Dezenas de mulheres iranianas postam em uma página do Facebook fotos suas ao ar livre sem o véu islâmico, obrigatório no país. O ato faz parte de uma campanha em que exigem liberdade para escolher o que usam.
Traduzido do farsi, a página se chama “Liberdade furtiva às mulheres no Irã”, com o slogan “Desfrute do vento em seu cabelo”, afirmando, em seguida, que não está filiada a grupos políticos. Somente nos primeiros quatro dias, a página recebeu mais de 30 mil “curtidas” e é objeto de milhares de conversas na rede social.
“A iniciativa reflete as preocupações das mulheres iranianas que enfrentam restrições legais e sociais”, diz a apresentação da página.
“Todas as fotos e legendas postadas foram enviadas por mulheres de todo o Irã e este é um site dedicado às mulheres iranianas no interior do país que querem compartilhar suas selfies ‘furtivas’ sem o véu”, segue a apresentação, que convida às mulheres a enviarem fotos, mas pede cautela.
Nas imagens, algumas posam de óculos escuros ou em posições em que não seja possível ser reconhecida, mas muitas também aparecem de frente e tiram o véu em lugares públicos claramente iranianos para mostrar e divulgar esse instante de liberdade.
A página foi criada pela jornalista e escritora iraniana Masih Alinejad, exilada em Londres e conhecida crítica do regime iraniano.
Até agora, a maioria dos comentários é positivo. Neles, as mulheres destacam a pequena felicidade que representa deixar o vento acariciar o cabelo. “Que lindo que seu cabelo possa dançar no ar”, diz uma jovem. A maioria dos homens que comentam também apoia. Os que não o fazem recebem reprimendas.
Diante de um comentário masculino que afirma que tirar o véu não significa liberdade, uma chuva de críticas sugere que se ponha no lugar das mulheres e suporte ter a cabeça coberta quando chove, no calor, praticando esporte e, inclusive, tomando banho de mar com sua própria família.
“O véu não é muito importante. O importante é que estou me afogando, não posso falar, quero liberdade de expressão neste país”, se queixa uma jovem.
Uma mulher mais velha comemora ao ver as imagens de mulheres com o cabelo solto, e diz esperançosa: “Que isso possa ser o começo de uma época de liberdade que minha filha possa desfrutar”.
“Espero que os homens aguentem”, declara um garoto, ao que uma mulher responde rapidamente perguntando se “Por acaso os homens iranianos são tão frágeis que não podem aguentar ver o cabelo de uma mulher?” e alfineta: “É bom irem se acostumando aos poucos”.
A abertura da página no Facebook, rede social que é vetada no Irã, mas que milhões de iranianos acessam a partir de programas, coincide com o aumento das reivindicações dos grupos mais radicais para que a vestimenta islâmica seja respeitada.
A cada ano, no início da primavera, muitas mulheres, principalmente as mais jovens, relaxam na interpretação do rigoroso código estético imposto pela lei e cortam a manga das roupas ou vestem peças mais soltas e ligeiramente transparentes, o que deixa os mais religiosos indignados.
Nesta semana, centenas de pessoas se manifestaram perante o Ministério do Interior exigindo mais medidas para que a lei islâmica seja respeitada, com a maioria das participantes mulheres cobertas da cabeça aos pés com o tradicional chador preto. Rapidamente, a página do Facebook recebeu críticas dos setores mais conservadores.
A agência de notícias “Fars” publicou recentemente um artigo no qual tachava Masih Alinejad de “antirrevolucionária que escapou com ajuda dos britânicos e colabora com a imprensa anti-iraniana”. O artigo também dizia que a página convoca às mulheres “a tirar o hijab no Irã” a fim de “fomentar a cultura de não respeitar nada”.