Referência em contar a história de estrelas do futebol como Cristiano Ronaldo e Messi, o jornalista italiano Luca Caioli se arrisca agora com a biografia de Neymar, que segundo ele não será afetado pelo problema judicial de sua contratação pelo Barcelona.
“Neymar tem carisma, e isso não se compra no supermercado. É um menino muito equilibrado que não se deixa levar muito pelo que dizem sobre ele. Seu futebol é barroco, é um Dândi da bola”, afirmou, em entrevista à Agência Efe, o autor do livro Neymar, o último poeta da bola.
Em sua última obra, Caioli aborda a história do craque do Barcelona e da Seleção Brasileira por meio do relato de seu descobridor, passando por seus ex-companheiros de Santos, até chegar a técnicos importantes, como Felipão e Vicente del Bosque, da seleção espanhola.
O jornalista mergulhou nas origens do camisa 11 do clube catalão no Brasil, onde se construiu um “ídolo mercantil” que, de acordo com ele, está a caminho de ocupar o posto de maior ídolo do esporte brasileiro, uma “poltrona vazia” desde a morte de Ayrton Senna.
“Neymar faz parte de uma geração que viveu o crescimento do Brasil, mas que agora viu o crescimento se estagnar e os dados da economia piorarem. É a mesma geração que foi às ruas durante a Copa das Confederações dizendo: nos dão tênis de marca, mas não temos transporte, nem educação”, afirmou Caioli.
O lado mais “publicitário” de Neymar começou a aparecer em 2010. Diante de uma oferta de € 30 milhões do Chelsea, o Santos reagiu com um contrato milionário que associou a figura do jogador a 12 patrocinadores diferentes.
No livro, Caioli relata, por meio do ex-diretor de marketing do Santos, Armênio Neto, uma das cenas da negociação.
“Foi montada uma série de formas de convencimento. A primeira era uma poltrona vazia. O pai de Neymar disse: venho aqui falar de dinheiro. O que é isso?”, contou.
A resposta do então presidente do clube, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, foi atrevida: “Essa é a poltrona de maior ídolo esportivo brasileiro vazia. Depois da morte de Ayrton Senna, ela está livre. Neymar sentará aqui”.
E apesar de ter apenas 22 anos, no Brasil “Neymar é um deus, é uma estrela”, disse Caioli, que acha que “por mentalidade e forma de jogar”, sua trajetória não pode ser comparada com a carreira frustrada de Robinho.
“É a identidade do futebol brasileiro que tinha sido perdida desde os tempos de Ronaldinho Gaúcho“, acrescentou.
Neste sentido, o jornalista aponta que há “mais semelhanças do que diferenças” em relação a Messi e Cristiano Ronaldo, os atuais reis do futebol, pois Neymar sempre “tem vontade de melhorar, de ganhar, de se sacrificar”, e isso faz dele um jogador diferente dos demais.
No entanto, ser o centro das atenções desde os 17 anos fez com que nem tudo fosse um caminho de rosas em sua carreira.
Em 2010, por exemplo, criou-se um furacão midiático pela discussão em campo de Neymar com o então treinador do Santos, Dorival Júnior, que não o deixou bater um pênalti em uma partida contra o Atlético-GO.
“Aquele momento foi um marco em sua carreira. O sucesso subiu à sua cabeça. Todo mundo começou a chamá-lo de bad boy do futebol e ele recolocou os pés no chão”, afirmou Caioli.
Exatamente por isso, o jornalista acredita que o problema judicial referente ao custo da contratação de Neymar pelo Barcelona não deve afetar o jogador, desde que não acusem seu pai, com quem ele tem uma relação muito especial.
“Acho que podem afetar muito mais as acusações ao seu pai. É uma figura fundamental em sua carreira, e é lógico que isso pode lhe chatear”, concluiu.