Na contramão de ativistas e organizações sem fins lucrativos, um grupo de cidadãos europeus atua para acabar com a chegada de refugiados na Europa. A operação Defend Europe, da Génération Identitaire (Geração Identitária), usa a bandeira de “combate ao tráfico humano” para banir a chegada de barcos vindos de países em situação de emergência. Mas a solução apresentada para o problema está longe de ser humanitária. Segundo a organização, os refugiados devem ser transportados de volta aos países de origem, estejam eles em guerra ou não.
“Todos os imigrantes ilegais devem ser levados de volta à África”, segundo objetivo da missão Defend Europe. “Cerca de 40% dos habitantes de países mais pobres gostariam de viver na Europa. Se a Europa abre as fronteiras, todas essas pessoas se mudam para cá. No entanto, a infraestrutura europeia iria colapsar”, explicam os representantes do movimento sobre o motivo para as autoridades europeias serem firmes em relação à imigração.
A linha de raciocínio da Génération Identitaire desperta relação de amor e ódio entre europeus, imigrantes e ativistas no continente. Com mais de 40 mil seguidores no Facebook, a página da operação Defend Europe recebe mensagens de apoio para proteção à cultura, à economia e à segurança da Europa. Por outro lado, a organização é tratada na imprensa e entre ativistas como grupo nacionalista, extremista e xenófobo, e questionada sobre a imagem heroica vendida que contradiz a ideia de mandar pessoas de volta a um cenário de guerra.
A ideia de milhares de mortes e caos na Líbia e na Síria parece não ter apelo a uma parte dos europeus quando a questão envolve receber estrangeiros em casa. O jornal italiano La Stampa divulgou que 66% da população na Itália é contra a imigração em massa e quer proteção das fronteiras europeias a “países de terceiro mundo”. A campanha “No Way, you will not make Europe home” (Sem chance, você não fará da Europa seu novo lar) publicada na página do Facebook da Defend Europe teve mais de 150 mil compartilhamentos.
Vigilantes do Mediterrâneo
Milhares de pessoas morreram nas travessias de países africanos ao continente europeu nas últimas décadas. Segundo a Organização Internacional para Migração (OIM), 60.521 imigrantes e refugiados atravessaram o Mar Mediterrâneo rumo à Europa e 1.530 morreram no caminho. Em 2016, cerca de 194 mil fizeram a travessia e 1.398 faleceram. A maioria dos imigrantes sobreviventes desembarcou na Itália.
Segundo a Génération Identitaire, ONGs operam 40% desses transportes como “táxis” entre a costa da Líbia e a da Itália. Controlar os barcos é a principal medida prática da missão Defend Europe. O grupo faz patrulha no Mar Mediterrâneo em busca de inibir a travessia de refugiados. Eles controlam e gravam comunicação de ONGs via rádio e conversas entre autoridades marítimas no Mediterrâneo. Em uma operação que ficou conhecida como “navio de ódio”, uma equipe passou cinco semanas no Mar Mediterrâneo no último ano.
O relatório anual de segurança pública na Itália apontou os novos movimentos extremistas como ameaça ao país e que eles “não devem ser subestimados”. O primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, declarou que o país não quer estar associado a organizações racistas “que não conseguem distinguir causas humanitárias e a necessidade de segurança nas fronteiras”. O “navio de ódio” navegou em território maltês durante a operação de cinco semanas em agosto de 2017.
Quem são eles?
O movimento Génération Identitaire foi fundado na França em 2012, contra a imigração em massa em países europeus. O movimento ganhou força no continente e chegou a países como Canadá e Estados Unidos. O movimento Defend Europe é comandado pelos austríacos Martin Sellner e Patrick Lenart, pelo francês Clement Galant e pelo italiano Lorenzo Fiato. Como uma organização jovem, a Génération Identitaire produz vídeos, memes e ferramentas nas redes sociais para difundir as ideias nacionalistas.
O Virgula entrou em contato com os representantes da Génération Identitaire, mas eles não quiseram se pronunciar sobre o assunto.