A blogueira cubana Yoani Sánchez disse nesta terça-feira que a tecnologia não é o bastante para mudar Cuba, mas ajudará no processo até que se tenha uma “sociedade livre”.
“A tecnologia, as redes sociais, desgastam o controle que o Estado tem sobre a informação em Cuba”, afirmou Yoani, de 37 anos, que se reuniu com legisladores dos Estados Unidos e depois falou no Instituto Cato, em Washington.
Dez anos depois da detenção de 75 jornalistas independentes, o governo de Raúl Castro usa “métodos repressivos diferentes, desde as detenções arbitrárias e não documentadas à paramilitarização da repressão”.
Yoani, que realiza uma viagem por países da Europa e da América após ter conseguido seu primeiro passaporte em cinco anos, se reuniu com a democrata Debie Wasserman Schultz, o senador republicano Gill Nelson e os representantes republicanos Joe García, Ileana Ros-Lehtinen e Mario Díaz Balart, da Flórida.
A cubana explicou que se opõe à continuação do embargo que os EUA mantêm contra Cuba desde 1960, “porque não impediu a repressão e, por outro lado, serviu para o regime como desculpa para tudo, desde a falta de comida na mesa cubana à falta de liberdade nos espaços públicos”.
A suspensão do embargo, ao qual se opõem outros dissidentes cubanos, poderia fortalecer o governo de Cuba ao trazer prosperidade econômica, reconheceu Yoani.
“Mas o que eu conheço e é real para mim é que o embargo não impediu a repressão”, acrescentou.
O dissidente cubano Orlando Luis Pardo, que acompanhou Yoani no Instituto Cato, se referiu ao perigo de “uma falsa mudança” que ocorreria se a abertura ao capital estrangeiro em Cuba controlar “as hierarquias do regime, eclesiásticas, empresariais e do exílio cubano”.
“Ao contrário do regime, que é monolítico e apresenta um só ponto de vista, a oposição é democrática, inclui diferentes opiniões sobre como avançaremos rumo à democracia e sobre o que fazer com o embargo”, apontou Yoani.
“Não estou aqui como política ou como jornalista, mas como cidadã de um país onde sê-lo é uma ideia, não uma realidade ainda”, continuou.
Yoani lembrou que há justamente uma década o governo de Cuba deteve, acusou e processou 75 dissidentes e jornalistas independentes, e afirmou que aquela ação “começou a ter um custo político internacional para o governo”.
“Se agora o governo voltasse a capturar a um grupo de dissidentes, a resposta da comunidade internacional seria imediata”, acrescentou a blogueira, que opinou que esta sua primeira viagem aos Estados Unidos lhe deu uma exposição internacional “que talvez funcione como proteção por algumas semanas, meses ou anos”.
“Enquanto durar, minha intenção é tirar todo o proveito possível”, assinalou.
Yoani pediu a intensificação dos vínculos pessoais com cubanos na ilha e assinalou que quem viajar ao país “deve afastar-se dos hotéis, das excursões bem organizadas pelo governo, para falar com as pessoas comuns, para levar um jornal, uma revista, informação”.
“É muito importante a contribuição da capacitação tecnológica, dispor de um ‘hard drive’, um computador que esteja fora do controle monopólico do governo. Se circulasse mais informação, o tempo do modelo cubano atual estaria contado”, concluiu.