O Museu de Orsay de Paris inaugura a partir desta terça-feira a exposição “Masculin/Masculin”, que reúne pinturas, esculturas, fotografias e vídeos sob uma única e diferenciada temática, a da nudez masculina.
Através de 180 obras em diferentes suportes, o público poderá conferir a representação da nudez masculina desde 1800 até a atualidade, sendo dividida em 11 espaços temáticos que abrangem o ideal clássico, a nudez heroica, o corpo na natureza e a dor.
Em entrevista à Agência Efe, o diretor do Museu de Orsay e curador da exposição Xavier Rey assinalou que a ideia era recolocar “a problemática estética cultural da nudez do homem”, que aparece sob muitas perspectivas nesta exposição, mas sempre observado a partir de um ponto de vista fundamentalmente masculino.
Esse protagonismo do olhar masculino é explicado por Rey como uma consequência natural da dominação social por parte dos homens ao longo dos séculos, a qual se estende até um período relativamente recente.
“A grande maioria dos artistas que representam homens são homens. Portanto, vamos desde o espelho narcisista do artista tête-à-tête consigo mesmo a uma representação mais masculina do desejo que pode aparecer em algumas delas”, esclareceu Rey, um dos cinco curadores da mostra.
Desta forma, segundo o curador, existe uma grande diferença entre a representação clássica de San Sebastián aos olhos de Guido Reni e o olhar de Zoe Leonard, que mostra o homem como objeto de desejo com “Pin-up nº1, Jennifer Miller como Marilyn Monroe”, uma humorada versão das telas inspiradas na icônica atriz americana.
A nudez masculina também fez parte da formação pictórica entre os séculos XVII a XIX, apesar de já estarmos mais acostumados à representação frequente e natural da nudez feminina, explicou o curador do museu.
Portanto, essa aparente ausência não quer dizer que o corpo do homem “tenha sido abandonado pelos artistas”, mas “não foi nunca considerado como tal”, esclareceu Rey, que ressaltou que esta exposição permite “compreender como a nudez masculina se perpetuou, se modificou e se reinventou ao longo do tempo”.
Para exaltar essa relação, o percurso proposto pela exposição, ao invés de ser cronológico, é temático, de modo que se torna possível observar duas obras separadas por 200 anos de sua criação na mesma sala, mas cuja união formal e temática é absoluta.
O curador assinalou que há cânones comuns, “como o neoclássico inspirado na antiguidade, que se perpetuou até nossos dias”, embora outros deem a volta aos esquemas, como a revolução realista (na segunda metade do século XIX), que “modificou completamente os códigos de representação para alguns artistas”.
Nesse aspecto, Rey também apontou a influência de umas artes em outras, como “a chegada da fotografia”, uma disciplina também muito presente na mostra desde o início, como se vê em “Animal Locomotion” (1887), de Eadweard Muybridge.
Os amplos temas que se unem em “Masculin/Masculin” vão desde a realidade mais cruel, como a doença ou a morte, até “o desnudo filosófico”, já que, segundo Rey, a nudez masculina se reinventa no final do XIX com uma “perspectiva mais teórica e espiritual”, em “resposta à indiferença da natureza” como consequência da revolução industrial.