Já parou para pensar o caminho que suas roupas percorrem até chegar ao guarda-roupa? E na qualidade delas? Quando se trata deste assunto, a maioria das pessoas fala especialmente sobre consumo consciente, que é comprar menos e priorizar peças de qualidade, consequentemente fugir das redes de fast fashion e outras marcas que usam trabalho escravo e têm registro de maus tratos a animais. Mas saiba que, além disso, a produção de uma peça tem outros detalhes que, se você quiser ajudar o planeta e quem o habita, é bom ficar de olho.
Entre as boas novas no universo fashion está o crescimento de confecções que carregam valores e produzem apenas coleções sustentáveis, veganas e orgânicas. Fora do País, a tendência é mais presente e grandes marcas fazem volume a este movimento de renovação e reaproveitamento na moda. A gigante de jeans Levi’s, por exemplo, lançou em maio, a primeira peça feita com mais de 50% de algodão reutilizado das camisetas ue os consumidores já não queriam. Para cada calça produzida, são usadas cinco camisas e, o mais impressionante, 98% menos água do que para tingir o algodão natural.
Aqui no Brasil, marcas sustentáveis ainda ocupam um nicho de pequenas empresas, mas apesar da menor quantidade, existem ótimas referências e, o melhor, indicação de que o mercado está em pleno crescimento.
“A maior dificuldade aqui é a produção limitada da matéria prima orgânica quando comparada à produção convencional. Além disso, são somados aos custos de certificação, necessária para a o crédito do produto. Mas, atualmente várias iniciativas tem sido realizadas para conscientizar da necessidade do uso de práticas sustentáveis e elas certamente trarão reflexos nas formas de consumo a médio e longo prazos”, explica Leonora Straus, idealizadora e diretora da Bambusa, confecção de roupas íntimas para mulheres, homens e crianças produzidas apenas com algodão 100% orgânico e que está fazendo o maior sucesso.
A marca faz uma moda sustentável, vegana e orgânica ao mesmo tempo. Promove a sustentabilidade incentivando o pequeno agricultor e trazendo benefícios sociais e ecológicos às comunidades. Levanta a bandeira vegana ao não usar nenhum produto de origem animal em seu processo de produção. E é orgânica por abolir agrotóxicos no cultivo do algodão, o que reduz o impacto no solo e economiza recursos hídricos.
A estilista Flavia Aranha, que tem endereço na Vila Madalena, em São Paulo, também é adepta da cadeia de produção mais limpa para produzir uma moda clean e sustentável. Além de priorizar a matéria-prima nacional, o descarte de resíduos com o mínimo de impacto e o trabalho artesanal, ela não terceiriza nenhuma etapa da confecção e mantém uma relação direta e estreita com os envolvidos. Tanto é que dá cursos de tingimento natural em seu ateliê para os interessados em conhecer melhor o que veste.
“A nossa intenção com os cursos é possibilitar uma relação mais profunda com o que trabalhamos. Despertar no consumidor a consciência de como nossos produtos são feitos e possibilitar que ele próprio possa produzir suas roupas. No fim, além de ensinarmos técnicas de tingimento e estamparia utilizando corantes naturais vegetais – como cascas, flores, folhas e raízes -, buscamos inserir nossos alunos nesse universo da criação e produção de moda, gerando maior reflexão e independência”, explica a estilista.
Segundo ela, nós, consumidores, estamos na ponta da cadeia e temos papel fundamental nesta conscientização de como estamos usando os recursos naturais e humanos para produzir certos bens. “O cálculo é simples: consumir menos com mais qualidade, usando as peças por mais tempo, com mais cuidado e carinho”, diz Flávia Aranha.
E, para fechar o look completo em paz com a natureza, que tal um sapato vegano? A marca Ahimsa foi aberta há três anos, em Franca, no interior de São Paulo. Com os pedidos crescendo a cada dia, eles usam métodos sustentáveis desde a concepção do produto até a chegada à loja. Os processos produtivos, a embalagem e até a seleção dos métodos de envio têm como regra o cuidado com o meio ambiente e o respeito social. Os sapatos são feitos com algodão, solado de borracha reciclado e fios de garrafa pet reciclada.
Segundo Gabriel Silva, um dos fundadores, o mercado vegano tem crescido bastante no Brasil, mas até que a produção responsável seja considerada “normal” por todos, o valor do produto diante dos consumidores ainda é uma questão delicada. Não agredir as pessoas e a natureza e questionar os hábitos de consumo ainda não é regra por aqui.
“Como explicar para um cliente que o produto adquirido de uma marca ética e sustentável é melhor como um todo para ele? Cada um faz de um jeito. Nós produzimos em nossa própria fábrica e, como temos o controle da mão de obra, dos materiais e dos processos, conseguimos explorar toda a cadeia em nosso benefício. Então, procuramos ser transparentes e mostrar que a produção ética é melhor para os trabalhadores e automaticamente melhor para o cliente também, já que estará recebendo um produto “exclusivo”, feito com carinho e com respeito”, conta.