<b><i>Por Betho Lima</i></b>
Caros amigos, são exatamente 12 horas da manhã de sábado (14/08) e até agora não tirei os olhos da televisão para poder acompanhar este princípio de cobertura de nossas emissoras de televisão. No geral, a cobertura está boa, mas algumas coisas já começam a me incomodar.
Uma delas é esta avalanche de ex-atletas como comentaristas, esta história "de que quem jogou sabe o que está falando e por isso tem competência para analisar". Para mim, isso precisa ser melhor estudado pelos dirigentes da TV esportiva (Uma vez, vi um comentarista responder a uma observação do Neto, ex-jogador e também atual comentarista, que disse : "O cara não jogou bola, não sabe o que está falando". Na hora ele respondeu: "Então está bem, no próximo Congresso de Obstétricia que houver, podemos colocar como palestrante uma parteira. Não é este o seu conceito para falar bem de um assunto? Basta ter executado a função. Aliás, isto pode servir para um pedreiro analisar um projeto de arquitetura".).
Não sou contra a utilização dos mesmos, desde que estas pessoas passem por um processo de formatação jornalística, que aprendam como falar, como se comportarem diante das câmeras e a frente de um microfone.
O que estou vendo são comentários deslumbrados, gaguejados e sem o conhecimento jornalístico. Quando digo isto é em relação a todo um estudo que um jornalista faz antes de passar qualquer informação, que é a lei básica da profissão.
Dou como o principal exemplo do que falo uma comparação básica – no jogo entre Brasil e Alemanha de vôlei feminino, Galvão Bueno tinha como sua comentarista a "ex" jogadora Leila. A menina não sabia falar, seus comentários eram de deslumbre, mais para torcedora do que para analista. Praticamente era o Galvão que forçava a linha de seu comentário. E para completar, fico sabendo que ela foi a Atenas para acompanhar seu namorado, que é jogador de vôlei de praia, e assistir a seus treinos. Nada contra o namoro, só que a dinâmica de uma cobertura Olímpica necessita de uma dedicação quase que religiosa, não há tempo para "namoros". E já que ela assumiu a função de comentarista, que tal assistir os treinos das outras seleções de vôlei feminino?
Também vejo nas capas de diversos jornais uma foto das "Mulheres de Atenas", que é a equipe de comentaristas da TV Bandeirantes. Em nenhum momento até agora vi a valorização do verdadeiro jornalista esportivo. No caso da Bandeirantes, ela conta simplesmente com o melhor jornalista esportivo deste tipo de evento, Álvaro José. Alvinho, pelo que sei, está na sua oitava Olimpíada, cobre os jogos desde Montreal em 1976, é um estudioso do assunto, sabe falar, narrar, comentar e para cada prova que vai cobrir se mune com informações de todos os lados (conversa com técnicos, atletas, preparadores). O resultado é que suas informações são precisas. Você só não assiste a um jogo, a uma prova, você aprende sobre o esporte e um pouco de sua história.
Fico triste pelos caminhos que seguem a função de comentaristas na TV, fico triste de poder me lembrar só de Álvaro José como um comentarista especializado. Fico extremamente aborrecido com a enxurrada de "ex-atletas" fazendo a função de jornalistas.
Ah !!!! Antes que me censurem dizendo que quero proteger uma classe e me falem que nos Estados Unidos os maiores comentaristas esportivos são ex-atletas, fica aqui uma informação. Nos Estados Unidos nenhum profissional pode trabalhar na função de jornalista sem ter uma aprovação de um sindicato. Em segundo lugar, a formação de um atleta é diferente. Lá o menino começa jogando no College (ginásio), depois vai para a University (universidade) e depois de formado por uma Universidade é que ele se torna atleta profissional. Quando este atleta encerra sua carreira ele volta a exercer sua profissão.
Mais três comentários importantes :
1) A festa de abertura foi fantástica, não há o que comentar.
2) Também cheguei a conclusão de que a maior ausência dos Jogos Olímpicos para o Brasil não será o futebol, mas sim a de Luciano do Valle a frente destes jogos. Imagino o que Luciano faria na Grécia. Imagino ele narrando o jogo entre Iraque e Portugal , imagino narrando a abertura. Imagino Luciano dando emoção às transmissões que por enquanto são mornas e técnicas. Imagino que se o futebol agüenta ficar duas Olimpíadas de fora, imagino e rezo que Luciano do Valle não. Luciano, Pequim 2008 te espera, e nós também.
