O técnico francês Arsène Wenger fará neste sábado (22), contra o Chelsea pela 31ª rodada do Campeonato Inglês, seu milésimo jogo no comando do Arsenal, clube que assumiu em setembro de 1996 e o qual garante cuidar como se fosse sua propriedade.

Com 64 anos – quase 18 nos Gunners – Wenger é o melhor exemplo de manager de um clube. Além trabalhar nos treinos e na tática do time, função de qualquer treinador, ele cuida de contratações, renovações de contrato, do estado do gramado do Emirates Stadium, da atuação da equipe técnica (preparadores físicos, nutricionistas e psicólogos), da logística de viagens, entre outras questões.

Um trabalho tão importante, que nem os oito anos, nove meses e 27 dias sem erguer um troféu sequer são capazes de derrubá-lo do comando do Arsenal, apesar de, em muitos momentos, sua permanência ter sido questionada por torcedores e imprensa.

“Todas minhas decisões tomei como se o clube fosse meu. Sempre coloquei o interesse do time em primeiro lugar”, disse Arsène Wenger, em entrevista coletiva nesta sexta-feira (21).

Quem vê o respeito que ele tem dentro e fora do clube atualmente, porém, não imagina como foi difícil conseguir isso. Quando chegou ao clube, ainda desconhecido e vindo Nagoya Grampus, do Japão, alguns veículos da imprensa anunciaram a contratação com o título “Arsène Who?” (“Quem é Arsène?”, em tradução livre).

O francês, além de um currículo modesto para um grande clube, era um homem de aparência refinada. Muitos pensaram que teria dificuldades para domar um vestiário cheio de jogadores com fama de arruaceiros, como Ian Wright e Tony Adams.

Os gestos de Wenger, no entanto, escondiam um homem de personalidade forte e, uma trajetória como treinador mais sólida do que muitos pensavam.

Em 1988, aos 39 anos, conquistou o Campeonato Francês com o Monaco. Seis anos depois, rejeitou uma oferta do Bayern de Munique para trabalhar 18 meses no Japão, de onde retornou com ideias renovadas e uma Copa do Imperador na bagagem.

Sua primeira atitude no vestiário de Highbury (antigo estádio do Arsenal) foi estabelecer severas proibições para seus jogadores. Pôs fim às barras de chocolate e os doces que circulavam no ônibus da equipe antes e depois das partidas, assim como o costume dos atletas de beber cerveja.

Dentro de campo, a principal mudança foi acabar com os chutões da defesa para o ataque, que eram marcantes no futebol inglês. O francês foi responsável por implantar um estilo de jogo focado no toque de bola na equipe.

Assim, em sua primeira temporada, o Arsenal terminou o Campeonato Inglês na terceira posição, a apenas sete pontos do campeão Manchester United – na anterior, havia ficado a 19 pontos do campeão. Ganhou o respeito de todos, além do apelido de ‘Le professeur’ (O professor).

No ano seguinte, os Gunners conquistaram o Inglês e a Copa da Inglaterra, feito que não conseguia desde 1971. Na sequência, o sucesso continuou: repetiu os dois títulos em 2002, ganhou o Inglês novamente em 2004 – invicto – e a Copa em 2003 e 2005.

Em 2006, atingiu o ponto alto da carreira, ao levar a equipe à final da Liga dos Campeões da Europa, perdida para o Barcelona por 2 a 1, de virada.

Desde então, o Arsenal não se sagrou campeão nenhuma vez, nem conseguiu novas campanhas de destaque na Champions. Porém, a consistência do trabalho de Wenger e seus projetos a médio e longo prazo para o Arsenal fazem com o que o técnico seja mantido no clube.

“Passamos por momentos difíceis e por momentos fantásticos, mas nosso interesse foi sempre ficar unidos. Os troféus vão e vêm, mas o que define a qualidade de um corpo técnico é a consistência. E foi isso que demonstramos nos últimos 15 ou 16 anos. Se analisarmos outros clubes, é o mais difícil de conseguir”, explicou o treinador.

Wenger também se destaca pelo fato de comandar as finanças do clube com pulso firme. Inclusive, o técnico ganhou a fama de “pão duro”, por investir na contratação de jovens jogadores, como forma de economizar dinheiro.

Porém, ninguém contesta sua capacidade de exercer tal função. Os franceses Patrick Vieira e Thierry Henry, assim como o espanhol Cesc Fàbregas e o holandês Robin Van Persie, são alguns dos jovens contratados que cresceram com o trabalho de Wenger e se destacaram no futebol.

No começo desta temporada, o ‘manager’ rompeu sua habitual moderação na despesa e pagou € 50 milhões ao Real Madrid pelo alemão Mesut Özil (foto abaixo). O valor é quase o dobro de qualquer outro atleta do elenco.

O motivo para essa mudança de estratégia é que a confiança no treinador, que durante anos pareceu intocável, começou a sofrer as primeiras crises na passada temporada, quando sofreu até a última rodada para conseguir a classificação para a Liga dos Campeões.

Faltando oito rodadas para o fim do Campeonato Inglês, o Arsenal é terceiro colocado, a quatro pontos do líder Chelsea. Por isso, além da marca de Arsène Wenger, o jogo no Stamford Bridge, será uma oportunidade especial para o treinador conseguir aproximar o time do título.


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Arsène Wenger completa 1000 jogos no Arsenal que considera 'seu'