O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado deu entrevista neste sábado (24) no festival Fotogenio, de Mazarrón (Múrcia, Espanha). E revelou sua opinião sobre o atual momento da arte de fotografar.

“Hoje a fotografia em geral mudou. Antes, qualquer um que saía de férias levava sua câmera, trazia as fotos, fazia cópias, as colocava em um álbum e essas fotografias eram fotografias. Eram mostradas aos filhos, dez anos depois já eram um pedacinho de sua história e, trinta anos mais tarde, a memória da família”, comentou em entrevista coletiva.

No entanto, na opinião do brasileiro, isso acabou. “90% da fotografia é feita com telefones e fica dentro de uma memória. É uma imagem, mas já não é mais uma fotografia. A fotografia deixou de ser memória. É realmente uma instantânea”, declarou.

O homem que se considera “possivelmente uma espécie de dinossauro”, que segue neste trabalho “porque as pessoas ainda têm paciência para esperar” suas fotos, afirmou: “Quando você transforma sua vida, junto com as pessoas que fotografa, é como sua casa, sua forma de vida, e não é você quem tira as fotos. São as pessoas que estão diante de você que as oferecem, trabalhando juntos”.

“Para ser fotógrafo é preciso ser fotógrafo. Muita gente não consegue. É preciso sentir o enorme prazer de estar ali, de trabalhar como fotógrafo. Como jornalista é um sacrifício muito forte. É preciso ter esse prazer de passar horas e horas construindo sua imagem”, explicou.

O fotógrafo brasileiro oferecerá na tarde deste mesmo sábado uma conferência sobre Genesis, seu último trabalho, na oitava edição do festival, com cerca de mil pessoas na plateia. Na sexta (23), o documentário O Sal da Terra, sobre a obra de Salgado, foi premiado no Festival de Cannes. O filme tem direção de Win Wenders e de Juliano Salgado, filho do famoso fotógrafo.


int(1)

Sebastião Salgado: "A fotografia deixou de ser memória"