Faltando pouco mais de sete meses para a abertura do Copa do Mundo no Brasil, foi definida a classificação de um país que disputará o maior torneio de futebol do planeta pela primeira vez. Trata-se da Bósnia Herzegovina. A seleção bósnia fez uma campanha tão competente quanto surpreendente nas eliminatórias europeias.
Líder do Grupo G, a Bósnia venceu oito partidas, empatou uma e sofreu apenas uma derrota, em uma chave com Grécia, Eslováquia, Lituânia, Letônia e Liechtenstein. Mas não era de hoje que os bósnios mereciam estar entre as 24 seleções participantes de um Mundial. Nas eliminatórias para a Copa de 2006, na Alemanha, a Bósnia brigou até a última rodada em uma disputa extremamente difícil, contra Sérvia e Espanha. No jogo final, uma derrota por 1 a 0 para os sérvios acabou decretando a terceira colocação no grupo, e a consequente eliminação.
Quatro anos depois, na tentativa de chegar à Copa da África do Sul, a Bósnia esteve ainda mais perto. Novamente na mesma chave da Espanha, o país resultando da dissolução da Iugoslávia foi mais longe e alcançou o segundo lugar, conseguindo o direito de disputar a repescagem. Porém, nos confrontos decisivos diante de Portugal, duas derrotas novamente pelo placar mínimo adiaram o sonho mais uma vez.
Mas para 2014 eles estão garantidos, e a melhor geração dos 20 anos de história da seleção bósnia é muito merecedora desse triunfo. Comandado pelo treinador Safet Susic, o time tem como principal destaque o setor ofensivo, com Edin Dzeko, do Manchester City, vice artilheiro das eliminatórias europeias com dez gols em dez jogos, atrás apenas do holandês Robin Van Persie, com 11, e Vedad Ibisevic, do Stuttgart, que marcou nove. Com grande participação da dupla, a Bósnia marcou impressionantes 30 gols em toda a campanha, média de três gols por jogo. Além disso, a defesa foi uma das mais sólidas do torneio, com apenas seis gols sofridos. Uma união de virtudes essencial para a classificação, em um país que tem sua história marcada pela divisão.
A Bósnia será o 81º país a participar de uma Copa pela primeira vez, e o quinto Estado ex-iugoslavo a disputar um Mundial. Surgido em 1929, a Iugoslávia, de maioria sérvia, reuniu em 1945 seis repúblicas (Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedônia) e duas regiões autônomas (Kosovo e Voivodina). Os iogualvos disputaram oito Copas, a última delas na França, em 1998. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, as repúblicas exigiram a soberania. Dois anos depois, a Eslovênia alcançou sua independência, seguida da Croácia, que esteve nas Copas de 1998, 2002 e 2006. Os eslovenos foram ao Mundial do Japão e da Coreia do Sul e da África do Sul.
A Bósnia obteve sua independência após uma sangrenta guerra com os sérvios (e que deixou alguns jogadores da atual seleção como refugiados na infância), terminada com a assinatura do Acordo de Dayton em1995, que estabeleceu os limites territoriais do país. Frente ao intenso nacionalismo dos políticos bósnios, a seleção triunfou com jogadores muçulmanos, sérvios e croatas, as três principais etnias que compõem o país. Trata-se de muçulmanos, como Edin Dzeko, servo-bósnios como Miroslav Stevanovic ou bósnio-croatas como Zoran Kvrzic.
Após a vitória frente a Lituânia por 1 a 0 na última rodada das eliminatórias, que sgarantiu a classificação, um sentimento de euforia tomou conta do país balcânico durante vários dias, com milhares de pessoas nas ruas de Sarajevo para saudar os heróis em seu retorno.
Muito embora se imagine que o êxito da seleção seria uma oportunidade para unir os três povos bósnios, é bem pouco provável que a situação mude a curto prazo na região. A Bósnia, um país de quatro milhões de habitantes, quer se integrar à União Europeia (UE), mas está estagnada há anos por constantes divergências entre os líderes dos três povos. Ainda assim, mesmo que a passos lentos, os bósnios se firmam como país, ainda que as cicatrizes da guerra sejam profundas. E a vaga na Copa é muito importante em todo esse processo, não apenas para reafirmar o nacionalismo, como também é vital para unir uma população historicamente cindida, mas com um orgulho comum graças à seleção.
Veja abaixo o vídeo com a festa da população nas ruas de Sarajevo:
Veja o que você precisa saber sobre a seleção da Bósnia Herzegovina antes da Copa:
- Desempenho em Eliminatórias:
Desde sua separação da Iugoslávia, ficou em penúltimo em seu grupo nas eliminatórias para a Copa de 1998, na França. Quatro anos depois, obteve a mesma colocação na sua chave para a disputa do Mundial da Coréia e do Japão. Para a Copa da Alemanha, chegou perto e alcançou a terceira colocação no grupo. E na tentativa de chegar à Copa da África do Sul em 2006, conseguiu disputar a repescagem, mas foi derrotada por Portugal.
- Jogador com mais partidas disputadas:
– Zvjezdan Misimović – de 2004 até atualmente – 76 jogos -23 gols
- Principal artilheiro:
– Edin Dzeko – de 2007 até atualmente – 31 gols – 56 jogos
- Destaque da equipe:
– Vedad Ibisevic – atacante – Stutgartt (ALE)
- Treinador do time:
– Sefat Susic – 58 anos – ex-jogador, atuou pela seleção da Iugoslávia pelos anos de 1977 a 1990