O Senado Federal, junto com a Câmara dos Deputados, é um lugar mitológico. Corredores, salas, gabinetes e comissões criam um labirinto digno de minotauro. Tem um quê de Monte Olimpo, lugar que ninguém vê e todos acreditam que existe. Até hoje o Senado não publica dados sobre a assiduidade no plenário, enquanto você, eu e todo mundo responde chamada no colégio porque quem tem mais de 25% de falta é reprovado direto.
No meio de uma turbulenta semana política, entre aprovações, reprovações e denúncias, desci em Brasília a convite do Greenpeace para acompanhar uma ação pedindo o projeto de Lei que põe fim ao desmatamento no Brasil. Encontro ali Paulo Vilhena, ator que pela primeira vez pisava no Senado.
Paulo nasceu em Santos, mora no Rio de Janeiro, surfa e vive na praia. Aceitou o convite para participar da ação por conta da sua ligação com a natureza. São aproximadamente cinquenta pessoas envolvidas: crianças, indígenas, ambientalistas, ativistas e alguns artistas. Além de Paulinho, Luísa Matsushita, a Lovefoxxx do CSS, Valesca Popozuda e os também atores Jorge Pontual, Maria Paula e Caio Blat. Maria Paula e Caio já participaram de outras campanhas do Greenpeace.
Chegam, almoçam no restaurante da instituição e seguem para o gabinete do senador João Capiberibe, do Amapá. Ali o grupo de famosos se prepara para ser alvo dos ávidos jornalistas do Congresso. Paulo Adario, condecorado herói da Floresta pela ONU e estrategista da Floresta pelo Greenpeace, repassa os pontos chaves da campanha. É importante saber exatamente o que vai acontecer para aproveitar a oportunidade de passar a mensagem.
Corredores ligam o Senado à Câmara e é fácil perder a noção de onde você está. Na Comissão de Direitos Humanos, as caixas que montam o painel pedindo Desmatamento Zero estão empilhadas, simbolizando as assinaturas em prol da causa. Para a sociedade civil apresentar um projeto à Câmara, deve conseguir um abaixo assinado com participação de 1% do eleitorado brasileiro, aproximadamente 1,4 milhão de assinaturas.
Com a chegada de Valesca Popozuda começa um burburinho, três ou quatro assessores que ninguém sabe de onde saíram aparecem pedindo para tirar fotos com a musa do funk. As caixas são distribuídas entre os participantes e uma fila forma-se caminhando pelos corredores até chegar ao local onde o painel será montado.
Na chegada na antesala da Câmara, políticos e imprensa aguardam ansiosos. Flashes estouram, entrevistas para diversas mídias, selfies e inúmeros cumprimentos de senadores. Ninguém quer perder a chance de tirar uma casquinha. “Todo mundo querendo se posicionar da melhor maneira possível e a gente não sabe o quanto isso é verdadeiro e o quanto isso é interesseiro”, Paulo comenta depois.
Ele e Caio, compadres desde o filme Entre Nós, de 2013, andam com naturalidade pelo local. Seguem até a Comissão Legislativa Participativa para falar sobre o projeto depois de liberados porque na Câmara não é permitido circular sem o uso da gravata. Na sala ao lado, lideranças indígenas, políticos e ativistas discutem as inúmeras mortes de índios no MS. Paulinho e Caio são novamente chamados a participar.
A equipe chama os atores para ir embora, todos ainda voltam hoje para suas casas. No carro Paulo e Caio formatam uma dupla candidatura, o primeiro como deputado, o segundo senador, caindo na risada falando da plataforma política. O papo vai pra música, sucesso e vida quando descobrem que Luísa é Lovefoxxx do CSS. Apesar do peso que parece tornar o ar do congresso mais denso, a sensação é de dever cumprido.
Rolezinho no Senado
Créditos: Renata Simões