Racismo e violência política contra mulheres negras impulsionam criação de Rede de Proteção Digital (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

A crescente violência política digital no Brasil mostra que a maioria das vítimas é formada por mulheres negras cis, trans e travestis, LGBTQIA+, periféricas, defensoras de direitos humanos, parlamentares, candidatas e ativistas. Segundo a pesquisa realizada pelo Instituto Marielle Franco, 71% das ameaças envolveram morte ou estupro.

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No âmbito da comunicação, a violência também é alarmante. A organização Repórteres Sem Fronteiras registrou que 8 em cada 10 jornalistas mulheres negras sofreram ataques virtuais nos últimos três anos, com uma escalada desses abusos durante períodos eleitorais e de coberturas relacionadas aos direitos humanos.

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Com a polarização política e a aproximação do ano eleitoral, a Rede Jornalistas Pretos pela Diversidade na Comunicação (Rede JP), organização não-governamental dedicada a democratizar a comunicação  e promover a participação de jornalistas negros, acaba de lançar a Rede de Proteção Digital para Comunicadoras Negras (REPCONE), uma iniciativa inédita na América Latina que une formação em cibersegurança, acolhimento e apoio psicossocial e proteção jurídica para jornalistas e comunicadoras negras, indígenas e quilombolas na luta contra o racismo, sexismo e violência digital.

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O evento de lançamento online, realizado no dia 28 de agosto, reuniu jornalistas e defensoras de direitos humanos do Brasil, Peru e Argentina.  Na ocasião, Marcelle Chagas, coordenadora geral da Rede JP, Mozilla Fellow e idealizadora da REPCONE, destacou a importância do projeto como um ato de resistência. “A Rede de Proteção Digital é uma ferramenta para unir vozes,  atender uma demanda concreta e, agir, de forma estruturada, na luta pela democracia. Nosso objetivo é treinar, proteger e acolher as comunicadoras racializadas”.

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Lançamento

A coordenadora de projetos da Rede JP na América Latina e da Red de Periodistas Afrolatinos, Denise Mota, destacou a importância da rede para dar voz às mulheres negras e ressaltou que o racismo digital não é um problema apenas no Brasil. “Uma pesquisa do Fórum de Jornalismo Argentino revelou que 67% das jornalistas negras e racializadas já foram alvo de assédio digital, com ataques massivos via redes sociais após publicar matérias sobre questões raciais ou de gênero. Esta é uma realidade coordenada e que tem atingido mulheres em diversas partes do mundo”.

A jornalista e apresentadora de TV Luciana Barreto, eleita uma das Mulheres Inspiradoras pelo Think Olga, e nomeada na lista das 100 Pessoas Mais Influentes de Descendência Africana na categoria Mídia, relatou como  mulheres em lugares de poder têm sido vítimas de discursos de ódio e explicou que esses abusos estão relacionados a uma ideia de eliminação do corpo preto em determinados espaços e que está conectado com avanços de políticas sociais. “Tenho estudado esse tema durante anos e minha pesquisa revela que ao longo da história os marcos de melhorias para pessoas pretas através de políticas públicas, como a PEC das domésticas e constitucionalidade das cotas raciais, estão ligados ao aumento do discurso de ódio”.

A jornalista peruana e ativista antirracista, Sofia Carrillo, afirmou que a violência digital contra jornalistas negras não é neutra e defendeu a responsabilização para esse tipo de crime. Todavia, ela também ressaltou que a abordagem não pode ser apenas punitiva. “Precisamos investir na prevenção e transformação estrutural que envolve Mídias e Governos, Educação e Direitos Humanos”.

REPCONE

Para dar início ao projeto, 50 vagas foram abertas para comunicadoras de toda a América Latina para participar da rede que vai atuar em três eixos principais: formação em cibersegurança, capacitando comunicadoras para prevenir e mitigar riscos digitais; acolhimento e apoio psicossocial, oferecendo suporte emocional e comunitário para vítimas de violência online; e proteção jurídica, com orientação e defesa legal especializada em casos de ataques virtuais. Para isso, o projeto contará com especialistas convidados, muitos deles reconhecidos no jornalismo, na cibersegurança e na defesa dos direitos humanos, selecionados pela trajetória, credibilidade e alinhamento com os princípios da Rede.


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Racismo e violência política contra mulheres negras impulsionam criação de Rede de Proteção Digital