Ele foi pioneiro ao abrir, há 18 anos, um sex shop na China, mas apesar dos grandes obstáculos que precisou superar para completar seu sonho, Wen Jingfeng, de 53 anos, vê com modéstia seu trabalho, garantindo em entrevista à Agência Efe que não se considera um herói.

Ao lembrar e relembrar os dias anteriores à abertura do estabelecimento, motivo de grande polêmica em 1993, Wen garantiu que a mentalidade chinesa da época não tinha nada a ver com a atual. “Naquela época a mentalidade era muito mais conservadora. Se olharmos as notícias que foram publicadas, podemos ver a realidade de um país muito fechado. Quando abrimos recebemos muitos meios de comunicação e curiosos por vários dias”, apontou Wen.

A abertura do “Centro de Saúde Adão e Eva”, que significou a derrota dos tabus que impediam os chineses de falar e até pensar na possibilidade de usar produtos sexuais, respondeu ao espírito de reforma que o gigante asiático iniciou em 1978, que até liberou um pouco mais os termos amorosos em seu idioma.

Segundo Wen, o apoio do Governo foi “crucial” para poder abrir o local, já que, sem essa ajuda “nunca teria conseguido dar um passo tão importante”.

 A China tradicional, que não costumava falar de sexo, recebeu seu primeiro “sex shop” com bastante curiosidade, mas também com críticas e desqualificações que chegaram a tachar o local de “loja pornográfica, para prostitutas e doentes mentais”.

Para Wen Jingfeng não foi só difícil conseguir alugar um local para abrir sua loja, mas também precisou esperar várias semanas para que seus produtos fossem corretamente classificados dentro da categoria de saúde e para que o primeiro cliente procurasse a loja.

Hoje são milhares os “sex shops” na China. No entanto, como bem explica o especialista em sexologia Ma Xiaonian, a mentalidade chinesa com relação ao sexo ainda não amadureceu e as pessoas continuam pensando que muitos dos problemas matrimoniais que surgem por insatisfação sexual são causados pela falta de amor.

A este respeito, Wen também se referiu, garantindo que seus artigos podem “ajudar em grande medida os casais” e terminar com “problemas conjugais quanto às relações sexuais”.

Segundo o médico Ma, as mulheres são as que, em geral, mais precisam utilizar os produtos sexuais, já que os homens “são mais criativos e têm maior capacidade de se satisfazer sexualmente”.

As mulheres, portanto, são as que deveriam comparecer mais ao “sex shop”, mas a timidez e a falta de conhecimento impedem que isso aconteça, assinala Ma.

No caso dos homens, assinala, o principal problema é a tendência de não usar preservativos (para ter uma melhor sensação na hora das relações), uma das principais razões pelas quais o percentual de pacientes com aids contaminados por via sexual aumentou na China.

Além disso, Ma declarou à Efe que a falta de educação sexual nos estudantes de ensino médio é algo que deveria melhorar se o Governo chinês quer alcançar harmonia na sociedade.

Harmonia que começa, segundo ele, na família e nas relações conjugais, cujo equilíbrio, muitas vezes, “se consegue manter graças ao apoio dos produtos sexuais”.

Sobre a importância da educação e o futuro o dono do “Centro de Saúde Adão e Eva” também falou, afirmando que, hoje em dia, “o mercado é melhor do que antigamente, já que existe mais oferta e qualidade”, ao mesmo tempo em que almeja que em breve “todos vejam o sexo como algo normal”.


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Pioneiro dos sex shops na China comemora 18 anos de seu projeto