A última ligação telefônica de John F. Kennedy não foi para um assessor ou um político, mas para uma colecionadora que quis surpreendê-lo decorando com obras de Picasso e Monet o quarto onde se hospedou na véspera de seu assassinato, há quase 50 anos, e estas obras estão expostas desde domingo (20) no hotel.

O anúncio de que o casal Kennedy passaria a noite de 21 de novembro em Fort Worth, no Texas, não despertou inicialmente o interesse de Ruth Carter Johnson, uma colecionadora de arte local que se definia como republicana de toda vida.

Mas não hesistou nem um instante quando um crítico de arte, Owen Day, propôs transformar a insossa “suíte” onde se alojaria o casal, no número 850 do Hotel Texas, como vitrine da melhor arte do momento, que pode ser vista a partir de hoje em uma exposição recém inaugurada no museu Amon Carter de Fort Worth.

A suíte 850 “não era a mais luxuosa do hotel” e estava decorada com “lâminas comerciais, sem muita arte original”, por isso Johnson e Day se propuseram redecorá-la com obras de qualidade” reunidas de várias coleções privadas, explicou a Agência Efe a curadora da exposição Hotel Texas, Shirley Reece-Hughes.

Nesse momento, Pablo Picasso era “o artista internacional vivo mais famoso” e sua escultura de bronze Coruja Zangada (1953) foi a escolhida para dar as boas-vindas a Kennedy e sua esposa Jackie na entrada da suíte, contou Reece-Hughes.

Quando o casal chegou ao Hotel Texas, por volta das 23h, após uma longa viagem que incluiu paradas em San Antonio e Houston, “estavam esgotados e foram direto dormir”, sem prestar atenção na decoração.

Foi na manhã seguinte que Jackie reparou no catálogo que Carter Johnson e seus colaboradores tinham preparado para guiá-los através das 16 peças da exposição.

Conscientes do gosto da primeira-dama pela arte europeia, os colecionadores colocaram um quadro de Claude Monet no salão e obras impressionistas de Vincent Van Gogh e Maurice Prendergast em um dos quartos.

Para o quarto do presidente foi priorizada a arte americana do início do século, como o clássico que ficou sobre a cama Nadadores, de Thomas Eakins, em uma cuidadosa operação coordenada com a silenciosa cumplicidade do serviço secreto.

Os restos de creme de barbear no banheiro do quarto impressionista e os restos de maquiagem achados no lavabo da sala decorada ao gosto do presidente revelaram mais tarde que cada um dos Kennedy tinha dormido no quarto oposto ao projetado por eles.

“Eles queriam muito agradecer Ruth Johnson, e o serviço secreto chamou todas as mulheres que figuravam com esse nome na lista pequena telefônica da cidade. Quando finalmente a acharam, Kennedy foi ao telefone e disse que apreciaram muito o esforço de promover essa exposição particular “, relatou Reece-Hughes.

“Depois passou o telefone a Jackie, que disse que estava desfrutando tanto da arte que era difícil deixar o quarto. E, até onde sabemos, essa foi a última chamada que Kennedy fez antes de seu assassinato em Dallas, poucas horas depois”, acrescentou.

Encontrar hoje a suíte 850 do Hotel Texas é tarefa impossível. O edifício conserva sua fachada original, a mesma em que Kennedy deu sua última entrevista coletiva naquele 22 de novembro, mas o último quarto do oitavo andar hoje é o 838.

Cada corredor, quarto e salão deste hotel, que mudou de nome meia dúzia de vezes até se transformar em 2006 no Hilton Fort Worth, tem um detalhe que lembra aquela última noite, na qual os Kennedy dormiram rodeados de uma efêmera mostra digna do melhor museu.

“A inesperada tragédia que aconteceu depois ofuscou este grande gesto”, lamentou Andrew Walker, diretor do museu Amon Carter.

Segundo Reece-Hugues, a extrema sofisticação que o sistema de segurança presidencial desenvolveu precisamente por causa do assassinato de Kennedy em Dallas torna impossível que uma exposição semelhante pudesse acontecer hoje para homenagear, por exemplo, Barack Obama.

“Nunca revelariam qual é a suíte do presidente dos Estados Unidos”, assegurou.


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