(CONTÉM SPOILER)
O que era pra ser um drama, virou uma espécie de comédia romântica, cheia de clichês e diálogos bobos. Não foi só a crítica do Festival de Berlim que riu de cenas de 50 Tons de Cinza. Espectadores de São Paulo também deram muitas risadas com o filme, que estreou nesta quinta-feira (12) no Brasil.
“É o meu quarto de jogos”, diz, diante de uma porta de seu apartamento, o poderoso Christian Grey (Jamie Dornan) à jovem Anastasia Steele (Dakota Johnson). “Como assim quarto de jogos, com X-Box?”, questiona ela. Gargalhadas do público que assistia à sessão da meia-noite no Cinemark do shopping Pátio Higienópolis, na região central de São Paulo.
Numa outra cena, a jovem mostra seu carro, um fusca azul, para o empresário. Eles estão em frente ao seu suntuoso prédio, Grey House. “Não te contei que gosto de antiguidades”, diz ela. Mais risos.
50 Tons de Cinza
Não é tão ruim como se esperava. Com direção precisa de Sam Taylor-Johnson e uma estética de comercial de TV, é leve a ponto de fazer rir; constrangedor, às vezes. Mas cumpre o papel de blockbuster pretensiosamente ousado e sadomasoquista “limpinho”.
Considerado um ‘conto de fadas fetichista’, o livro, que originou o filme, mostra a relação entre uma jovem de 21 anos virgem e um empresário misterioso, bilionário e gato que curte sadomasoquismo, tem um quarto cheio de apetrechos para a prática. Tudo lindo, bem disposto, como num showroom.
Expectativa e realidade
Leitoras do best-seller de E.L James com quem a reportagem conversou sabiam que o filme ia ser mais bem mais comportado do que o livro, que partes mais picantes seriam cortadas. Mas estavam ansiosas pra ver o resultado. E não se decepcionaram.
“Eu achei bem legal o filme. Claro que não dá pra esperar que tenha tudo que tem no livro”, disse a biomédica Bruna Costa, 25 anos, que acompanhava pelo Facebook e Instagram cada novidade sobre a produção.
Ela, que também leu todos os livros da trilogia, já aguarda os próximos filmes. “Agora que fica melhor. Quem leu os livros vai ver que é a partir daí que fica bom”. O “a partir daí” é quando Anastasia deixa Christian, depois das chicotadas que ele dá nela, talvez o momento mais dramático.
E, do nada, ela vai embora, diz o nome dele e o filme termina. “Vai se f***”, reagiu Bruna logo depois da última cena. “Não esperava acabar assim. O final foi muito de repente”.
A estudante Camila Fernanda, 18 anos, foi conferir se o filme era mesmo baseado no livro. “Minha primeira impressão [quando viu o livro] foi ‘é um livro de artes?’. Daí eu li a sinopse vi que não era nada daquilo. Eu disse ‘caramba’. É forte!”. Ela também leu os três livros da série.
“Tem quase dois anos que eu li e que tô na espera. Eu viajei muito com o livro. Ele acaba gerando ideias e mexendo com o relacionamento”, disse a administradora de empresas Mara Martins, 45 anos (à direita na foto). Ela conta que lia trechos do romance para o marido. “Ele dava risada. Mas depois acabou lendo e sabendo mais do que eu”. Mesmo com 50 Tons, o casamento terminou.
A trilogia inclui ainda ‘Cinquenta tons mais escuros’, em que Ana e Christian lutam para superar as diferenças; e ‘Cinquenta tons de liberdade’, que mostra desfecho da série. A Trilogia 50 Tons de Cinza já teve mais de 40 milhões de exemplares vendidos no mundo todo.