Se você procura por novos nomes da literatura brasileira, guarde bem o de Juliana Frank, 28 anos. A autora de Meu Coração de Pedra-Pomes (Companhia das Letras, R$ 31), leia trecho aqui, lançado no mês passado em São Paulo, vem arrancando elogios em sua estreia por uma grande editora.
Em 2011, Juliana já havia lançado Quenga de Plástico pela 7Letras, quando começou a chamar atenção por sua escrita explosiva, com personagens femininas fortes e dominadoras, diante de machos tristes e acessórios. Lawanda, a protagonista de Meu Coração..., é algo entre a Macabéa de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector e a Helen, de Zonas Úmidas, da alemã Charlotte Roche.
O Virgula Diversão entrevistou Juliana. Leia a seguir.
O que mudou na sua carreira e na sua estética desde que começou, do Quenga de Plástico para o Meu Coração…?
O Meu Coração de Pedra-Pomes está vendendo. As pessoas me procuram. Como ninguém tem coragem de falar mal, escuto elogios. Mas tem que atritar, corcorda? Mudou muito. Para mim, é a personagem que desenha a história, né? Lawanda é outra bossa. E ela tinha algumas limitações – não só por ser limítrofe. É uma menina desgorvernadinha. Infernizou minha vida por seis dias inteiros. Mas concluí que o meu ritmo é esse mesmo: frenético. mudo de assunto muito rápido, faço poucas descrições. Isso eu gosto e pretendo manter. No meu romance novo “uísque e vergonha”, tenho experimentado outras coisas, tipo plagiar a vida.
Você se considera feminista?
Eu sou da selvageria. Gosto de me imaginar fora do mundo do capital. Sei lá, numa floresta, nua, gritando e correndo, e nua e gritando, como quis nosso senhor. Furiosamente nua e estridente até uma cobra mais má que eu me atacar. Morro com a cara na terra. Paralisada pelo veneno. Mas já que ainda estou por aqui, sou feminista. Sou contra tudo o que não é favor das mina. E as mina precisam de bife com cebolas, homem de ceroulas lavadas por eles mesmos, amor, carinho, dedicação e uma leve chupada matinal. Desculpa, é que sou romântica.
O que anda lendo e o que indica pra a juventude brasileira, já que estamos em um site de entretenimento pop?
Poesia, sempre. A Ana Martins Marques é uma grande poeta, é nossa e é viva. Estou escrevendo uma série de terror e tenho me dedicado à literatura gótica. Também às novelas do Dostoiévski que são desoladoras e relíveis. Mas recomendo tudo o que brilhar os olhos das pessoas nas livrarias. É o que vale.
Você já disse que explicar a escrita é como falar sobre sexo com crianças, qual é a importância de manter o mistério?
A literatura não morreu, só o mistério. Quero que entendam o que quis dizer lendo o que eu disse, porque eu só quero dizer o que está dito mesmo.
Você é boa com nomes, como chama sua nova heroína?
Minha personagem agora chama-se Ina. Mas ela troca de nome de acordo com o humor. Hoje finalizei a parte em que ela é Arsíone.
Você tem um conto chamado Enjoy The silence, punk, leia (aqui). A música te ajuda a encontrar ritmo?
Escolho uma música para ouvir o dia inteiro enquanto escrevo. É uma mania. Não atrapalha ao escrever, porque o cérebro fica acostumado. Cansa um pouco, como tudo nessa vida. Estou ouvindo esta agora mesmo. Enjoy, punk.
Veja Enjoy the Silence, Depeche Mode