A política de pacificação das comunidades do Rio de Janeiro centra o trabalho que o espanhol Rafael Fabrés levará ao festival de fotojornalismo Visa pour l’Image, a ser realizado em Perpignan, no sudeste da França.
Fabrés passou a se interessar sobre o tema em 2012, após saber sobre a invasão de uma favela por parte dos policiais. A partir deste fato, o fotojornalista decidiu deixar o Haiti, onde já estava há dois anos, para passar 15 dias no Rio de Janeiro e relatar o que estava acontecendo para a agência em que trabalhava até então.
No entanto, essas duas semanas só serviram para lhe mostrar que o tema poderia render muito mais e, por isso, decidiu ficar mais tempo. No final, ele acabou ficando cerca de nove meses, repartidos em diferentes viagens durante o último ano, explicou Fabrés em entrevista telefônica à Agência Efe.
“Estive vivendo em outras partes do Rio e, às vezes, sentia saudades da loucura da favela”, assegurou o repórter, que, para compreender a situação, decidiu viver na comunidade de Vidigal, próxima às praias do Leblon e de Ipanema.
A política de pacificação nas comunidades cariocas foi iniciada ainda em 2008 e, previsivelmente, será encerrada somente no ano de 2016, já que a medida também possui intenção de garantir a segurança dos turistas diante da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.
Há quem considere que todo esse processo não passe de uma maquiagem e, inclusive, outros que acreditam que tal medida abre espaço para abusos policiais, como a Anistia Internacional, que já chegou a defender o fim das policiais militares no Brasil.
Fabrés alegou não querer julgar se a medida é boa ou não, mas “tentar ser bastante objetivo e mostrar o processo de pacificação através de seus principais protagonistas”, ou seja, a polícia, os traficantes e os moradores das favelas.
“Passei quatro meses na companhia dos agentes de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) até que houve um tiroteio e pensei que já tinha material suficiente”, contou o repórter madrilenho, que, a partir desse instante, iniciou o restante dos contatos.
“No universo dos traficantes, eu entrei através de um pastor evangélico”, prosseguiu Fabrés, que ressaltou que as dificuldades encontradas “são intrínsecas deste trabalho”.
As imagens com as quais ele mostra a “pacificação” se diferem muito dos registros de confrontos para se aproximar do cotidiano, já que, segundo ele, a ideia era se afastar do sensacionalismo e do que já havia sido contado.
“O que mais me fascinou é como (os moradores) levam o dia a dia. É uma vida muito dura, mas, em sua forma de ser, também têm espaço para a felicidade”, assegurou o fotojornalista espanhol.
“A vida da favela é muito peculiar e extrema, além de um tanto surrealista, principalmente quando estás na casa de alguém fazendo uma entrevista e encontra animais de todos os tipos, discussões violentas, risos e bailes… tudo é vivido de um modo bastante extremo.”
Essa experiência citada, que ele pretende continuar retratando nos próximos três anos, é a mesma que será exposta duplamente nesta edição do Visa pour l’Image (reportagem fotográfica e audiovisual).
“É muito bom poder estar junto com esta família disfuncional que encontramos na profissão”, brincou Fabrés antes de exaltar a realização do encontro.
De acordo com Fabrés, que se mostra otimista em relação ao futuro do jornalismo e do fotojornalismo, a profissão não está morrendo, mas “está mudando”: “O jornalismo é um bem necessário que não vai desaparecer. Mudarão os suportes, mas as histórias continuarão sendo contadas”.