Embora seja uma das maiores torcidas da novela “Terra e Paixão”, o casal Ramiro e Kelvin também já levantou uma série de questionamentos do público acerca da abordagem do autor Walcyr Carrasco.
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Vivido pelo ator Amaury Lorenzo, Ramiro era um vilão assassino e teria de passar por um processo de redenção de si mesmo caso o amor entre os dois emplacasse. Com inúmeras camadas, a relação, apesar de complexa, está funcionando e ganhando cada vez mais admiradores.
Para a psicanalista Fabiana Guntovitch, o assunto vai muito além da simples “transformação” de Ramiro por um romance: a vida do personagem nos convida a repensar as questões de gênero e de afeto. “O estereótipo do capanga é fundamentado na antiga certeza social de que os machos alfa, ou melhor, os machões, não tem sentimentos e não choram. São fortes, indestrutíveis, bravos, impiedosos e, se eu for ainda mais longe, não somente se relacionam com mulheres, mas, possivelmente, com mais de uma”, diz. “O que não percebemos quando falamos de estereótipos é que misturamos questões que, hoje, na psicologia, entendemos como possibilidades separadas, e não mais engessadas dentro de uma única caixinha”, completa ela.
Ramiro estreou na história como um capanga que faz diversas maldades a mando de seus patrões. De início, o ator Amaury Lorenzo trouxe toda a carga necessária ao personagem, o apresentando como alguém bronco, xucro e rude. Aos poucos, diante da possibilidade de um romance com Kelvin, interpretado pelo ator Diego Martins, o capanga foi “amolecendo” e ganhando ações mais humanas. “Precisamos separar duas vertentes de ser humano que, no senso comum, acabam se misturando. Uma fala sobre a identidade, ou seja, quem a pessoa é, e a outra fala sobre o objeto de desejo desta pessoa. No caso da história de Walcir Carrasco, temos o Kelvin desempenhando este papel para o Ramiro”, explica Fabi, que define ainda a postura apresentada pelo capanga. “Precisamos parar de confundir identidade, que significa quem somos ou como nos vemos, com sexualidade, que significa o nosso objeto de desejo”, pontua.
Através da relação com Kelvin, Ramiro foi aprendendo a lidar com seu passado e a aceitar a si mesmo, mostrando que ser um homem forte não significa invalidar os próprios sentimentos. “Ser humano é ser livre para ser e se expressar da maneira como fizer sentido para si mesmo e não para a sociedade em que ela se insere. Abrir a cabeça nos dias de hoje talvez signifique parar de tentar caber em caixinhas pré-determinadas e encontrar a liberdade de ser quem se é, de desejar quem quer que seja, livre dos estereótipos e das angústias que eles nos trazem”, reflete a psicanalista.
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