Você recebeu uma solicitação de amizade. É seu pai, o mais novo usuário do Facebook, que quer ser seu amigo virtual. Essa situação tem sido frequente em muitas famílias que resolveram se render à tecnologia.
Desde que a febre das mídias sociais começou, os pais dos jovens que ajudaram a bombar essas redes, se interessaram em fazer parte do mundo virtual.
Nessa fase de adaptação à mídia social, os pais recorrem aos filhos, que os ensinam a usar as ferramentas. “Meu pai não sabe fazer algumas coisas, como achar alguém pelo e-mail, aí ele me liga e pede pra eu fazer”, conta a estudante Marília Dolce, que teve que aprender a tomar cuidado com a exposição do Facebook. “Neste ultimo carnaval, eu pedi para uma amiga não me marcar em algumas fotos pra não ter perigo deles verem. Quando são as fotos do meu álbum, eu sempre escolho as que eu sei que não vão me comprometer muito”, contou.
No entanto, nem sempre a estudante consegue controlar tudo que é publicado sobre ela. “Quando escapa alguma coisa, meu pai vem comentar, dá risada e eu desconverso. Mas meus amigos colaboram bastante também”, explica.
Já a estudante de Direito Monise Carlomagno não se preocupa com o que é publicado sobre ela no site, por ter um relacionamento bem aberto com sua mãe. “Minha mãe sabe bem dos meus podres, não preciso apagar fotos, bloquear comentários. Ainda bem”, explicou.
A relação de Monise com a mãe modernizou. Às vezes, rolam até broncas online. “Minha mãe comenta milhões de coisas desnecessárias e tenta diversas vezes dar lições de moral em pleno Facebook. Isso irrita demais”, se diverte a estudante.
Mãe, menos, por favor
Enquanto alguns jovens se preocupam em não se expor demais, outros se sentem envergonhados com a exposição dos pais. “Eu já passei vergonha por causa da minha mãe. Não é uma coisa muito comum, mas minha mãe tem a insuportável mania de conversar indiscriminadamente com todos os meus amigos e os amigos da minha irmã. E, vez ou outra, ela escreve alguma coisa vergonhosa. Aí eu costumo dar uns toques pra ela”, contou Marília Pacios. Mas, para a gestora pública, a rede social é um ponto positivo no relacionamento dela com a mãe. “O Facebook me aproxima da minha mãe, é mais um assunto em comum”.
Público e privado
A psicóloga Daniela Pinotti Maluf explica que essa transformação nas relações, com as redes sociais e a comunicação virtual, é um assunto muito novo. “As redes sociais trouxeram a tona um tema que já foi discutido de muitas maneiras, mas talvez nunca tenha sido tão importante refletir sobre o que é publico e o que é privado em nossa vida”, explica.
Segundo a psicóloga, o jovem deve saber que esse modo de vida requer responsabilidade. Não adianta publicar, por exemplo, que ficou com cinco garotos na balada, e achar que isso não vai gerar comentários maliciosos. “Com relação à exposição aos pais é a mesma coisa. Se o filho falou que ia dormir na casa de Fulano e depois posta as fotos da balada no mesmo dia, ele sabe que vai poder ser pego pelos pais. Resta saber se ele consegue dar conta de assumir a mentira”.
O mesmo vale para os pais, que publicam fotos da família na internet, fotos dos filhos pequenos, sem consultá-los, o que pode desagradar os jovens. “Agora, se os pais postarem fotos pessoais que não agradam aos filhos, como por exemplo, o pai e a mãe se beijando, eles devem aprender a conviver com isso. Eles não poderão ditar o que os pais fazem nas redes sociais, do mesmo modo que não gostam quando os pais fazem isso como eles”, complementou a psicóloga.
Daniela também explica que alguns pais utilizam as redes sociais para se aproximar dos filhos, descobrindo as músicas que eles escutam e se interessando pelos gostos dos filhos. Outros veem nas redes sociais a chance de “roubar o diário” dos filhos, e descobrir coisas que lhes desagradam. Por isso, fica a dica aos jovens e aos pais: usem e abusem do bom senso e não exagerem no que estão compartilhando na rede.
“O excesso de exposição da vida privada permanecerá sendo um problema, tem coisas que devemos deixar só com a gente ou com pessoas muito bem escolhidas. E infelizmente as pessoas que tiverem pais muito rígidos e controladores terão que tomar mais cuidado, pois os meios virtuais são públicos e os pais também tem acesso a eles”, alerta a psicóloga.