Você já deve ter ouvido falar que Orange Is The New Black é uma série baseada em fatos reais. A produção é uma adaptação de um livro de mesmo nome escrito por Piper Kermann, uma americana de classe média que ficou presa por 15 meses nos anos 90 por lavagem de dinheiro e associação com o tráfico de drogas. Piper Chapman é, obviamente, inspirada na autora da história; Alex Vause é a versão ficcional da escritora Cleary Wolters, que teve um breve romance com Piper quando as duas estavam envolvidas com tráfico internacional de drogas.

Mas você já se perguntou o quanto do enredo da série se mantém fiel à realidade? A verdade é que, a essa altura, muito pouco corresponde ao que realmente acontece a Kermann no pouco mais de um ano em que ela ficou presa. Compilamos depoimentos e detalhes do livro e comparamos com o plot da série e descobrimos que, nesse caso, as escolhas dos roteiristas já desviaram e muito da história real. De acordo com Kermann (que hoje é consultora da série), em uma entrevista ao Huffington Post, Orange Is The New Black usa os temas do livro como inspiração e cria histórias em cima disso – porque a ficção precisa ser mais mirabolante que a realidade, afinal. Veja o que é verdade e o que é mentira em OITNB:

 

Piper e Alex:

Enquanto boa parte da série gira em torno das idas e vindas do relacionamento entre Piper e Alex, na vida real a história é bem menos interessante. Piper Kermann e Cleary Wolter tiveram um breve romance enquanto trabalhavam para um esquema internacional de tráfico de drogas, mas só se encontraram na prisão por três semanas, no último mês de encarceramento de Piper. Como na série, Piper evitou falar com com Cleary no começo. Eventualmente, as duas voltaram a conversar, mas nada de química avassaladora e sexo na prisão. Na história real, as duas não voltaram a ficar juntas.

Cleary pontuou em algumas entrevistas – ela também lançou um livro sobre a experiência na prisão – que sexo atrás das grades não é comum como o show mostra. “É preciso se esconder, e não importa quando e onde estiver fazendo, precisa ser rápido”, já que, segundo ela, ser flagrada de mãos dadas com outra prisioneira já poderia ser motivo para ir para a solitária.

Cleary não foi consultada pelos produtores e roteiristas da série e só voltou a falar com Piper depois do lançamento de OITNB, em 2013 – mas elas não mantém nenhum tipo de relação, nem como amigas. E ela não foi o primeiro relacionamento lésbico de Piper, que se declara bissexual e teve outras namoradas antes e depois de Cleary.

 

Piper e Larry:

O personagem no qual Larry foi inspirado existe na vida real, se chama Larry Smith e é o atual marido de Piper Kermann. A história deles, na verdade, é menos dramática: os dois mantiveram uma relação estável e forte durante o tempo em que ela ficou presa, e Larry a visitava toda semana, além das conversas por telefone várias vezes por semana. Um ano depois de Piper ganhar liberdade, os dois se casaram e Larry, que já era um escritor prestigiado, ajudou a esposa a publicar suas memórias de cárcere.

 

As outras prisioneiras:

Yoga Jones, Suzanne “Crazy-Eyes” Warren, Pennsatucky e a irmã Ingalls – inspirada em uma freira pacifista chamada Ardeth Platte – são personagens baseadas em mulheres que Piper de fato conheceu na prisão e menciona no livro. Sophia Burset, a transexual cabeleireira interpretada por Laverne Cox, também foi inspirada em uma transexual que vivia no cubículo vizinho ao de Piper. As outras personagens e suas histórias são criações livres dos roteiristas, e em alguns casos são sim baseadas em histórias observadas por Piper na cadeia: havia realmente duas mulheres que eram mãe e filha presas com ela, como Aleida e Dayanara.

Na prisão real, as relações entre as presas eram menos amorosas e mais familiares, como a que é mostrada entre Red e Nicky ou Gloria e as outras mulheres de origem latina. Presas mais dominantes acabavam virando “mães”, “tias” ou “pais” (se fossem mais masculinas), e as mais vulneráveis se tornavam “filhas” e “sobrinhas” por consideração.

 

As instalações em Litchfield:

Piper da vida real ficou presa em Danbury, uma prisão federal em Connecticut. Por ser uma prisão de segurança mínima, as instalações são de fato bem parecidas com aquelas retratadas na série: os cubículos são meio como quartos militares, com beliches e alguns armários. Mas cada quarto tem seis ou mais prisioneiras, e nada pode ser pendurado nas paredes: fotos e cartas ficavam, no máximo, dentro dos armários.

 

A rotina na prisão:

De maneira geral, a série retrata com fidelidade o cotidiano de prisioneiras em uma cadeia de segurança mínima nos EUA. Mas há muito menos violência e conflitos na vida real, surpreendentemente. Piper nunca se envolveu em nenhum conflito e foi muito bem acolhida pelas outras presas quando chegou na cadeia, de acordo com o livro. A única vez em que ela chegou perto de uma briga foi quando outras presas se irritaram ao verem Piper tirar todo o espinafre da salada em uma refeição.

A autora da série, Jenji Kohan, precisou incluir muito mais drama (e aquele humor negro característico da série) nas histórias que foram filmadas para a Netflix. Tanto Piper quanto Cleary mencionam em entrevistas que a pior parte da prisão é que é um sistema projetado para desumanizar qualquer um. Há pouco contato visual entre funcionários e presas e de maneira geral as prisioneiras não são tratadas com dignidade. Aos poucos, a sensação é de perda de dignidade e de humanidade, dizem elas.

Além disso, situações como a comida intragável e a sujeira dos boxes também estão próximas da realidade. Piper contou que usava absorventes para limpeza, que realmente trabalhou no setor elétrico da prisão e que a confusão com a cozinheira – na primeira temporada, Piper reclama da comida para Red, sem saber que era ela a chef do presídio, e como recompensa para de receber comida – realmente aconteceram. As divisões entre os grupos (as “negras”, as “brancas”, as “religiosas”, as “latinas”…), o trabalho na prisão, as regras internas, as visitas – essas coisas estão todas bem próximas da realidade, inclusive o ocasional assédio por parte dos guardas (Pornstache!) e até o tratamento melhor que Piper recebeu por ser branca e de classe média.

Veja quem são alguns dos personagens da série na vida real:

Orange Is The New Black: vida real x ficção

Na foto, Piper Kermann, autora do livro que deu origem a série, e Cleary Wolter, que inpirou Alex Vause

 

 

 

 


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Orange is the New Black: o que é realidade e o que é ficção na série

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