Embora ainda não tenha um nome oficial, o Teatro Mozarteum Brasileiro, ou Música em Trancoso, inaugurado em paralelo ao festival que encerrou sua terceira edição no sábado (22), ganhou notoriedade como o mais novo teatro do país, mas trata-se de um verdadeiro monumento à cultura, como defende o arquiteto responsável.
Projetado pelo luxemburguês François Valentiny, o teatro – como no filme teuto-peruano Fitzcarraldo (1982), de Werner Herzog – poderia ilustrar muito bem o sonho de um empreendimento faraônico em uma área inimaginável, mesmo que, neste caso, o alto Amazonas fosse o paradisíaco sul da Bahia.
No entanto, ao contrário da ficção, na qual a casa de ópera em meio à Floresta Amazônica aparecia como mais uma das alucinações de seu protagonista, o teatro de Trancoso virou realidade: o único no mundo a possuir duas plateias sobrepostas – uma superior aberta e uma inferior fechada, ambas com capacidade para 1.100 lugares.
A ideia do projeto, que, segundo Valentiny, nasceu após um jantar entre um grupo de amigos, incluindo Sabine Lovatelli, presidente do Mozarteum Brasileiro, e Reinold Geiger, um dos três homens mais ricos da Áustria, ganhou força devido ao amor dos idealizadores pela arte e, principalmente, por Trancoso, tanto que o mesmo foi inspirado nas belezas naturais da região.
Desta forma, em 2012, data do primeiro ano do festival, o projeto já estava totalmente desenhado, embora a edição tenha sido realizada em uma arena provisória, mas já com as características do que seria o teatro. No ano seguinte, a segunda edição já foi realizada na parte inferior do teatro, parcialmente construída, e a poeira tomou conta do local.
O fato é que a imponente construção, situada a um quilômetro e meio da entrada do Club Med, foi construída em apenas dois anos, um tempo recorde levando em consideração as condições do lugar. Mas, para o renomado arquiteto luxemburguês, o mais preocupante era a questão da acústica.
“Para mim, o importante neste projeto era incorporar o espírito do lugar, em suas formas e expressões. Era conciliar suas exigências com o lado artístico, as diferenças entre construção e estilos de construção, já que estávamos diante de 2 mil elementos para encontrar uma geometria, uma geometria orgânica. Por isso, a construção é um pouco complicada, mas nada tão dificultosa”, revelou o arquiteto, que ressaltou que a obra contou com mais de 150 operários.
“É muito diferente construir prédios convencionais e salas de concerto. Os escritórios que criamos, depois que acabamos, não mantemos com eles nenhum tipo de vinculo, passam a ser dos donos. Os teatros, ao contrário, são feitos para as pessoas. Na verdade, são como monumentos à cultura”, completou Valentiny, responsável pela Sala de Concertos Saarbrucken (na Alemanha), a Casa de Mozart (na Áustria) e o Pavilhão de Luxemburgo em Xangai.
Adorador dos desenhos e das esculturas, uma das características de seus projetos, Valentiny relatou que a estética do prédio está diretamente ligada à questão acústica, tendo em vista que a chamativa concha da arena externa também possui a função de rebater o que é projetado no palco – “como uma bola de ping-pong”, explicou o arquiteto, que possui empreendimentos na China e dois escritórios na Europa.
Apesar de ter acompanhado a obra somente nos dois últimos meses finais, o luxemburguês garante ter acompanhado a obra diariamente através de sua equipe. Por conta do curto espaço de tempo em relação à estreia do festival, o teatro passou por seu primeiro teste somente no dia da abertura, quando Valentiny não conseguia conter o sorriso e, inclusive, as lágrimas.
“É uma sensação que não consigo descrever. É tão fantástico e maravilhoso. Estava um pouco apreensivo, mas a reação dos músicos foi a melhor possível e, por isso, me senti realizado”, finalizou o luxemburguês ainda emocionado com a inauguração do teatro, que, por sinal, ainda conta com um estiloso prédio térreo (o Facilities) com estruturas de bar, banheiros e salas de ensaio.
O prédio anexo, que traz dois imponentes painéis gravados em bronze, ambos assinados pela renomada artista ítalo-brasileira Maria Bonomi, integra o espaço do chamado Centro Cultural, situado em meio ao campo de golfe do condomínio Terravista, onde também há uma grande obra (Trópicos) da artista plástica Bia Doria.