Luis Terepins, presidente da Fundação Bienal, declarou estar surpreso com a ameaça de boicote feita por artistas árabes à 31ª edição da Bienal de São Paulo. Um grupo de 40 artistas decidiu não participar do evento após descobrir que a mostra tem patrocínio do Estado de Israel. “É um absurdo trazer esse problema (o conflito em Gaza) para cá, onde buscamos construir relações, não destruí-las”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo. Terepins lembrou ainda que a Bienal é laica.

Os artistas exibem que o logo do Consulado de Israel em São Paulo seja removido do catálogo da mostra, dos painéis do pavilhão e que o dinheiro de patrocínio oferecido pelo Estado de Israel – uym total de US$ 90 mil – seja devolvido ao país. Outra reinvidicação é que o link para o site do consulado no site da Bienal seja removido. O endereço online tem artigos que descrevem o conflito, encerrado nessa segunda-feira (25), teve apenas atos de “autodefesa” do Estado judeu.

Em comunicado enviado à imprensa nesta sexta-feira (29), a Fundação Bienal se posicionou a respeito da questão. “A Fundação Bienal de São Paulo, após tomar conhecimento da carta dos artistas ontem, 28 de agosto, recebeu um representante dos signatários. A instituição se compromete a levar ao Conselho a discussão sobre os modelos de participação e captação de recursos internacionais para a realização das mostras futuras.”.

Os curadores da Bienal também emitiram um comunicado, que Virgula Diversão reproduz abaixo:

Nós, os curadores da 31ª Bienal de São Paulo, apoiamos e entendemos a posição dos artistas. Nós acreditamos que o comunicado e a demanda dos artistas também podem ser um gatilho para discutir as maneiras como de financiamento dos eventos culturais. Na 31ª Bienal, muitos dos trabalhos procuram mostrar como os problemas e as injustiças que acontecem no Brasil, na América Latina e no resto do mundo estão conectados. A ideia de viver em tempos de transformação é fundamental para esta Bienal, em tempos em que os padrões de comportamento velhos estão desgatados e muitas crenças antigas estão sendo questionadas.

Esta transformação também afeta a relação entre curadores e organizadores de grandes eventos culturais como a Bienal. Aceitamos a posição tradicional na qual curadores tem liberdade artística e a Fundação tem responsabilidade pela parte financeira e administrativa. A Fundação Bienal, muito corretamente, manteve este compromisso. Do nosso lado, nós fomos ajudados por financiamento internacional.

Contudo, como uma consequência desta situação, além de outros incidentes em eventos em outros lugares do mundo, fica claro que as fontes de financiamento cultural tem um impacto significativo e cada vez maior no supostamente independente trabalho curatorial e na narrativa artística de um evento. O financiamento, seja do Estado, corporativo ou privado, fundamentalmente molda a maneira como o público recebe o trabalho dos artistas e dos curadores.

Enquanto essa é uma questão maior do que a 31ª edição da Bienal de São Paulo, nós pedimos que a Fundação reveja suas atuais regras de patrocínio e garanta que artistas e curadores concordem com qualquer apoio que seja direcionado ao seu trabalho e que possa ter impacto em seu conteúdo e recepção.

A 31ª Bienal de São Paulo abre no dia 6 de setembro e vai até 7 de dezembro na Bienal do Ibirapuera, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.


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Após boicote de árabes por patrocínio de Israel, Fundação Bienal diz que vai discutir financiamento

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