Ana Carolina Oliveira, coordenadora da NS Operações diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), e sua equipe no show da banda norte-americana Offspring, em São Paulo (Foto: Arquivo pessoal)

O Abril Azul foi estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de conscientizar a população sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), que abrange aproximadamente 1% da população mundial. Já o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) atinge entre 3% e 4%. Além disso, condições como a dislexia, que dificulta a leitura, escrita e o aprendizado, e a síndrome de Tourette, responsável por tiques motores e vocais, também são classificadas como neurodiversas ou neurodivergentes, pois apresentam características neurológicas diferentes das consideradas típicas.

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Essa parte da população enfrenta obstáculos para entrar no mercado de trabalho e avançar em suas carreiras. No entanto, as empresas começaram a reconhecer que a inclusão desse grupo é essencial e vantajosa para os negócios. Raquel Boletti, CEO da NS Operações, empresa que atua desde a gestão de acessos até a liderança de equipes e planejamento logístico, tem entre seus desafios a coordenação de profissionais em cargos que exigem funções repetitivas e suscetíveis ao erro. Um funcionário do espectro autista, que tenha características como hiperfoco, poderia desempenhá-las com melhores resultados de produtividade.

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“Nesses anos à frente da NS Operações, tenho diversas histórias fantásticas com funcionários neurodivergentes. Muitos deles me deram dicas ótimas e me auxiliaram em momentos difíceis, encontrando resolução para problemas complicadíssimos que eu não sabia mais como resolver. Trabalhar com um grande volume de pessoas nos acessos de um evento, por exemplo, exige muita atenção. Um profissional que tenha hiperfoco entre suas características consegue validar com mais assertividade diversos tipos de ingressos. Isso é apenas um exemplo simples, mas existem variadas situações”, conta a empresária.

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Atualmente, a NS Operações conta com 154 funcionários, sendo 22 com características neurodiversas como TDAH, dislexia, transtorno bipolar ou discalculia. Deste número, cinco foram diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Nossa principal função dentro da NS é descobrir o talento de cada um. Tem pessoas que são comunicativas, outras são tímidas. Algumas possuem mais facilidade com tecnologias e assim por diante. Prestamos muita atenção em como a maioria dos staff resolvem os problemas que surgem, ou como eles respondem as dúvidas do público e isso chama muito nossa atenção na hora de delegar as funções”, conta a diretora de Comunicação Tuany Marafante.

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Além das cotas de inclusão previstas pela Lei 8213/91, que exige a contratação de pessoas com deficiência em empresas com mais de 100 funcionários, a contratação de colaboradores autistas é vista como uma ação humanitária, segundo os especialistas. “Ao contratar um profissional com TEA, os funcionários que têm familiares com a mesma condição passam a enxergar o mercado de trabalho de outra forma. Eles começam a acreditar em um futuro melhor”, explica a gestora de Operações Catharine Benício.

Jade Domingos, de 26 anos, conta que se sentia “acuada” por revelar o diagnóstico na entrevista e ser desclassificada antes mesmo de mostrar suas competências por conta do preconceito e da desinformação sobre o TEA. Em 2023 conseguiu uma oportunidade na NS Operações, onde trabalha como coordenadora. Ela se junta a um número crescente de pessoas autistas contratadas em empresas de diversos segmentos que buscam diversificar seus quadros. O movimento é acompanhado por adaptações no ambiente corporativo, que variam desde a implementação de intervalos no expediente até a permissão para que cães de assistência a autistas permaneçam no escritório.

“Comecei como staff de controle de acesso em um festival de música eletrônica, o Privilège Festival. Um mês depois, a NS reconheceu meu trabalho e me convidou a coordenar um dos maiores projetos da empresa, o Mundo Pixar. Geralmente as pessoas enxergam autistas como pessoas incapazes, infantilizadas e frágeis. Aqui, além de cuidar do bem estar da equipe e do bom funcionamento da operação, eu amadureci como profissional, tanto em questão de postura quanto de habilidades. Aprendi a falar melhor em público, a delegar funções de forma inteligente e me tornei uma pessoa muito mais organizada e ágil”, conta Jade.

Jade Domingos (de cabelo rosa), diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), em foto com a equipe que coordenou no evento Mundo Pixar (Foto: Arquivo pessoal)

Recém-diagnosticada com TEA, Ana Carolina Oliveira, de 28 anos, é mais uma funcionária da NS Operações que encontrou acolhimento dentro da empresa que trabalha há três anos. “Fico no auxílio da coordenação, onde organizo equipe, realizo o gerenciamento dos equipamentos utilizados pela equipe na operação, a manutenção das atividades efetuadas pelo time, entre outras coisas. Da mesma forma que prezo pelo bem estar de todos, sinto este mesmo cuidado das pessoas comigo. Sempre tive todo suporte dos meus superiores”, revela.

Neurodiversidade no ambiente corporativo: como a psicologia contribui para a equidade

É importante entender que entre os neurodiversos há grandes diferenças. Enquanto alguém com TEA tende a se sair bem em atividades que exijam atenção, outra pessoa com TDAH sentiria enorme dificuldade. Também é preciso cuidado para não superestimar habilidades com base em estereótipos. Desde 2020, a NS Operações tem em seu quadro uma psicóloga que auxilia os gestores e colaboradores a lidar com os colegas de trabalho. Liliane Monay, de 60 anos, conta que já realizou algumas atividades sobre como absorver o melhor de cada funcionário, independente do tipo de transtorno que possua.

