Coincidência ou não, a falta de trabalho é a maior reclamação dos refugiados. “Vai fazer 10 meses que eu estou aqui e nada. Estudei, fiz o curso no Senac e não consigo trabalho. O Lula tem que tirar aquele carimbo da carteira para arrumar trabalho”, disse um africano do Congo ao Virgula, referindo-se à exigência de ‘experiência anterior’, cobrada por alguns patrões. “Desse jeito, menino de rua não arruma trabalho”.

Ele, que hoje trabalha como cabeleireiro e como músico aos finais de semana, é um dos que, após os 6 meses (tempo máximo que os refugiados podem permanecer na casa) conseguiu se “estabilizar” e deixar o local. Segundo Carla, assistente social que dirige a Casa do Migrante há três anos, nem todos obtém êxito, a não ser que consigam aprender bem o português. A língua é uma das principais barreiras para eles.

Há vagas para 100 pessoas na casa, divididas em 30 quartos. Eles desembarcam no Brasil em aviões ou barcos, e no segundo caso, a maioria não sabe bem aonde vai desembarcar. O sonho é sempre ir para a Europa, pela facilidade da língua – já que a maioria dos africanos fala francês e há mais emprego por lá.

A casa é grande. Tem um jardim, sala de TV, de jogos, uma biblioteca (que é composta por livros doados), enfermaria (que conta com médicos voluntários), lavanderia e quartos. Foi fundada em 1972 e hoje vive da verba doada por padres. Chama atenção uma ilustração na parede, de um migrante com uma mala, caminhando de costas e com uma raiz nos pés.

Perto das 19h, muitos começam a voltar de mais um dia, ou de distração ou da procura por trabalho. O jantar é servido pouco depois, mas não antes da oração do Pai Nosso. A maioria dos africanos faz silêncio e apenas ouve. Carla conta que a maioria é muçulmana, e pensando nisso, a casa em breve terá um espaço religioso sem uma crença determinada – afinal, já há uma capela.

Continua: Assistência brasileira ainda é mínima


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Trabalho é a principal reclamação dos refugiados

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