Antonio Peticov é um multi-artista ( pintor, desenhista, escultor e gravurista ) nascido em Assis, interior de São Paulo. No entanto, o reconhecimento de seu trabalho versátil o tornou cidadão do mundo. Peticov já fez exposições em grandes galerias de arte da Europa, Japão, Estados Unidos e Brasil.
Considerado o “Chacrinha” dos pincéis por combinar várias tendências de arte contemporânea, ele diz que gosta mesmo de aproximar sua arte do povo e do mundo rock’n’roll para democratizar suas criações. “Eu procurei fazer capas de discos, capas de livros e cartões postais para que as pessoas tivessem acesso para a minha arte, independente de ir em uma galeria ou não”.
Você pode ter “esbarrado” sem saber na obra de Peticov nos metrôs de São Paulo, em galerias de arte no mundo todo ou em capas de álbuns clássicos dos Mutantes (grupo que ajudou a fundar com Rita Lee e Arnaldo Baptista), O Terço e muitos outros.
Em um papo exclusivo com o Virgula, o artista fala sobre a polêmica do “Cidade Linda“, projeto da Prefeitura de São Paulo que apagou grafites da cidade, como o acesso a arte e educação pode modificar o cenário urbano e suas aventuras de artista pop que vão desde a participação no programa MasterChef a grafitar com o guitarrista dos Rolling Stones.
A sua obra é reconhecida pelo uso de muitas cores e interações no cenário urbano. O que você achou do programa “Cidade Linda” ter apagado grafites?
Há grafites incríveis, mas eu abomino pichação. Nessa região onde moro, a pichação destruiu a beleza. Então eu acho o seguinte, uma das características do grafite é a impermanência e eles podem voltar com outros grafites. Os grafiteiros sabem que suas obras dependem, inclusive, do respeito de outros grafiteiros e de pichadores. Eu estou cansando de ver gangue de pichação babaca estragando grafites excelentes. Eu acredito que esse prefeito está deixando tudo cinza para recomeçar. Tem que tirar essa m*#& de pichação mesmo e respeitar o grafite. Esses pichadores deveriam ser obrigados a limpar essa m#$& usando escova de dente.
Como foi o dia de grafite com Ron Wood (guitarrista do Rolling Stones) no Beco do Batman (SP)?
Eu sou um filho do rock ‘n’roll e a amizade com o Ron acaba sendo uma troca entre artistas. Os ingleses têm uma educação ótima e esse é um dos segredos da “empresa Rolling Stones” durar por tanto tempo. O Mick Jagger estudou na London School of Economics, por exemplo. O Ron Wood estudou arte no Ealing Colleg de Londres e continua produzindo mesmo quando está com a banda. Todo lugar onde os Rolling Stones se hospedam já tem um mini estúdio preparado para o Ron. Quando ele veio em São Paulo ano passado fomos no Beco do Batman junto do Ivald Granato e o Flavio Rossi porque ali a gente tem uma síntese do nosso grafite. Aí o Ron aproveitou para grafitar um dos muros com o famoso logo da banda.
Você faz obras democráticos que vão de escultura em metrô ao projeto de plantio de árvores com as cores do arco-íris ao longo do Rio Pinheiros. A arte democrática é uma busca no seu trabalho?
Sim. Para ter uma ideia, quando eu era adolescente montei uma banda que se tornou Os Mutantes porque queria estar junto de toda aquela movimentação cultural dos anos 60/70. Eu procurei fazer capas de discos, capas de livros e cartões postais para que as pessoas tivessem acesso para a minha arte, independente de ir em uma galeria ou não. Vamos combinar que não é fácil. Menos da metade das pessoas já foi a um museu no Brasil.
Conta sobre o projeto de plantio de árvores com as cores do arco-íris em São Paulo
Em 1989 eu passei de carro na Marginal Pinheiros e vi aquele horror com péssimo cheiro e pensei em colocar umas árvores com as cores do arco-íris. Montei um projeto e apresentei na Bienal de 1990. Não havia um departamento de botânica adequado para tirar o projeto do papel na época. Mudou o governo e esqueceram. Até hoje é o projeto que mais me perguntam.
O seu ex-assistente Vik Muniz (artista retratado no documentário “Lixo Extraordinário“) e o pernambucano Romero Britto trabalham com a arte como “criação em série” e ganharam fama internacional. Você não gosta de criação em série?
As pessoas precisam diferenciar arte e mercado da arte. Os galeristas que gastam milhões naquela lavagem de dinheiro querem artistas que tenham um produto. Se o cara vem comprar o produto do artista X, mas não tem acesso ao artista X, compra algo parecido. Eu não faço produto, faço arte variada guiada pela minha intuição. Eu acho que artista devia ser o profissional mais livre do mundo, mas o mercado obriga a entrar em um giro de grana. O Romero Britto tem 2.500 licenças. Se eu tiver 20, tá bom. Mas precisa ser com qualidade
O que você achou da participação no MasterChef?
Foi bom para encontrar colegas artistas plásticos. Ainda somos desunidos, talvez por falta de oportunidades para encontros. Agora, esse negócio do MasterChef é uma bobagem (risos). Os participantes foram ao Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo ( MAC) com a missão de fazer comida parecida com obra de arte em cima de uma mesa sem prato para simular uma tela. Uma bobagem.
O que você diria para um jovem de 15 anos que sonha viver de arte no Brasil?
Pense 3 vezes. Sem tesão não há solução. Você acredita que isso é a sua vida? Então se jogue. Vai dar prazer e você nunca será uma pessoa frustrada. Mas estude muito e trabalhe, trabalhe, trabalhe…
Casa-ateliê de Antonio Peticov
Créditos: Gabriel Quintão