O jornal espanhol AS está publicando uma série de entrevistas com o presidente da Fifa, Joseph Blatter e, na segunda parte, divulgada nesta quarta-feira (20), foram abordadas, principalmente, as questões climáticas e geográficas da Copa de 2022, que será realizada no Qatar.
Chamado de “Papa do Futebol” pelo periódico, o mandatário nunca aceitou bem a opção pelo emirado e lembrou e que as escolhas para as próximas sedes do maior torneio de futebol do mundo não serão mais feitas somente com os votos dos 25 membros do Comitê Executivo da Fifa, mas sim com os votos dos 209 presidentes das federações futebolísticas de cada país membro da entidade.
Sepp foi incisivo ao declarar que foi um erro a escolha simultânea de duas sedes para as Copas seguintes, como foi feito da última vez em que consagraram Rússia, para 2018, e o Qatar, para 2022.
“Isso foi um erro. Nunca mais voltarão a eleger duas sedes de mundial em um só dia. Foi um erro vendo do ponto de vista político, mas não no que se refere a questões de marketing e televisão”, criticou, lembrando também que as intrigas políticas que aconteceram durante as escolhas das sedes não compensarão os resultados econômicos das próprias candidaturas.
O secretário geral da Fifa, Jérôme Valcke, já comentou que a Fifa estaria aberta para que a Copa do Qatar aconteça no inverno do país árabe, o que mudaria a tradição de ela acontecer nos meses de junho e julho. Para Valcke, os qataris só precisam pedir. Mas, para Blatter, a história não é tão simples.
“Aqui não tem truque. O Mundial do Qatar foi escolhido para ser jogado entre os meses de junho e julho. Para que haja uma mudança e se jogue no inverno, é necessário que o país organizador, o Qatar, o peça. E ele ainda não o pediu. Eles sabem que se o fizerem, se pedirem a mudança que afete as condições básicas do Mundial, arriscam-se para que um outro país que tenha apresentado candidatura para 2022 impugne (a escolha qatari) ante à Fifa e tenha que se repetir a votação”, brandou o chefão.
Ainda sobre o país do Oriente Médio, foi abordado o fator temperatura que, na época em que se fará a Copa do Mundo, costuma chegar aos 45°C, além do tamanho do país, que é um dos menores de toda a Ásia.
“Sobre o Qatar há sempre uma interrogação, pois o Comitê Executivo votou democraticamente, mesmo com os informes técnicos da Fifa que alertavam, de forma muito clara, claríssima, sobre as dificuldades de se jogar ali por duas razões: o clima e o tamanho do país. Primeiro pelas altas temperaturas e depois pelo tamanho, pequeno para uma país organizador de Mundial. Por isso, o Comitê Executivo tem que assumir todas as críticas por sua decisão”, respondeu Blatter que, apesar de presidente, não é ele quem escolhe os membros do Comitê Executivo.
O presidente da Uefa, Michel Platini, é um dos “rivais” de Joseph Blatter no mundo do futebol. O ex-jogador francês tem uma ideia bem diferente da de Blatter sobre as formas de disputa de um grande torneio, que incluem utilizar mais de um país para sediá-lo, como fará na Eurocopa 2020.
“É um erro disputar um Mundial em países distintos”, respondeu, quando perguntado se isso poderia resolver o problema da temperatura e do tamanho do Qatar. “Fizemos isso em 2002, com a Copa do Japão e da Coreia, e isso não voltará a se repetir. Perde-se em identidade e emoção”.