Liliane Monay é psicóloga, psicodramatista, certificada em Coaching e Inteligência Emocional e trabalha na NS Operações desde 2020 (Foto: Arquivo pessoal)

Para os profissionais neurodivergentes, especialmente aqueles com TDAH ou autismo, a organização e a gestão de tarefas podem ser um grande desafio, já que essas condições frequentemente afetam a concentração e a execução eficiente de tarefas detalhadas. Em um ambiente de trabalho voltado para eventos artísticos, que envolve tanto o atendimento ao público diversificado quanto a gestão de multitarefas e processos complexos, as especificidades dos desafios enfrentados por estes profissionais podem ser ainda mais desafiadoras, devido às demandas de criatividade, dinâmica e interação social constantes.

“Procuro compartilhar temas e treinamentos referentes a importância do trabalho em equipe, relacionamento interpessoal, liderança, feedback, flexibilidade, atendimento ao cliente, entre outros. Ainda são ofertados aos coordenadores da NS Operações, sessões individuais semanais de psicoterapia, visando manter o bem estar emocional, o autoconhecimento e o desenvolvimento de competências”, conta Liliane.

A prática da psicoterapia individual é uma ferramenta essencial, pois oferece um espaço para desenvolvimento de estratégias adaptativas, habilidades de enfrentamento, gerenciamento de estresse e ansiedade, e fortalecimento da comunicação interpessoal. Nesse contexto, o apoio terapêutico pode transformar estes desafios em pontos fortes, potencializando suas habilidades únicas e contribuindo para o sucesso tanto pessoal quanto profissional no dinâmico e exigente ambiente de eventos em que atuam.

“Na NS Operações, a preocupação em adotar práticas mais inclusivas e refletir sobre o papel que podem desempenhar na criação de ambientes de trabalho mais justos e acolhedores sempre esteve presente. A nossa CEO, Raquel Boletti, tem como valor a redução do preconceito e estigma em suas contratações, aceitando as pessoas neurodivergentes, promovendo diálogos abertos sobre o autismo e adaptando a distribuição de tarefas e desafios de acordo com as habilidades e talentos que as pessoas com TEA podem contribuir, promovendo um ambiente mais inclusivo e respeitoso”, revela a psicóloga.

O Abril Azul é uma iniciativa fundamental que proporciona igualdade de possibilidades. É uma campanha importante, pois tem como objetivo promover a conscientização sobre o TEA, além de incentivar a inclusão e o respeito à diversidade no ambiente de trabalho. “Eu criei a NS Operações como uma forma de dar oportunidade a todas as pessoas, independente de quem elas sejam. No início da minha carreira, ninguém queria me contratar por motivos esdrúxulos. Seja pela cor de cabelo ou  tatuagens. Já perdi trabalhos por ter feito muitas perguntas ao contratante”, explica Raquel Boletti.

Para a CEO, é essencial colocar as pessoas certas nas funções certas, aproveitando seus talentos. “Conheci pessoas talentosas, mas subvalorizadas, como um porteiro poliglota e um faxineiro chef de cozinha, ambos com expertises desperdiçadas. E dentro do meu conceito de diversidade, eu penso que pessoas neurodiversas não precisam ser curadas, e sim empreendidas e integradas. Empresas, organizações e a sociedade tornam-se cada vez melhores quando incluem pessoas com capacidades diferentes. A diversidade não só aumenta o envolvimento com clientes e funcionários, como ajuda a impulsionar o sucesso dos negócios neste mundo em constante mudança”.

Quem é Raquel Boletti?

Raquel Boletti, CEO da NS Operações (Foto: Tomás Senna)

Natural de São Paulo, Raquel Boletti é uma empreendedora que combina inovação, visão estratégica e uma paixão inabalável pelo mercado de entretenimento. Sob sua liderança, a NS Operações não apenas cresceu em números, mas também se destacou pela capacidade de executar projetos complexos com excelência.

“Meu objetivo sempre foi transformar a maneira como os eventos são realizados no Brasil. Queremos não apenas atender às expectativas, mas superá-las, conectando pessoas e criando experiências inesquecíveis”, afirma Raquel.

Impacto além dos números

Além dos números impressionantes, a NS Operações se destaca por valorizar os profissionais que fazem os eventos acontecerem. Com mais de 1.200 freelancers mobilizados por ano, a empresa contribui diretamente para o mercado de trabalho, promovendo oportunidades em um setor em constante crescimento.

De festivais internacionais a produções culturais locais como Lollapalooza, Tomorrowland, Só Track Boa e Mundo Pixar, Raquel Boletti e a NS Operações são provas de que o Brasil está no mapa global dos grandes eventos – e com uma qualidade que só tende a crescer. Seja no palco de um festival ou no camarim de uma turnê internacional, é certo que a marca de Raquel estará presente, garantindo que cada detalhe seja impecável.

“Sabemos que o mercado ainda precisa evoluir muito quando falamos de profissionais neurodiversos, de equidade de gênero, mas estamos fazendo a nossa parte ao criar um ambiente de trabalho que realmente valorize e contemple a diversidade, de uma maneira geral. Os resultados da empresa, de uma forma geral, têm sido cada vez melhores”.


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Profissionais com autismo ganham espaço e empresas mudam rotina para promover inclusão