A última proposta nas caóticas ruas do Cairo é “o táxi do conhecimento”, que oferece literatura aos passageiros para ajudá-los a se distrair do barulho e dos engarrafamentos diários, ao mesmo tempo em que incentiva a leitura em um país com 17 milhões de analfabetos.

“Abrir uma livraria ajuda a divulgar a importância da leitura, mas sabemos que muitos egípcios não a visitarão porque para eles não é natural ler ou comprar livros”, revelou à Agência Efe Ismail Elnagar, um dos responsáveis pela livraria que promoveu a iniciativa.

Segundo Elnagar, a principal razão que afasta os egípcios das páginas de um romance é a falta de tempo, “pois são muitos os que perdem até duas horas por dia dentro de um táxi para chegar ao trabalho”.

Quando eles resolvem ler acabam optando pelo Alcorão, cuja leitura é bastante comum no metrô e até mesmo nos táxis.

“A única maneira de promover a leitura era fazer com que os livros ultrapassassem as prateleiras das livrarias”, disse Elnagar, que afirma que foi a partir desse pensamento que surgiu “a ideia de colocar entre cinco e dez livros dentro de um táxi”.

Por enquanto, 50 veículos da capital egípcia já contam com uma pequena biblioteca no banco de trás, mas os responsáveis pelo projeto acreditam que em 2011 será possível disponibilizar o serviço em 2 mil táxis, inclusive em carros de outras cidades do país.

“Os egípcios têm agora a possibilidade de ler em um ambiente agradável e climatizado para esquecer o barulho das ruas e se concentrar no livro até chegar a seu destino”, acrescentou.

Um dos primeiros taxistas a adotar a iniciativa foi Abdel Ghany, de 58 anos, que admite ser um “amante e defensor da importância da leitura” e que fuma um charuto enquanto dirige pelas ruas dominadas pelo constante barulho das buzinas.

Em seu automóvel, os primeiros exemplares desta biblioteca ambulante são dois livros do jornalista egípcio Omar Taher, que recorre à sátira para denunciar a política nacional e retratar o desejo de liberdade da nova geração.

“A iniciativa agradou muito às pessoas mais cultas”, destacou Ghany, enquanto mostrava com orgulho os livros, cujas capas já estão um pouco deterioradas após um mês à disposição dos passageiros.

Para o taxista, a iniciativa já é “um sucesso” que o levou a solicitar à livraria contos infantis para as famílias que entram em seu táxi, além de guias e mapas em inglês para os turistas.

No entanto, Elnagar admite que encontrar alguém como Abdel Ghany entre os mais de 50 mil táxis que percorrem diariamente o Cairo não foi fácil.

“O primeiro taxista para quem contamos sobre o projeto nos pediu para descer do carro”, declarou Elnagar, que ressaltou, no entanto, que muitos motoristas têm nível superior e estão interessados em incentivar a leitura.

Segundo ele, o objetivo do projeto é ajudar a reduzir a taxa de analfabetismo no país, já que apenas 58% dos egípcios adultos sabe ler e escrever.

“Os resultados estão sendo incríveis. Os taxistas estão contentes e sentem que estão oferecendo um serviço muito útil à comunidade”, revelou Elnagar.

O livreiro afirma que não tem nenhum interesse em que os táxis se transformem em pontos de venda de livros porque “o objetivo não é financeiro”.

Enquanto isso, o taxista Ghany está convencido de que proporcionar a leitura a seus passageiros é algo que tem futuro nas ruas da capital egípcia.

“As pessoas estão lendo. E isso é que buscávamos”, destacou.


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Táxis egípcios oferecem biblioteca ambulante para incentivar leitura no país

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