutido sobre o papel psicológico no desencadeamento destas lesões.

Grande parte das lesões encontra suas origens no mundo mental. Um estado de ansiedade, por exemplo, pode produzir contrações musculares involuntárias, predispondo o atleta a futuras lesões. O estresse psicológico, possivelmente gerado por um alto grau de ansiedade e/ou expectativa, debilita fisicamente o atleta, diminuindo suas defesas orgânicas. A falta de motivação e baixa capacidade de foco na atenção de performance completam o quadro das causas psicológicas que, muitas vezes, dão origem às lesões crônicas.

Diante deste panorama, a Psicologia do Esporte oferece ferramentas imprescindíveis para a prevenção da saúde física do atleta. Infelizmente são ainda pouco conhecidas e valorizadas pelos treinadores, dirigentes e atletas.

A teoria do “U invertido” que descreve o “nível ótimo de performance” associa esse patamar à capacidade de relaxamento, posterior ativação e adequada preparação competitiva do atleta. Os craques e gênios do esporte conseguem se manter neste ponto durante boa parte do tempo. Esta teoria não se refere apenas às qualificações psicológicas; ela descreve também o nível ótimo do rendimento físico, tático e técnico.

A teoria do “U invertido” demonstra que, para cada atleta, existe um nível de ativação particular. Neste caso, não existe uma regra que possa ser generalizada a todos os desportistas. A energia de ativação que cada indivíduo necessita para iniciar uma partida e se manter no topo de seu rendimento é inerente a cada atleta. Extrapolar estes níveis pode vulnerabilizá-lo às lesões.

O(a) atleta afastado(a) dos treinos e das competições por conta de uma lesão, pode ter o tempo de recuperação reduzido de acordo com sua postura psicológica. É muito comum, durante este forçoso afastamento, surgirem quadros de depressão e apatia que precisam ser cuidados com a mesma importância de uma lesão física.

Normalmente, não há um suporte psicológico adequado para estes atletas e, com isso, o sofrimento e o tempo de recuperação são ampliados.

Já está comprovado cientificamente que uma postura otimista, seguida de exercícios de visualização de performance e de energização mental na área lesionada encurtam, significativamente, o tempo de recuperação, acelerando o retorno do atleta às suas atividades profissionais.

No caso de Daiane, certamente a insegurança tomou conta de seu corpo. Mais uma vez, a esfera mental deixa seu recado. No entanto, nada tem sido feito para mudar este quadro. Nossa ginasta treinou suas habilidades técnicas e físicas durante vários meses. Empenhou-se nos treinamentos e conquistou vários títulos pelo mundo. Esqueceram, no entanto, de priorizar os aspectos psicológicos desta jovem atleta. Deu no que deu. Vamos torcer para que nossa ginasta continue firme nos treinos e aproveite a experiência da disputa de sua primeira Olimpíada.

A psicossomática é uma ciência. Todos nós sabemos que uma gama variada de doenças físicas encontra suas origens na esfera psicológica. A mente, nestes casos, pode ser a causadora e uma importante aliada na recuperação do indivíduo.

Alguém ainda duvida?

<i><b>João Ricardo Cozac</b> é psicólogo formado pela PUC-SP. Atua no esporte há 11 anos. Professor de psicologia do esporte na Universidade Mackenzie de São Paulo. Presidente da Consultoria, Estudo e Pesquisa da Psicologia do Esporte (www.ceppe.com.br). Atende atletas de diversas modalidades em consultório. Atuou em grandes equipes do cenário futebolístico brasileiro. Colunista do site “Gazeta Esportiva.net” .Autor do livro ‘Com a cabeça na ponta da chuteira: um ensaio sobre a Psicologia do Esporte’, pela editora Anablume, e ‘Psicologia Esportiva: reflexões e prática’, em fase final de edição.</b>

<a href="http://www.virgula.me/esporte/phps/interna.php?id=4102" target="_blank"><b><font color="#FFFFFF">A psicologia do esporte</font></b></a>

<a href="http://www.virgula.me/esporte/phps/interna.php?id=4176" target="_blank"><b><font color="#FFFFFF">Futebol, sociedade e cultura</font></b></a>

<a href="http://www.virgula.me/esporte/phps/interna.php?id=4205" target="_blank"><b><font color="#FFFFFF">Psicologia e rendimento: um encontro necessário</font></b></a>

<a href="http://www.virgula.me/esporte/phps/interna.php?id=4409" target="_blank"><b><font color="#FFFFFF">Com a mente nos Jogos</font></b></a>

<a href="http://www.virgula.me/esporte/phps/interna.php?id=4462" target="_blank"><b><font color="#FFFFFF">Brasil, o país do vôlei?</font></b></a>

<a href="mailto:colunistas_esporte@corp.virgula.me"><font face="Verdana" color=#FFFFFF>Mande um e-mail dizendo o que você achou da Coluna</font></a>


int(1)

Cozac: Lesão e mente derrubam Daiane

Sair da versão mobile