3) Não conheço o preparador físico Carlos Cintra, que colabora aqui no site Virgula como eu, mas lamento seu comentário sobre o blá,blá,blá.
A televisão brasileira não cobre só os esportes Olímpicos durante os jogos. Nos últimos anos tivemos cobertura dos seguintes eventos : Maratona de São Paulo, Liga de Vôlei, Gran Prix de Vôlei, Prova Ciclística 9 de julho, Mundial de Ginástica,Circuito Mundial de Hipismo, Circuito Mundial de Vôlei de Praia, Troféu Brasil de Natação, Mundial de Natação, Lutas de Boxe, Mundial de Taekondo, Provas Iatismo, e mesmo no que acredito ser sua especialidade tivemos o Troféu Brasil de Atletismo, provas de Triatlon e o Mundial de Atletismo. Isto são só alguns exemplos que me vieram na cabeça de esportes Olímpicos que têm cobertura constante de nossa televisão.
Se a estrutura do nosso esporte está errada não é por culpa da televisão, ela abre espaços diariamente para a divulgação do mesmo e para o incentivo de diversas modalidades. Infelizmente no Brasil o esporte é feito de resultados e vira um efeito dominó – se um atleta se destaca (Guga/Daiane), a procura de adeptos também aumenta e por conseqüência a cobertura da televisão também.
Não dá para ser demagogo, o futebol continua e continuará levando sempre a maior parte do bolo porque é o esporte nacional. Hoje o futebol ocupa 75% da mídia, o vôlei 12% e os demais esportes 13%. Isto acontece nas televisões de todo o mundo. Na Americana, por exemplo, 90 % da cobertura da mídia (televisão/revistas/jornais) são dedicados ao Beisebol, ao Futebol Americano, ao Hóquei e ao Basquete, que são os esportes nacionais. As demais modalidades ficam com os 10% restantes. E olha que eles são uma das maiores potencias Olímpicas do planeta.
Por isto, dizer que a cobertura jornalística é uma mera "promoção olímpica temporária", é uma total falta de conhecimento do que são as Olimpíadas, o que gira por trás dela. Jornalistas, muitas vezes sim, criticam de forma errada. Muitas matérias têm sim um fundo emotivo, mas dizer que é um festival de bobagens, é ridículo.
A Olimpíada é sim um evento comercial, são 4 bilhões de pessoas assistindo diariamente aos jogos, o que significa a maior audiência da televisão em todos os tempos e audiência significa retorno publicitário e comercial.
Como disse a nossa colega Patrícia Teixeira (também colunista do Vírgula) devemos tentar ver os jogos com outra ótica, vamos tentar encontrar no meio de tantas opções um esporte que nos tire do sedentarismo.
Aliás, quem sabe graças a este "jornalismo de oportunidade", o preparador físico não tenha batendo em sua porta pessoas que se incentivaram com os jogos e resolveram sair do sedentarismo, pode ser que esta "promoção olímpica temporária" seja muito benéfica.
Para finalizar este assunto só mais uma coisa sobre o comentário – "É necessário ter continuidade e qualidade nas informações. Não precisamos escrever qualquer coisa só para cumprir tabela ou porque está na moda" e por causa destes tipos de artigo escrito por preparadores físicos é que está no Congresso Nacional uma lei sobre a criação de um Conselho de Jornalismo. Aceito que não jornalistas escrevam ou falem sobre assuntos que conheçam muito bem (desde que tenham estas pessoas sido preparadas e tenham algum tipo de legalidade para isto ), só não aceito que pessoas dêem opinião sobre assuntos que não conhecem e julguem uma classe.
Nós jornalistas esportivos lutamos pelo esporte, não precisamos escrever qualquer coisa para aparecer e a continuidade das informações são dadas diariamente por programas esportivos e por dois canais especializados em esporte. Resumindo acho que o preparador físico precisa assistir mais a nossa televisão.
Feito minhas observações (longas) e meus desabafos, volto a minha
maratona televisiva. Até qualquer minuto.