“Alternativo é quem escolhe, e eu fui posto pra fora”. Se tem um escritor indie (leia-se, independente) neste país, esse cara é Plínio Marcos, que morreu em 29 de novembro de 1999, há 15 anos. Um dos escritores mais perseguidos pela ditadura, vendia seus próprios livros na rua, em frente ao teatro e em palestras que dava. “O escritor é ruim mas o camelô é bom”, costumava dizer.
Escreveu mais de 27 peças, entre elas as famosas Dois Perdidos Numa Noite Suja, Navalha na Carne e Abajur Lilás, além de livros, reportagens, contos. “Os censores diziam: Plínio Marcos? Proibido”, conta Oswaldo Mendes, autor da biografia de Plínio, Bendito Maldito (Ed. Leya, 2009).
Por esses e outros tantos motivos, ele deve ser lembrado e reverenciado sempre. Listamos 15 fatos que provam que Plínio Marcos é mais indie do que nós jamais seremos.
1 Moleque metido a valente e bom de bola
Nascido em Santos em 29 de setembro de 1935, era pura rebeldia desde sempre. “Pequeno, magro, feio pra caralho, mas violentíssimo”. Assim se descreveu num autorretrato. Por ser um ótimo jogador de futebol, atuando em times de bairro, tinha trânsito livre pela cidade.
2 Não terminou o ensino fundamental
Inteligente, mas sem nenhum saco pra ficar mais de quatro horas trancado numa sala e pra receber ordens, Plínio chegou somente ao quarto ano do colegial, o equivalente ao ensino fundamental. Mas isso não o impediu de ser um escritor e intelectual de peso.
3 Fugiu de casa aos 14 anos
Pegou um ônibus pra São Paulo, onde passou alguns meses fazendo bicos e depois voltou pra Santos.
4 Fundou o Sentimento Futebol Clube
Plínio adorava falar, assistir e escrever sobre futebol. Foi ponta-esquerda em Santos, mas não chegou a se profissionalizar. Além de jogar, adorava assistir, falar e escrever sobre futebol.
5 Foi da turma do under de Santos
Adolescente, frequentava a zona da cidade, onde estavam a malandragem, boemia, prostitutas, michês, gente de cabarés. Esses personagens viraram protagonistas de suas peças.
6 Foi amigo de Pagú
Patrícia Galvão, a Pagú, musa do movimento Modernista, ativista, escritora, poeta e ex-mulher de Oswald de Andrade, conheceu Plínio em Santos e logo virou uma grande amiga. Foi ela que o incentivou a escrever peças de teatro.
7 Foi palhaço
Depois de tentar sem sucesso carreira no rádio, virou palhaço de circo em Santos. Como o palhaço Frajola, lotava as matinês. O universo do circo seria homenageado por ele em sua peça teatral O Assassinato do Anão do Caralho Grande.
8 Conquistou a mulher com um soco
Calma, o soco não foi nela. A atriz Walderez de Barros era estudante de filosofia da USP quando conheceu Plínio, com quem foi casada por mais de 20 anos e teve três filhos, Kiko, Léo e Ana. Eram os anos 60, e os dois estavam no Festival de Teatro Universitário de Campinas. Um amigo de Plínio resolveu xavecar Walderez, encostando a mão na sua perna. Ela não gostou nem um pouco e disse: “Se meu irmão estivesse aqui, te arrebentava a cara”. Plínio cerrou o punho e deu um soco na cara do amigo por ela. Dias depois do incidente começaram a namorar.
9 Deu voz a marginalizados
Malandros, bandidos, prostitutas, travestis, michês, gigolôs e desclassificados em geral ganharam vida e voz na obra de Plínio Marcos. Gente que sequer existia pra classe média e rica do país.
10 Ressuscitou o teatro brasileiro
Em 1967, quando o teatro brasileiro vivia um época de vacas magras e pouca emoção, estreava Navalha na Carne, proibida meses depois. Passada num bordel, a peça tem como protagonistas uma prostituta, um michê e um gay. Isso em plena ditadura militar.
11 Não se vinculou a nenhum partido ou associação
Participou de passeatas e lutas contra a ditadura militar, mas nunca foi filiado a qualquer partido ou associação.
12 Todas as suas peças foram censuradas
Era só chegar com a assinatura de Plínio Marcos que o texto nem era lido pelos censores, que já mandavam um carimbo de censurado.
13 Foi preso diversas vezes
Para evitar ser preso pela ditadura militar, entrou para o elenco da novela Beto Rockfeller (1968/69), da TV Tupi, uma das mais inovadoras e sucesso da época. Quando foi preso, já era ídolo da TV. Assim ficava mais difícil desaparecessem com ele.
14 Viveu das vendas de rua dos seus livros
No fim da década de 70, proibido de publicar livros e matérias em jornais, vendeu seus livros em portas de teatros e restaurantes e vivia dessa renda. “Isso que me dá independência”, disse à Folha de S.Paulo em 1981. Na Bienal do Livro de 1984, vendia seus livros num pequeno estande. Ao ver uma mulher grávida de nove meses caminhando com dificuldade, disse ao marido da tal mulher: “Meu livro serve também para abanar mulher grávida”. Vendeu um exemplar no ato.
15 Foi professor de tarologia
Os assuntos esotéricos e místicos entraram na vida de Plínio no começo dos anos 80, quando criou um grupo de estudos esotéricos e deu aula de tarô.