Lufe Steffen é o nosso velho conhecido aqui do Virgula. Repórter de reportagens ícônicas do site, sempre nos referimos a ele como a “enciclopedia” da TV e cinema. Você pode conferir seu trabalho conosco aqui e no programa em vídeo NaftaLufe que resgata os clássicos do mundo do entretenimento. Cineasta autor de 11 filmes, Lufe está lançando o livro “O Cinema que Ousa Dizer Seu Nome” que mostra e analisa como foram feitas as produções de filmes, curtas-metragens e livros LGBT nos últimos anos no Brasil.
Entre os entrevistados no livro estão nomes como Daniel Ribeiro (diretor do mundialmente premiado “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”), Dácio Pinheiro (realizador do documentário “Meu Amigo Claudia”, que narra a trajetória da artista travesti Claudia Wonder), Filipe Matzembacher & Marcio Reolon (diretores do longa “Beira-Mar”), Marcelo Caetano (premiado por curtas como “Bailão”), e os integrantes do coletivo (sediado em Recife) Surto & Deslumbramento. Batemos um papo sobre a proposta do livro com o Lufe. Confira abaixo
A ideia do projeto surgiu porque eu, sendo cineasta e fazendo filmes de temática LGBT, sempre gostei de acompanhar a produção de temática LGBT produzida no Brasil. Então nos festivais temáticos eu preferia assistir aos filmes nacionais em vez dos estrangeiros. Acho importante, como cineasta brasileiro ligado nos temas gays, ver o que meus colegas conterrâneos estão fazendo, acredito que isso abre horizontes. Aí, depois de anos vivendo isso, senti necessidade de fazer mais. Meu lado jornalista me inspirou a descobrir mais sobre esse cinema brasileiro LGBT, saber mais, não apenas assistir. Então surgiu a vontade de entrevistar os diretores. Aí comecei a entrevistar e a publicar essas entrevistas num site sobre cinema. Algum tempo depois, a conselho de amigos, resolvi reunir as entrevistas num livro. Assim nasceu “O Cinema que Ousa Dizer Seu Nome” , que reúne algumas das entrevistas publicadas no site (mas ampliadas e reeditadas), além de muitas entrevistas novas e inéditas.
Você se entrevistou? Que loucura foi essa?
Rs… Sim, me entrevistei. Foi o seguinte: o livro é composto de entrevistas que fiz com 23 realizadores brasileiros cujos trabalhos são sempre ligados ao universo LGBT. Para isso, assisti a todos os filmes realizados por cada um deles, antes de entrevistá-los. Aí, o que aconteceu? Eu achei que eu mesmo devia ser entrevistado, já que sou um cineasta, e todos os meus 11 filmes também estão focados no mundo gay. Assim, eu seria o 24º entrevistado. E minha entrevista deveria seguir o mesmo processo das outras 23. Mas se eu chamasse um entrevistador convidado para ver todos os meus filmes e me entrevistar, minha entrevista seria diferente das outras, desunificada do conjunto. Então decidi eu mesmo rever meus próprios filmes e me auto-entrevistar. Por mais bizarro e egocêntrico que isso possa parecer, acredito que foi a opção mais justa e coerente no caso. Então tratei o Lufe Steffen cineasta como se ele fosse outra pessoa, como se fosse mais um cineasta entre os 23 que eu tinha entrevistado. Foi isso. A inspiração para isso veio do músico Glenn Gould. Ele tinha essa mania de se auto-entrevistar.
Falam pouco do universo LGBT nas artes?
Não, acho até que nos últimos tempos tem aumentado bastante, esse universo tem sido ampliado nas artes em geral. Claro que ainda há muito por fazer, muitos caminhos para serem trilhados, mas acho que tem avançado bem.
Há um debate sobre o preconceito com o segmento “T” (que representa travestis, transgêneros e transexuais) entre os próprio homossexuais. Isso pode de alguma forma influenciar o processo artístico de quem produz com a temática LGBT. O que você acha desta questão?
Sim, essa questão já é bastante discutida. De fato, acho que o segmento T é o mais discriminado entre os integrantes da comunidade LGBT. A sigla T continua sendo a mais enigmática do rótulo LGBT, não por culpa dos / das Ts, é claro, e sim por preconceito e ignorância da sociedade em geral. Mas até esse panorama também está mudando. De uns 5 anos pra cá, muitos filmes (de ficção ou documentário) têm abordado a sigla T – seja no âmbito de travestis, como no de transexuais.
Em Hollywood, o que você destaca dos filmes com temática LGBT?
Depende. Acho que Hollywood já fez muitos filmes interessantes dentro do universo LGBT, como “Cabaret”, “Brokeback Mountain”, “Velvet Goldmine”, “Milk”… Ainda não vi os ‘LGBT do Oscar’ deste ano, que são os filmes “Carol” e “A Garota Dinamarquesa”.
No cinema europeu, o que você destaca dos filmes com tema LGBT?
O cinema europeu sempre foi mais ousado ao lidar com a questão LGBT. Então existem filmes maravilhosos nos anos 60, 70, 80… Destacaria “Querelle” (1982, Alemanha, de Fassbinder), “You Are Not Alone” (1978, Dinamarca), “Minha Adorável Lavanderia” (1985, Inglaterra). Também seria legal citar o franco-canadense “CRAZY” (2006), o francês “Canções de Amor” (2008).
Conta um pouco sobre o livro
A pesquisa foi muito legal de fazer. Eu assisti (ou reassisti, dependendo do caso) simplesmente todos os filmes de temas LGBT realizados pelos cineastas presentes no livro. A partir dessa pesquisa, formulava as perguntas que faria a cada um. Claro que existem perguntas comuns a todos. Foi um processo rico e vertiginoso, porque me vi assistindo um panorama de filmes produzidos de 1999 a 2015. É um período de muita efervescência dessa produção temática. Espero que os leitores sintam isso também!
Serviço
Lançamento de ‘O Cinema que Ousa Dizer Seu Nome’
Quando: sábado, 23 de janeiro
Onde: Espaço dos Parlapatões – Praça Roosevelt, 158 – São Paulo / SP
Horário: 17h às 20h
Evento aberto ao público.
Assista ao Naftalufe sobre a trajetória dos clipes no Brasil ;)