É muito provável que, hoje, o Youtube seja a plataforma mais atraente para jovens comunicadores que buscam, de alguma forma, fazer um relativo sucesso e se sustentar falando diretamente com o público sobre os mais diversos assuntos. Alguns canais são segmentados, sendo que a maioria deles fala de games e beleza. Outros tratam de tudo, com bastante bom humor e carisma.
Jout Jout Prazer e Kéfera são dois exemplos fortes de youtubers que deram certo. A primeira, uma jovem jornalista carioca, tem mais de 900 mil inscritos em seu canal. É protagonista de praticamente todas as campanhas de divulgação do Youtube. Está em programas de TV, nas revistas, em talk shows, rádio, eventos de música, moda, discussão.
A segunda vai ainda mais longe. Oito milhões de inscritos, viagens, ensaios para revistas, entrevistas, convites para VIP em festas e até lançamento de livro. Um glamour digno de ex-BBBs e atores de novelas globais.
Mas nem todos têm essa sorte. Pelo contrário, para chegar neste degrau, é preciso um pouco mais do que talento e sorte: há um padrão a se respeitar.
Entre todos os 20 principais youtubers do Brasil, há algo em comum: são todos brancos. Não há youtubers negros em qualquer campanha da empresa nas grandes cidades brasileiras, nem que tenha sido convidado para programas de TV. Não que estejam em falta.
Ana Paula Xongani, Gabi Oliveira, Tati Sacramento e Mariana Villanova são quatro entre milhares que não conseguem divulgação ou patrocínio para transmitir suas ideias. “É a estrutura que acaba nos esmagando. Não acredito em um processo de racismo na plataforma, mas acho que ela podia ter uma atuação mais forte pra evitar esse racismo que é tão sistemático. De alguma forma, ela poderia ver quais são os assuntos dessa população e otimizar, e não utilizar como métrica principal os números. Porque se não vira um ciclo que nunca conseguiremos entrar”, explica Ana Paula. “Nós só precisamos de espaço, e não é um espaço privilegiado não, é o espaço que todo mundo tem. Nós somos tão boas quanto”, completa Tati Sacramento.
Com muitos pontos em comum, o Virgula convidou as quatro para contarem suas histórias e opiniões sobre esse universo desigual de youtubers. Como juntar todas aqui deixaria a matéria enorme, cada uma ganhou seu espaço próprio. Abaixo, você confere um breve resumo e um link para ler mais sobre elas.
Ana Paula Xongani: casada, mãe de uma filha de dois anos, artista, estilista de moda afro e youtuber nas horas não tão vagas
“Uma série de fatores fazem com que os negros não estejam nessa plataforma. A gente não consegue representatividade pela mesma lógica racista do mercado e da comunicação de modo geral, porque infelizmente ela tem os seus donos. Eu entendo o Youtube como um lugar de paixão, mas que só funciona para essas pessoas não negras porque existem uma lógica de mercado que sustenta elas a falarem do que elas querem falar. Ou seja, elas começam a falar por paixão, por amor, mas depois o mercado abraça essa ideia e elas começam a viver daquilo. Hoje elas vivem falando delas, mas ganham bem pra isso. E essa lógica não funciona com negras, e é um problema muito complexo, que é o problema do racismo na comunicação, na economia, o tal racismo institucional. O mercado não nos vê nem como consumidor, nem como objeto de comunicação”. Leia mais aqui.
Gabi Oliveira: relações públicas, 24 anos, dona do canal DePretas e de um bom humor único
“A minha popularidade, se comparada com youtubers brancas, é baixa. Se comparadas com negras, não. Eu tenho 20 mil inscritos e essa população, para canais negros, é um crescimento grande. E tem gente que está aí há uns três anos e não consegue crescer. Aqui no Brasil temos uma coisa muito complexa, porque quando são meninas brancas falando de maquiagem, a gente acha que é para o público geral. Ou seja, as adolescentes negras assistem meninas brancas fazendo maquiagem, mas as meninas brancas não assistem as negras, porque aquilo se torna algo específico para pele negra e aí complica tudo né (risos)”. Leia mais aqui.
Tati Sacramento: jornalista, soteropolitana, blogueira e uma youtuber que venceu a timidez para virar formadora de opinião
“Não é só falar de cabelo, boa forma, saúde e maquiagem, é o que existe por trás desse discurso, que é muito mais intenso e empoderado. É um discurso de muito empoderamento. É como falar de feminismo, por exemplo. Existe o problema da mulher branca, que é também vítima dessa sociedade machista, mas se você discute feminismo negro é ainda muito pior, então não tem como discutir na mesma seara, infelizmente. A gente tem que apoiar a questão da mulher, independente de ser negra ou branca, mas gostaríamos que a sociedade entendesse que a mulher negra perde muito mais que a mulher branca, tem muito mais desvantagens”. Leia mais aqui.
Mariana Villanova: carioca e youtuber como profissão. Afinal, ter uma carreira literalmente internacional é para poucos
“As youtubers negras entraram no Youtube um pouco mais tarde, as meninas negras não tinham um assunto principal para falar. Depois que surgiu essa questão da identidade, a negra começou a falar de si sem vergonha e começaram a aparecer pessoas querendo falar do assunto. E após isso surgiu muita gente falando sobre outros assuntos, e a comunidade negra começou a falar de maquiagem, livros, filmes e todos os assuntos que tinha público para assistir”. Leia mais aqui.