Oi, eu sou Renata. Sou jornalista, apresentadora, caminhadora. Vivo passeando por aí, atrás de pessoas e lugares que me ajudem a mapear o que o mundo anda produzindo de interessante. Convido você pra seguir nessa comigo. Partiu Rolezinho. Pra minha estreia neste pedaço conto como foi assistir a um show de artista novo muito legal no topo de um dos edifícios mais emblemáticos de São Paulo.

A porta de entrada do Edifício Martinelli, no centro de SP estava fechada. Os ingressos para o concerto do pianista pernambucano Vitor Araújo na varanda do prédio, esgotados. As entradas haviam sido distribuídas gratuitamente como parte do Mês da Cultura Independente em SP – e tinha gente desde as duas da tarde esperando uma chance de ouvir o talentoso músico nesse que é um dos primeiros edifícios da cidade.

Construir um edifício de mais de vinte andares em 1928 era uma ousadia tamanha que, quando a obra ficou pronta, ninguém quis morar nela. O tal sr. Martinelli não teve dúvidas, montou no alto sua agradável residência pra esfregar na cara dazynimiga que o lugar era seguro sim.  Do luxo ao lixo, de assassinatos a fantasmas, o tempo passou, e o Martinelli foi redescoberto.

Vítor é o nosso Julian Casablancas disfarçado de Bach. Pianista que fica em pé em cima do instrumento, usa pedal de efeitos, All Star furado, franja na cara. Vitor tem talento e paciência. Começou a tocar com 9 anos, virou “artista” aos 18 anos e hoje, aos 26, trabalha tanto no erudito quanto no pop.  Uma de suas músicas está na trilha do filme Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert.

Acostumado a tocar no teatro, ele arriscou um ou outro olhar para longe do instrumento em direção à cidade, que ele acha linda, para desespero dos amigos cariocas e pernambucanos.

Balcão

O show acabou, a luz caiu. Conversamos sobre o novo disco, que sai ano que vem, o primeiro que ele assina como orquestrador. Está cansado. A produção, alguns B.O.s da vida. O piano permanece na varanda, as cadeiras da plateia foram retiradas.

Vítor volta para a banqueta. Encosta o copo de plástico com vinho ao lado do piano e começa a tocar. E toca por mais uma hora pra gente, pra cidade, pra ele. O carregador chega para retirar o piano, ouve o som e abandona as cordas no chão.

A noite

Ali, naquele lugar nada ideal pro som se dissipar, Vitor ficou tocando e ouvindo os martelos do piano nas cordas até a hora em que o produtor chegou e disse, “precisamos descer”. Só aí ele parou. Nós aplaudimos. O comendador também.

Encerramento

PRA FAZER O SEU ROLÊ

O projeto Música nas Alturas, no edifício Martinelli, tem mais duas edições nos dias 26 e 30 de setembro, fechando o mês da cultura independente em SP. Os ingressos são gratuitos e a programação você encontra aqui. E para visitar o edifício Martinelli, agendar aqui.

Vitor Araújo


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Na coluna Rolezinho, Renata Simões conta como foi ouvir um pianista arrebentando no topo do Edifício Martinelli

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