Aos olhos modernos, os três filmes clássicos da Disney Branca de Neve e os Sete Anões (1937), Cinderela (1950) e A Bela Adormecida (1959) são exemplos de conservadorismo comparados aos novos estilos de princesa: guerreira e independente. O que faz os personagens serem obcecados pela Branca de Neve? Por que a Cinderela não tem talentos ou hobbies? E por que a Bela Adormecida não faz nada além de esperar por um resgate? Mas a realidade, segundo pesquisadoras das produções, é que existe uma ironia na evolução em como o gênero feminino é representado nos filmes. As informações foram divulgadas pelo jornal Washington Post.
Cena do filme A Bela Adormecida:
As linguistas Carmen Fough e Karen Eisenhauer estudam as produções sobre princesas da Disney para entender o que elas ensinam sobre os papeis dos gêneros, já que têm grande alcance entre as crianças. Elas descobriram que após os anos 1990, a mulher começou a perder a fala no mundo da fantasia. Irônico? Sim. A tendência teve início com o lançamento do filme Ariel, a Pequena Sereia, em 1989. A jovenzinha independente e rebelde, protagonista, tem menos falas do que os personagens masculinos. Nos cinco filmes seguintes sobre princesas, a figura feminina perdeu ainda mais a voz, em média, tem três vezes menos falas que os homens, afirmaram.
Cena de A Pequena Sereia:
Em Branca de Neve, homens e mulheres tem quantidade equivalente de falas. Cinderela já contém 60% das falas para personagens do gênero masculino. Em A Bela Adormecida, eles já dominam 71% dos diálogos. Mais de três décadas depois, A Pequena Sereia foi lançada com 68% de falas para personagens masculinos, A Bela e a Fera com 71%, Aladdin com 90%, Pocahontas com 76%, e Mulan com 77%. Parte do problema é que as produções citadas possuem mais personagens masculinos do que femininos.
Fought afirmou que poucos filmes mostram exemplos da mulher como símbolo de poder, respeito, ou habilidade. “É sempre uma princesa isolada tentando achar alguém para se casar. Não há mulheres liderando pessoas contra a Fera, se divertindo em um bar com as amigas, ou inventando coisas”, criticou. Todos os personagens que estão fazendo algo além de procurar um marido, na maioria das vezes, são do gênero masculino, acrescentou a pesquisadora.
“Isso é irresponsável, pois somos treinados a pensar que o homem é a norma”, alertou Eisenhauer. Lojistas, guardas e até o “companheiro tagarela”, presente nos filmes atuais, são representados por figuras masculinas. Na produção Frozen, que estreou em 2013, 59% das falas são concentradas em personagens homens, sendo que as protagonistas são as irmãs Anna e Elza.
Aparência x habilidades
É válido analisar também o que é dito pelos personagens e nesse quesito a Disney está conseguindo superar o machismo que estrutura os contos de fadas. Fught e Eisenhauer concluíram que nos filmes clássicos da Disney sobre princesas, mais da metade (55%) dos elogios que as mulheres recebem nas produções são voltados à aparência, enquanto apenas 11% estão relacionados à habilidades. Já as produções criadas a partir dos anos 1990 mostram 38% dos cumprimentos pela beleza e quase 25% ligados a habilidades ou feitos.
Cena do filme Valente:
Em A Princesa e o Sapo, Enrolados, Valente e Frozen, as pesquisadoras identificaram que 40% dos elogios são para coisas que as princesas conquistaram, e apenas 22% deles são voltados à aparência. A mudança pode ter relação com o novo time de produção da Disney, que inclui mulheres. Valente, por exemplo, foi uma ideia de Brenda Chapman para acabar com o estereótipo dos filmes de princesa da Disney.