Que tal colecionar exemplares da revista Playboy, principalmente edições gringas, e até dar um pulo na famosa Playboy Mansion, em Hollywood, para mergulhar na piscina ao lado de playmates, coelhinhas e celebs? Ou ainda arrematar um lote de 50 edições da revista, publicadas nos anos 60 e 70, em um sebo?
Essa é a história de Fernando Vasconcelos, pernambucano de Recife, 51 anos, designer gráfico e crítico de cinema. E contrariando as expectativas mais óbvias, Fernando se define como gay – o que nunca o impediu de cultuar a Playboy.
“Fez parte da minha juventude, nos anos 80, de forma marcante, até em definir meu futuro profissional”, comenta Fernando, que ressalta um detalhe: ele prefere as Playboys norte-americanas do que as brasileiras.
“Sempre fui mais fã do conceito editorial da matriz, e tenho uma razoável coleção de edições americanas, várias edições vintage dos anos 60 e 70, e sou colecionador assinante desde 1997”, conta.
E nada das nacionais? “Da edição brasileira guardo as mais famosas, tenho a da Xuxa, além de Luciana Vendramini, Christiane Torloni, Maitê Proença, Alessandra Negrini, Vera Fisher, essas são obrigatórias. Mas perdi o interesse pelas brasileiras ainda nos anos 90, comprando poucas edições, com famosas na capa ou edições de aniversário”.
A coleção de Playboys raras de Fernando Vasconcelos
Créditos: Reprodução / Acervo Fernando Vasconcelos
Mas o início da relação entre Fernando e a Playboy aconteceu mesmo com as edições nacionais. “Começou na adolescência, em toda família de classe média pais e irmãos mais velhos compravam as revistas masculinas da época: Status, Ele & Ela, Playboy“, relata ele.
“Lembro perfeitamente que a primeira edição brasileira que eu comprei nas bancas foi a de dezembro de 1979, aos 15 anos, com Raquel Welch na capa, uma reprodução da edição americana, aliás”, recorda. “Isso foi antes da liberação do nu frontal em março de 1980. Até então elas eram discretas nos ensaios de nu e sempre me chamou mais atenção o conteúdo editorial e gráfico, eu admirava muito o formato de matérias intercaladas com fotos de nu, a diagramação, o poster desdobrável, os excelentes cartuns…”
Ou seja, o interesse de Fernando sempre foi pela revista inteira, não apenas pelos ensaios fotográficos. “Vem dessa época também meu despertar de interesse por literatura, já que nesse tempo líamos na Playboy de Gabriel Garcia Marquez, Norman Mailer, Gore Vidal, a Antonio Callado, Ruy Castro, Luis Fernando Veríssimo e João Ubaldo Ribeiro, tudo ilustrado ricamente por nomes como Benício, Ziraldo, Guto Lacaz, Elifas Andreato. Isso não existe mais na edição brasileira, faz tempo. A edição americana mantém o padrão”, acredita Fernando.
E foi nos EUA que ele cravou seu maior feito no assunto: participou de uma das badaladas festas da Playboy Mansion, na residência do incansável Hugh Hefner, fundador da revista. “Foi resultado de um concurso da Editora Abril para levar um leitor brasileiro à festa de 50 anos da edição americana em janeiro de 2004, quando completei 40 anos!”, conta Fernando, que foi escolhido por criar a frase “PLAYBOY – Para o Homem que Sabe Viver”. “Foi inacreditável, além de ser fã da revista sou cinéfilo, fui então aos EUA e Los Angeles pela primeira vez, Hollywood e Playboy juntos, vendo de perto na festa Hugh Hefner, Pamela Anderson, Paris Hilton, Lindsay Lohan, Stephen Dorff, Marilyn Manson e até o mito James Brown, vivo na época”.
Depois de tantas peripécias, o que falta para esse colecionador conquistar? “Tem várias edições americanas antigas que ainda quero ter, seja por um entrevistado (o diretor Billy Wilder, por exemplo) ou uma capa (Madonna), mas tenho as principais que sempre quis ter: um reprint da edição número 1 com Marilyn Monroe na capa, a da capa do coelho por Andy Warhol, entre outras”.
Mas e afinal, muita gente se surpreende ao saber que Fernando, o colecionador de Playboys, é gay? “Na minha juventude não era um diferencial, até porque só vivenciei essa sexualidade depois dos 30 anos. E o fascínio por fotos de nu naquela época era tão forte, já que isso não existia em outras mídias, que lembro bem que eu me masturbava com o pôster das playmates com nu frontal, era bastante excitante a imagem até então proibida”, revela ele.
“Mas, como falei, minha ligação com a revista sempre foi pelo formato editorial geral, as capas com coelhinhos escondidos, as ilustrações e cartuns. Curiosamente, hoje existe um fã clube enorme de gays jovens que colecionam Playboy, num grupo de Facebook de colecionadores é evidente que a maioria é gay”, diz Fernando. “Atribuo isso a uma geração que cresceu com a televisão, vendo divas pop e estrelas de BBB e que não tem muita ligação com o conteúdo editorial, apenas são fascinados pelas musas da capa”.