ZUMBI: 24h é não é uma peça de teatro tradicional. É um jogo teatral interativo que prevê a relação entre público e espetáculo ao longo de meses: neste período, e até a estreia, em 2014, a plateia se envolve com a dramaturgia e participa do processo de criação. Tudo pela internet. Esta é mais uma iniciativa do Centro Popular de Conspiração Gargarullo, Ponto de Cultura de Miguel Pereira, cidade da Região Serrana do Rio, em parceria com a companhia de teatro internacional Zecora Ura, baseada no Brasil e no Reino Unido. A trama dramatúrgica começou a ser desenvolvida virtualmente no dia 22 de outubro e qualquer pessoa pode participar. Para entrar no jogo, basta o participante enviar um e-mail para zumbi24h@gmail.com que começa a receber tarefas aleatórias.
A iniciativa foi anunciada durante uma palestra aberta sobre Dramaturgia da Participação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por um dos diretores artísticos do Gargarullo, Jorge Lopes Ramos, de 31 anos. Ele divide o cargo no CPC com a britânica Persis Jade Maravala, e ambos são também diretores da companhia Zecora Ura Theatre Network, por meio da qual realizam a residência internacional DRIFT (driftprojectinternational.wordpress.com), dirigiram o premiado espetáculo londrino (interativo e com seis horas de duração) Hotel Medea e são curadores do festival Route Brazil.
Com seus tentáculos internacionais, o Gargarullo faz de Miguel Pereira uma referência teatral no mundo inteiro. O CPC é o único Ponto de Cultura de Miguel Pereira e funciona diariamente desde 2007 com o intuito de promover atividades culturais na cidade e estimular o pensamento crítico da população. Para isso, realiza cursos e oficinas de teatro, dança, música, canto, línguas, yoga, capoeira e artes plásticas. Também possui uma biblioteca e um cineclube, dirigido pelo programa Cine Mais, do Governo Federal. A maioria destas atividades é gratuita. O Gargarullo, aliás, mantém o único cinema e o único teatro da cidade. Possui três espaços cênicos e é capaz de hospedar muitos artistas em seus 12 quartos; tem ainda instalações em uma área de proteção ambiental, a Reserva Gargarullo, à margem da Reserva Biológica do Tinguá. Neste espaço tão generoso, o lugar abriga a residência artística internacional da Zecora Ura.
“Acreditamos que os modelos de criação em residência permitem ao público a oportunidade de vivenciar diferentes processos de criação, e ao artista, de aprimorar uma ideia através da experimentação”, conta Jorge Lopes Ramos. Intercâmbio é, por isso, um pilar do Gargarullo e da Zecora Ura, caracterizado por manter colaborações entre artistas de vários lugares no Brasil e do mundo, com diferentes linguagens e métodos. O resultado, segundo o diretor, é um ambiente propício à inovação e à experimentação. “Não temos interesse na preservação da arte, mas sim na constante reinvenção de seu papel, nas formas de se pensar e de se estabelecer relações. As parcerias com festivais internacionais e projetos como o Rio-Londres Occupation, com o British Council, permitem que artistas do Rio se dediquem ao intercâmbio cultural e ao desenvolvimento de seus projetos”. Miguel Pereira e Londres são as bases semi-permanentes do Gargarullo, mas os principais parceiros estão também em Manchester, na Inglaterra, Cardiff, no País de Gales, Edimburgo, na Escócia, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre.
O espaço na cidade fluminense já recebeu quatro edições da residência desde a primeira, em 2006. “As relações iniciadas aqui normalmente dão início a vários anos de colaboração entre participantes e a Zecora Ura. Em nossa residência DRIFT em Belo Horizonte este ano estabelecemos parcerias fortes que já estão gerando resultados em Londres”, acrescenta Jorge. A residência para 2014 está com inscrições abertas e as propostas devem ser enviadas para thedriftproject@gmail.com. “Nunca na história da humanidade o artista foi tão necessário”, diz Jorge. “No momento em que o mundo procura respostas, o artista deve tomar a liderança e assumir sua posição de visionário, inventor e provocador para propor formas de pensar e agir, formas de experimentar e ensaiar a mudança e a transformação”, conclui.