"Vamos, Carlos! Vamos! Força máxima!". Os gritos de incentivo do treinador Cássio fazem Carlos Silva aumentar a velocidade e as passadas, e disparar rumo à medalha de ouro pan-americana na prova dos 1500m. Só que o apoio não vinha de fora da pista e, sim, dali de dentro.
Unidos por um pequeno cordão, fortemente agarrado em seus puxadores, ambos correm lado a lado. Cássio é guia e treinador de Carlos, de 23 anos, deficiente visual total desde os 16 anos de idade.
Basicamente individual, o atletismo ganha novas caracterísitcas quando se trata da prática para cegos. Guia e atleta parecem ser um só, em um amálgama que impressiona pela precisão. "O guia é seu olho, quem incetiva, quem comanda", explica Carlos ao <b>Virgula Esporte</b> logo após vencer a prova na quinta-feira (08 de setembro), na categoria B1 (deficiência visual total), no estádio Mauro Pinheiro, em São Paulo.
"Busco obedecer todas orientações. Se ele disser força máxima, por exemplo, é para ir com tudo mesmo", conta o atleta sobre a confiaça no treinador. A chave para o sucesso da dupla está na repetição. "A afinidade vem com os treinos e muito trabalho", conta o técnico Cássio.
Por participar em duas funções na preparação do atleta, Cássio acredita que a dupla leva uma vantagem a mais por permitir um maior entrosamento. "Isso não era muito comum, mas está aumentando aos poucos", diz sobre a inovação.
Seis vezes por semana, em Belo Horizonte, os dois estão juntos nos treinamentos. Mas, como na maioria dos esportes "amadores", o capital é curto. "O incentivo é precário", dispara o técnico. "Pode-se dizer que é quase zero" emenda o atleta.
Sendo assim, o expediente de treinos não é a única ocupação dos dois. Como a grana é curta, eles tem seus trabalhos paralelos. Cássio é treinador em outra entidade, onde recebe bolsa-auxílio, enquanto Silva é auxiliar de radiologia em um hospital da capital mineira.
Sem problemas para tratar do assunto, Silva contou que sua adaptação à cegueira total foi "até tranquila por sempre ter sido parcial" sua visão, até perdê-la por completo aos 16 anos. Desde então está no atletismo. "Meu sonho é correr em uma Paraolimpíada", sintetiza sobre seu maior desejo.
Apesar de todas dificuldade, o que leva Cássio e Carlos a não desistirem? "Só mesmo a paixão pelo esporte. E reconhecimento, mesmo que pequeno. Mas principalmente o amor pelo atletismo", diz em coro a dupla.
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